Quarta-Feira 03/09/2025 06:57

Quanto vai durar o alívio do leilão de Libra para Petrobras?

Brasil - Negócios - Exploração do Pré-sal

Foto:Divulgação

O relógio já contava mais de 2 minutos de silêncio quando o representante do único consórcio concorrente do leilão do maior campo de petróleo da história do Brasil sacou um envelope. O consórcio ofereceu à União o mínimo exigido, 41,65% da produção da área de Libra.

Sem disputa, o governo vendeu no dia 21 de outubro, por 15 bilhões de reais, o direito de produzir, por 35 anos, petróleo e gás num campo do pré-sal com reservas estimadas entre 8 bilhões e 12 bilhões de barris.

A falta de concorrentes foi consequência da mudança do marco regulatório do petróleo, em 2010, que aumentou a presença do governo, criou uma estatal para administrar os poços e obrigou a Petrobras a participar da operação de qualquer campo do pré-sal. O governo chegou a esperar 40 concorrentes por Libra, mas no final das contas apenas nove depositaram garantia para a disputa.

Dessas, cinco se uniram num único consórcio — naturalmente, o vencedor. Com a Petrobras (40% de participação), entraram a anglo-holandesa Shell e a francesa Total (com 20% cada uma) e as chinesas CNOOC e CNPC (10% cada uma).

O governo comemorou, e houve uma reação positiva no mercado, especialmente pela surpreendente presença de duas grandes companhias europeias. Mas, obviamente, o verdadeiro desafio de tirar a riqueza do fundo do oceano começa agora.

O pré-sal foi descoberto em julho de 2005 por técnicos da Petrobras que estudavam o bloco de Parati, na bacia de Santos. A descoberta de Tupi, no ano seguinte, confirmou os sinais de que estavam diante de uma nova fronteira petrolífera escondida sob o mar e abaixo de uma camada de rochas e sal na costa brasileira.

O feito foi anunciado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva como “um passaporte para o futuro”. Há estimativas de que as reservas do pré-sal possam ser de até 90 bilhões de barris. O problema é que isso só terá mesmo valor após a retirada de reservatórios em profundidades que podem chegar a 7 quilômetros em alto-mar.

Além do desafio tecnológico de operação em áreas inóspitas, será preciso mobilizar um volume enorme de investimentos. Estima-se que somente o campo de Libra deverá demandar de 12 a 18 plataformas para dar conta de extrair 1,4 milhão de barris diários no auge da produção, nas projeções da Agência Nacional do Petróleo (ANP). É quase metade de tudo o que o país produz hoje.

Os investimentos na área serão de ao menos 50 bilhões de dólares. Não é uma tarefa simples. Por isso, os olhares agora estão voltados para a capacidade dos integrantes do consórcio, sob a liderança da Petrobras, de fazer o petróleo jorrar — o que só deverá acontecer em quatro anos.

“O leilão de Libra foi melhor do que se esperava em relação à qualidade do consórcio. A participação de empresas privadas como a Shell, uma das maiores do mundo, ajuda a gestão e dá mais segurança financeira, reduzindo o risco estatal”, diz o ex-presidente da ANP David Zylbers­tajn. “Agora a relação entre os sócios começará a ser testada.” 

De fato, é algo a ser observado de perto. Como os sócios vão se entender para começar a lucrar o mais depressa possível? Isso porque uma série de fatores na geopolítica do petróleo impõe um ritmo mais rápido de produção. Desde a descoberta do pré-sal, muita coisa mudou. O mundo entrou em recessão.

Os Estados Unidos desenvolveram tecnologias de produção de óleo e gás não convencionais que prometem converter o país de importador a exportador até 2020. Isso tende a jogar o preço do petróleo para baixo. “O ideal é produzir quanto antes. Hoje, o mercado futuro estima que o preço do barril estará perto de 80 dólares em 2021”, diz Marco Tavares, consultor da Gas Energy. Pelos estudos da ANP, a menos que o preço do barril fique abaixo de 30 dólares (hoje está em 110), a exploração do pré-sal num campo como Libra será lucrativa. 

Interesses conflitantes

A velocidade dos investimentos pode indispor os integrantes do consórcio de Libra. Transformar as reservas em dinheiro o mais brevemente possível é interesse da Shell e da Total. A prioridade dos chineses é o acesso às reservas — eles buscam oportunidades de baixo risco e alto volume no mundo para sustentar o crescimento da China.

Já a Petrobras e a PPSA, estatal criada para gerir os blocos do pré-sal, guiadas pelos interesses do governo, seriam mais comprometidas com a compra de equipamentos de conteúdo local (cuja obrigação vai de 37% a 59%), mesmo que isso possa afetar o cronograma de investimentos.

Um relatório do Tribunal de Contas da União sobre o edital do leilão apontou que o cronograma de entrada em operação das plataformas no campo foi estimado considerando o teto da capacidade da indústria de fornecedores. Na prática, se o consórcio optar por comprar um equipamento nacional mais caro e sofrer atrasos, o lucro da empreitada será menor. Como a palavra final é do governo, há pouco que as multinacionais possam fazer a respeito. 

