Domingo 08/06/2025 22:57

Economista Pedrossian Neto aponta três setores que dobrariam o PIB do Estado

Estado - Ponto de Vista - Entrevista com Pedrossian

Foto: Deurico

O economista Pedro Pedrossian Neto, de 32 anos, é filho de Pedro Paulo Pedrossian, está casado e tem uma menina de três anos. Voltou há um ano e meio para Campo Grande da cidade de São Paulo, onde morou desde os 15 anos.

Formou-se na Pontifícia Universidade Católica na capital paulista, onde fez mestrado e é professor licenciado, para quem trabalha desde 2007. Atualmente ligado aos negócios da família, ainda é sócio de uma consultoria junto com o ex-ministro Roberto Gianneti da Fonseca (Comércio Exterior), do governo Fernando Henrique Cardoso.

Para tanto, em sua carreira chegou a coordenar a área internacional da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), quando trabalhou por seis anos: “comecei de baixo, carreguei o ‘piano’”.

Com o esforço, participou de reuniões com diplomatas do Itamaraty e viajou pela federação para representá-la em encontros do Mercado Comum do Sul (Mercosul), da antiga Área de Livre Comércio das Américas (Alca), da Organização Mundial do Comércio e até na Rodada Doha — da própria OMC —, chegando a viajar também para a África, Índia e diversos países da União Europeia.

Tal qual o avô, Pedrossian Neto volta a Mato Grosso do Sul com ideias envolventes, que capacitariam o Estado para um desenvolvimento incomum, lembrando o ex-governador que ergueu distintas obras que chamaram a atenção do País para nossa região. Confira a seguir a entrevista concedida com exclusividade à reportagem do Capital News no dia 11 de outubro.

Capital News – Quais projetos você tem em Mato Grosso do Sul?

Pedrossian Neto – Em Miranda, município mais antigo de Mato Grosso do Sul, estamos fazendo um loteamento com um pequeno condomínio. Miranda é um município absolutamente estagnado. Você pega a cidade de Chapadão do Sul, lá o PIB [Produto Interno Bruto] é de R$ 35 mil. Miranda ta lá abaixo, em R$ 8 mil, metade do PIB do Estado. Não tem lugar para formação escolar e profissional.

O sujeito que está com uma idade em que precisa trabalhar tem que sair da cidade. Fui à Brasília [DF] diversas vezes, falei com o MEC [Ministério da Educação], e hoje esse projeto é uma realidade, e estamos fazendo a doação da área. Será uma escola do ensino médio integrado ao técnico profissionalizante. A pessoa sai com formação em informática, gastronomia, línguas, etc... que é uma ferramenta que ele precisa para começar a vida profissional. Na Alemanha, para cada 40 técnicos você tem um engenheiro. No Brasil, para cada 40 engenheiros você tem um técnico.

Capital News – Na sua avaliação, precisaria formar mais técnicos em quais áreas?

Pedrossian Neto – A principal lacuna hoje do Brasil e de Mato Grosso do Sul é o ensino técnico profissionalizante. Teve uma expansão, de forma irresponsável, de universidades no País. Muitas pessoas que entraram nelas poderiam ter melhor inserção no mercado se tivessem um ensino técnico. Precisa sim fortalecer o ensino superior, mas ampliar a base do ensino técnico [é mais importante].

Eu me lembro de ir a Portugal uma vez; conversando com pessoas, em um escritório de Arquitetura, um sujeito que não era arquiteto tinha um curso técnico de Arquitetura e mexia com os programas da área melhor que um arquiteto, e ganhava muitíssimo bem. Esse tipo de curso deveria proliferar. No nosso Estado, tem a questão do agronegócio.

Técnicos nessa área seria um ótimo negócio. Um técnico em Agronomia seria um negócio extraordinário. Nas cidades turísticas daqui, os restaurantes poderiam ser melhores para valorizar nossa cultura gastronômica. Não tenho dúvida que fomenta o turismo com isso.

Hoje o pedreiro ergue uma parede gastando de 30 a 40% a mais [de material] necessário. Existem inúmeras áreas onde se podiam atuar. O empresário sofre com a escassez de mão de obra qualificada muito grande. O bacharel é muito bom, tem que ampliar as faculdades e melhorar a qualidade, mas o que a gente precisa é de ensino técnico profissionalizante.

