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Depois de acumular conhecimento na repatriação de foragidos, de expressivas somas de dinheiro desviado e de importantes obras de arte roubadas, o governo brasileiro se prepara para uma inédita empreitada: a restituição ao patrimônio nacional de 40 filhotes de uma jiboia albina contrabandeada para os Estados Unidos. As cobras, vistas como répteis perigosos e inúteis, têm valor não apenas científico, mas monetário mesmo.

Só a jiboia albina está avaliada em US$ 1 milhão no mercado clandestino de animais, conforme projeções do procurador Paulo Taek, do Ministério Público Federal em Roraima.

O procurador está à frente das investigações sobre o contrabando da cobra e, agora, de uma ação pela restituição dos filhotes da jiboia ao Brasil. Os filhotes, que nem albinos são, também tem alto valor de mercado. Alguns exemplares teriam sido vendidos por US$ 60 mil para compradores asiáticos.

- Não é só uma questão financeira. A repatriação (das jiboias) é importante para mostrar ao mundo que o Brasil é capaz de perseguir atos de biopirataria, que não estamos de olhos fechados para esse tipo de crime. Pelo fato de se tratar de uma espécie raríssima (a jiboia albina) existe também interesse de cunho científico - explica Taek.

No início do mês, o procurador pediu à 2ª Vara da Justiça Federal de Roraima a restituição das jiboias. Mas por falta de um documento, o pedido ainda não foi atendido.

A Justiça brasileira aguarda a cópia dos autos em que a polícia dos Estados Unidos confirma a apreensão das cobras, que estavam em poder do colecionador Jeremy Stone. O colecionador vive nas proximidades de Park City, uma conhecida estação de esqui do estado de Utah.

A batalha pela jiboia albina, e depois pelos filhotes da cobra, começou em 2009, quando a cobra desapareceu misteriosamente da Fundação Zoológico de Niterói.

Depois de uma longa investigação, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal descobriram que a jiboia, que vale mais que muitos cavalos de raça, fora contrabandeada numa ação cinematográfica chefiada, supostamente, por Jeremy Stone em plena selva amazônica.

O americano tentou embarcar para os Estados Unidos com a cobra escondida numa barriga falsa da irmã Kéri Ann Stone, que se fingia de grávida. A operação fracassou, mas nem assim o colecionador desistiu. Numa operação ainda mais ousada, ele viajou até a Guiana Inglesa e de lá, comprou e mandou para os Estados Unidos 120 cobras de espécies mais comuns. Num dos quatro carregamentos das cobras, o americano incluiu a cobra rainha, a jiboia de um milhão de dólares.

O plano pareceu perfeito. Segundo Taek, Stone postou fotos da cobra num site na internet e começou a vender filhotes da jiboia, alguns ao preço nada modesto de US$ 60 mil.

O negócio só desandou quando, a partir de investigações sobre o casal José Carlos Teixeira e Giselda D' Amelia Candiotto, funcionários da Fundação Zoológico, a polícia chegou a conclusão de que a jiboia albina desaparecida e dada como morta estava aumentando a fortuna de Taek em Utah.

Depois de encontrada e analisada, a cobra teria desaparecido novamente. Mas, ainda assim, o Ministério Público aguarda a restituição dos filhotes da "boa constrictor",nome científico da jiboia albina. A operação depende de articulação da Polícia Federal, do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional e de outras estruturas do governo federal. O Ibama já se comprometeu em acolher os filhotes da jiboia.

No início deste mês, com o fim de parte das investigações, Taek denunciou à Justiça Federal Teixeira, Giselda, Stone e a irmã Kéri por furto e contrabando, entre outros crimes.