Para a Petrobras — e seus acionistas —, o desfecho do leilão foi um alívio. Pelas regras do modelo de partilha, a estatal é a operadora obrigatória dos campos do pré-sal — um fardo para suas­ finanças. Seus acionistas temiam que a falta de concorrência acabasse levando a Petrobras a assumir uma fatia majoritária do campo de Libra. Mas não foi o que aconteceu, e as ações da companhia subiram 5% no dia do leilão.

A empresa terá a maior parcela indivi­dual de lucro entre as sócias do campo. A avaliação da maioria dos analistas é que a entrada de competidores privados torna os números de Libra — e o potencial de retorno — mais críveis. “O interesse das estatais chinesas nunca foi muito claro.

Sabe-se que elas têm interesse em garantir certo nível de produção, mas não se sabe qual conta fizeram. É diferente com as companhias privadas. São previsões, mas elas olharam tudo e deram a chancela de que veem potencial”, afirma Marcel Kussaba, analista especializado em petróleo da gestora gaúcha Quantitas, que tem 11 bilhões de reais de patrimônio. 

Por outro lado, a Petrobras será obrigada a investir mais. De cara, vai arcar com 6 bilhões de reais no pagamento de sua parte do bônus de assinatura, que tem de ser feito em um mês. “Para a Petrobras, o problema continua sendo como levantar dinheiro para fazer os investimentos necessários em tantas frentes ao mesmo tempo”, diz Adriano Pires, diretor da consultoria CBIE, especializada em óleo e gás.

No dia seguinte ao leilão, as ações caíram 1,7%. Alguns analistas cogitavam que sócios do consórcio, sobretudo os chineses, pudessem financiar a parcela da Petrobras no bônus, livrando-a do impacto que esse gasto teria em seu já debilitado caixa. No entanto, o presidente da Shell, André Araujo, afirmou, após o leilão, que não há acordo entre os sócios para assumir a parte da Petrobras. A conta de 6 bilhões de reais representa quase 30% do lucro da empresa. 

O bônus é apenas o montante de curto prazo que terá de ser desembolsado. A Petrobras também precisa comparecer com 40% de todo o investimento do projeto. Altamente endividada, teria de combinar sobras de caixa e recursos captados no mercado via empréstimos e emissões de títulos de dívida.

Entre os participantes do leilão, a Petrobras é a empresa que paga mais caro para se financiar, de acordo com o analista Andrew Muench, do banco Brasil Plural. E os custos tendem a subir, já que, no começo de outubro, a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou a nota da companhia, citando como principais motivos as dívidas elevadas e o pesado cronograma de investimentos.

“É importante lembrar que outras empresas estrangeiras, como Chevron e BP, fizeram as contas do leilão e ficaram de fora”, diz Muench. “E elas têm um custo de captação inferior ao da Petrobras.” 

Custo e oportunidade

Para ter sobra de caixa, a Petrobras precisaria elevar as receitas, via aumento de produção, e suas margens, o que poderia ser feito por meio de corte de custos — algo que faz parte do novo plano estratégico da companhia e está saindo do papel. Outro caminho é por meio do aumento do preço da gasolina, mas isso precisará passar pela concordância do governo, que teima em usar a tarifa do combustível como instrumento de contenção da inflação.

Uma conta feita pelo banco Brasil Plural, considerando a diferença entre a cotação internacional do petróleo e os valores dos combustíveis aqui, indica que, se a Petrobras não reajustar os preços, seus acionistas perderão, em média, 1 real por ação (cerca de 5% do valor dos papéis) até o fim de 2014.

Num relatório recente, os analistas do banco Itaú BBA afirmaram que uma visão mais positiva para a empresa, e seus projetos, “depende fortemente do reajuste da gasolina e do diesel e, mais importante, de uma fórmula que dê mais clareza à paridade internacional”.

É claro que, por outro lado, o campo de Libra representa uma baita oportunidade. Em tese, a exploração poderia aumentar o preço potencial da ação em cerca de 10%, de acordo com estimativas de corretoras. Mas isso só ocorreria quando — e se — a empresa conseguisse fazer a exploração com sucesso.

A situação delicada da Petrobras é um dos motivos que levaram até integrantes do governo a cogitar uma mudança na regra da operação obrigatória. Para analistas e especialistas ouvidos por EXAME, o resultado do leilão fez o governo ganhar tempo.

Se não houvesse interessados — ou poucas empresas dispostas a formar um consórcio, obrigando a Petrobras a entrar com participação maior —, seria possível que o novo marco regulatório tivesse de ser revisto. Agora o risco deverá ser novamente testado no próximo leilão, que o governo só planeja fazer a partir de 2015. 