Capital News – As entidades daqui são boas formadoras de mão de obra?

Pedrossian Neto – A Fiems [Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul] tem um trabalho muito importante. O Sérgio Longen [presidente] tem uma boa equipe e está fazendo um trabalho competente.

O Sebrae [Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas] é muito importante, e pode ser mais, [pois] no interior ainda tem um papel maior para fazer. Mas o Sebrae vai se tornando mais importante à medida que o Estado vai se desenvolvendo.

Capital News – O turismo é bem explorado no Estado? Além da gastronomia, o que poderia melhorar?

Pedrossian Neto – Os aeroportos. A infraestrutura ainda está muito aquém no nosso Estado. Campo Grande tem turismo de negócios, mas poderia se diversificar. Bodoquena é uma cidade onde o turismo é extremamente pouco explorado; têm balneários lindíssimos, formação calcária, grutas, pinturas rupestres, mas, e o marketing de Bodoquena?

Não tem marketing de Bodoquena. Eu acho que a inserção no Brasil, no mundo, de Bonito, de Miranda, de Aquidauana, de Corumbá, de Porto Murtinho, teria que ser com a marca do Pantanal.

Capital News – Você também atua no agronegócio?

Pedrossian Neto – A minha família tem fazenda de gado nelore e faz seleção genética, um trabalho de quase 40 anos de seleção, meu pai é quem toca. Minha atividade é mais economia, e eu voltei mais pra cidade.

Sempre que posso tento me aproximar, gosto muito de agricultura, que acredito ter mais chance que a pecuária de ser explorada. Em grande medida, Mato Grosso do Sul cresceu por conta das lavouras de milho e de soja. A lavoura multiplica mais, ela é mais rentável.

Capital News – Nosso Estado é bem visto e procurado pelos empresários? O que seria interessante para o agronegócio?

Pedrossian Neto – Nosso Estado é jovem e poderia diversificar a matriz econômica. Mato Grosso do Sul é um celeiro hoje para abastecer de alimentos e commodities agrícolas o Brasil e o mundo. Mantendo e estimulando essa vertente, poderíamos criar uma segunda vertente.

A indústria é um projeto nascente em nosso Estado. Em Três Lagoas e em Campo Grande existem investimentos bilionários com possibilidade de transformar a economia do nosso Estado. Contudo, o desafio hoje é diversificar, e não só celulose.

Como pode termos em Corumbá as maiores jazidas de minérios de ferro, de manganês e de outros produtos e não termos indústrias que as processem aqui. Os produtos vão para São Paulo, para Argentina, e depois nós os compramos industrializados aqui.

Capital News – Além de siderúrgicas, transformadoras de plástico, de que outras precisamos?

Pedrossian Neto – Mato Grosso do Sul é beneficiado pelo gasoduto que corta o Estado em mais de mil quilômetros. Transporta por dia 30 milhões de gás natural, metade do consumo brasileiro de gás natural, com pouquíssimo consumo no Estado.

Pode ser fonte de calor em indústrias, mas também pode ser matéria-prima. Dá para fazer amônia, uréia, que são adubos hidrogenados para a lavoura.

A cadeia plástica toda dá pra fazer, uma riqueza que está passando e estamos deixando. Eu não tenho dúvida nenhuma que dá para fazer investimentos de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões no Estado, sendo possível dobrar o PIB em 20 ou 30 anos com três setores: siderurgia, gás químico e celulose.

Capital News – E o couro?

Pedrossian Neto – Todos os derivados da carne poderiam ser aproveitados. A indústria couro atacadista está engatinhando no Estado, nos dois tipos, crust [semi-acabado] e wet blue [úmido]. Nosso Estado explora mal porque não existe um trabalho na cadeia produtiva do curtume com o produtor.

Capital News – Além de incentivos fiscais, que outras coisas poderiam acontecer para melhorar a exportação e comercializar nossos produtos nos outros estados?

Pedrossian Neto – Hoje, Mato Grosso do Sul sofre muito por conta da guerra fiscal. Os estados que estão fora do eixo Rio-São Paulo usam muito os incentivos fiscais e tributários para atrair as empresas.