A participação obrigatória da Petrobras, o papel da PPSA e as metas de contratação de conteúdo local são apontados como os principais entraves para uma maior competição nos leilões, mas uma alteração do marco regulatório do petróleo não é algo tão simples assim. Seria necessário enviar novo projeto de lei ao Congresso Nacional.

Se os protestos de sindicalistas petroleiros no entorno do hotel onde era realizado o leilão já foram suficientes para levar a presidente Dilma à TV para renegar a carapuça da privatização, não se espera que, em pleno ano eleitoral, o governo se arrisque propondo ao Congresso tirar da Petrobras o papel principal da exploração do pré-sal.

Para Ricardo Savini, diretor da consultoria Deloitte, a participação das empresas privadas já servirá para atrair outras nos próximos leilões. “O fato é que o governo conseguiu fazer e testou o modelo. A participação de Shell e Total mostrou que há rentabilidade possível, mesmo com os riscos, senão elas não entrariam.” Agora, resta a corrida para tirar o óleo de lá — e revigorar, no caminho, a enfraquecida Petrobras.

Exame/RMC

Campo de Petróleo, Desafio Tecnológico, Camada de Rochas, Investimentos

Compartilhar faz bem!

Eventos

  • 1º Encontro dos Amigos da Empaer

    1º Encontro dos Amigos da Empaer

    Cidade:Dourados
    Data:29/07/2017
    Local:Restaurante / Espaço Guarujá

  • Caravana da Saúde em Dourados II

    Caravana da Saúde em Dourados II

    Cidade:Dourados
    Data:16/04/2016
    Local:Complexo Esportivo Jorge Antonio Salomão

Veja Mais Eventos

Balcão de Oportunidades / Empregos(Utilidade Pública)

Não é cadastrado ainda? Clique aqui

Veja todas as ofertas de vagas

Cotações

Moeda Taxa R$
Dólar 5,446
Euro 6,374
Franco suíço 6,797
Yuan 0,764
Iene 0,037
Peso arg. 0,004

Atualizado

Universitários

Serviço Gratuito Classificados - Anúnicios para Universitários
Newsletter
Receba nossa Newsletter

Classificados

Gostaria de anunciar conosco? Clique aqui e cadastre-se gratuitamente.

  • Anúncios

Direitos do Cidadão

Escritório Baraúna-Mangeon Faça sua pergunta
  • Tem uma senhora dai de Campo Grande que é uma estelionatá...Tem uma senhora dai de Campo Grande que é uma estelionatária aqui em Cuiabá, levou muita grana nossa, e uma eco esporte. Ela se chama LEUNIR..., como faço pra denunciar ela aí nos jornais?Resp.
  • Boa tarde, minha sogra teve cancer nos seios e retirou um...Boa tarde, minha sogra teve cancer nos seios e retirou um eo outro parcial ja faz um bom tempo que nao trabalha e estava recebendo auxilio doença mas foi cancelada e ja passou por duas pericias e nao consegui mais , sera que tem como ela aposentar?Resp.
  • quanto porcento e o desconto para produtor rural hoje out...quanto porcento e o desconto para produtor rural hoje outbro de 2013Resp.
  • meu irmao cumpriu dois ano e meio de pena foi asolvido 7 ...meu irmao cumpriu dois ano e meio de pena foi asolvido 7 a zero caso ele tenha alguma condenacao esse 2 anos e meio pode ser descontadoResp.
  • gostaria de saber se ae em muno novo vai ter curso pilota...gostaria de saber se ae em muno novo vai ter curso pilotar maqunas agricolas?? se tiver como fasso pra me escreverResp.
+ Perguntas

Espaço do Leitor

Envie sua mensagem:
Sugestões, críticas, opinião.
  • iraci cesario da rocha rocha

    Procuro minha irmã Creusa Maria Cesario ela era de Dracena SP , minha mãe esta idosa 79 anos precisa ver ela se alguem souber nos avisa ..contato 018 996944659 falar com Iraci ..minha irmã foi vista nessa região

  • iraci cesario da rocha rocha

    Boa noite , estou a procura da minha irmã Creusa Maria Cesario desapareceu ha 30 anos , preciso encontrar porque minha mãe esta com 79 anos e quer ver , ela foi vista ai por essa região , quem souber nos avise moramos aqui em Dracena SP

  • maria de lourdes medeiros bruno

    Parabéns, pelo espaço criado. Muito bem trabalhado e notícias expostas com clareza exatidão. Moro na Cidade de Aquidauana e gostaria de enviar artigos. Maria de Lourdes Medeiros Bruno

  • cleidiane nogueira soares

    Procuro por Margarida Batista Barbosa e seu filho Vittorio Hugo Barbosa Câmara.moravam em Coração de Jesus MG nos anos 90 .fomos muito amigos e minha família toda procura por notícias suas.sabemos que voltaram para Aparecida do Taboado MS sua cidade natal

  • Simone Cristina Custódio Garcia

    Procuro meu pai Demerval Abolis, Por favor, me ajudem.Meu telefone (19) 32672152 a cobrar, Campinas SP.

+ Mensagens