Está correto, pois precisamos ter um diferencial. Mas todo mundo faz isso, de forma que não é mais um grande incentivo para atração das empresas. Se tornou [sic] um bônus para as empresas. Mas cria uma insegurança jurídica. Caso chega a declarar ilegais os incentivos, imagina o passivo das empresas? Quebra as empresas!

Isso é um assunto vital para a política econômica do Estado, mas precisamos lançar outras. O programa Brasil Maior tem o Reintegra, que dá crédito de 3% para produtos industrializados que são exportados. O governo federal tirou a celulose do programa; olha que absurdo! Tirou todos os produtos derivados da carne, o açúcar, o etanol e a soja. 

Ou seja, nosso Estado está fora do programa. Já viu alguma vez falarmos para colocar nossos produtos no Reintegra. É papel do governo do Estado brigar com isso.

Capital News – Qual dica você daria para quem quer investir em MS?

Pedrossian Neto – O setor sucroenergético é uma grande promessa. O preço do etanol está muito ruim. O problema é a gasolina, porque ela é central no controle da inflação, e sangra o caixa da Petrobrás, que dá prejuízo. Com o reajuste do preço da gasolina, o etanol vai ser beneficiado. Ou seja, o preço do etanol está limitado pelo preço da gasolina, que está congelado. Mas poderíamos reduzir o custo, com logística. Gostaria de falar de outro projeto. Tem outro setor que tem uma grande carência no nosso Estado: médicos.

O governo federal lançou o programa Mais Médicos. Não sou contra, pois é um programa emergencial que leva profissionais àquelas localidades que não são atendidas. Mas é uma medida paliativa. Não podemos viver em um país onde temos que importar médicos.

Qual seria o ideal? O Brasil ampliar o número de profissionais de Medicina formados aqui. E precisam ser formados em Mato Grosso do Sul também. Fiz um levantamento, das nossas 79 cidades, somente dez possuem um médico para cada mil habitantes, recomendação da Organização Mundial da Saúde, ou seja, 80% do Estado tem menos que um médico para cada grupo de mil habitantes.

Eu comparei os dados de cada município com a realidade de cada país. Descobri que o interior de Mato Grosso do Sul tem um padrão africano: Miranda tem tantos médicos quanto o Sudão — acabou de ter um guerra civil; tem 85% de analfabetismo no Sudão. Como é que pode?

Com a expansão das nossas universidades [que tem ou terão curso de Medicina], o interior só vai ter o número ideal de médicos, considerando o desenvolvimento do Estado, daqui a 35 anos. Precisa ter uma faculdade no interior para irrigar todo o interior de médicos.

Estou lançando uma ideia, já apresentei para vários deputados, que é a criação da universidade de Medicina do Pantanal. Tem que ser um investimento público e, de preferência, federal. Mas o governo do Estado pode liderar isso. Pode fazer o projeto e apresentar, e hoje é o momento certo. Eu gostaria muito de levar adiante esse projeto.

Capital News – Ainda compensa investir na pecuária em Mato Grosso do Sul?

Pedrossian Neto - É muito grave a situação do mercado hoje. Houve um estímulo enorme para concentração dos frigoríficos. O pecuarista, por maior que seja, não tem nenhum poder de influenciar no preço da arroba. A indústria de carne é formadora de preço, ela quem controla o valor da arroba.

Acho que a solução é fazer um conselho. No caso da cana-de-açúcar, foi criado o Consecana, que é tripartite: produtor, indústria e governo como observador, que auditam o preço desde o processo do plantio até o açúcar, o álcool, a bomba de combustível.

Esse conselho sugere, a cada 15 dias, o preço da cana. O que aconteceu? Acabou o conflito. O que precisamos? De um conselho da carne, para as entidades sentarem junto com os frigoríficos para auditar, semanalmente, o valor delaa, desde a porteira, e que vai pautar o preço da arroba.

A projeção é diminuir, cada vez mais, a produção de carne no Estado. Aqui já tem uma experiência boa, que é o Conseleite. Os laticínios e os produtores estão se dando melhor

Gabriel Kabad/Capital News/JE

economista, carreira política, ideias envolventes, desenvolvimento incomum

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