Foto: CNA

Nesse início de primavera, prestes a iniciar o plantio de árvores na Estância Guatambu, propriedade participante do Projeto Biomas Pampa como área experimental, a equipe de pesquisadores do projeto voltou à região em busca de outras áreas que servirão como referência para futuras pesquisas.

As propriedades potenciais localizam-se no município de Dom Pedrito, a 70 quilômetros de Bagé, RS. O critério de escolha da propriedade referência do Bioma Pampa é o estado de conservação do solo e da vegetação nativa, mediante o uso característico da região. Nesse caso, o pasto nativo.

“Uma das condicionantes do projeto é comparar as propriedades referência e experimental no sentido de obter coeficientes técnicos de sustentabilidade”, explica o coordenador nacional do projeto Dr. Gustavo Curcio ao proprietário da Estância Santa Anna, Diego Torres, uma das propriedades potenciais. “Vamos estudar as pastagens nativas da região e suas características, interagindo solo e diversidade herbácea”, complementa Curcio.

Pastagens nativas são abundantes nas terras de Torres, assim como o seu interesse em participar do projeto. “Estamos sempre abertos para colaborar com qualquer iniciativa de pesquisa.

Se nós podemos aprender e melhorar o nosso sistema produtivo não só a curto prazo, mas, também, cuidando da nossa terra para o futuro, tenho todo o interesse em me envolver”, afirma o veterinário.

Torres acompanhou a equipe na visita de reconhecimento da área. Os pesquisadores aproveitaram para retirar amostras do solo e averiguar a situação dos sistemas produtivos da propriedade.

Uma segunda propriedade referência potencial também foi identificada. Um pouco mais distante da primeira, a área de propriedade de Valter Pötter, também veterinário, possui os critérios desejados pelos pesquisadores: solos bem conservados sob pastagens nativas com alta diversidade.

O contato com os proprietários foi feito pelo Dr.Leandro Volk (foto acima), coordenador regional do Projeto Biomas Pampa e pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, integrante da equipe que esteve na avaliação das referidas propriedades.

Volk acompanhou a equipe a um arrozal de irrigação, produção característica do Pampa e que tradicionalmente tem sido feita pelo sistema de manejo de integração pecuária/lavoura. Nesta visita, destacou que nos últimos anos, a soja vem sendo introduzida na região, causando mudanças consideráveis nos sistemas produtivos do bioma.

“A introdução da soja, em si, não é necessariamente um problema desde que o seu manejo seja feito de forma correta” diz o pesquisador. “O Projeto Biomas tem a preocupação em estudar como estas mudanças afetam a região”, conclui.

Garantir que os manejos sejam feitos de forma correta é uma das metas do projeto. Embora o objetivo seja, em última instância, a introdução do componente arbóreo nas paisagens estudadas, as pesquisas levam em consideração o equilíbrio de todos os fatores envolvidos nos diferentes sistemas produtivos.

Por esse motivo, o projeto conta com uma equipe multidisciplinar de profissionais. Ao todo, são cerca de 400 pesquisadores em todo o Brasil.

Nessa visita ao Pampa, o grupo foi formado por dois pedólogos, Dr. Gustavo Cúrcio, da Embrapa Florestas e Dr. Carlos Alberto Flores, da Embrapa Clima Temperado, além do botânico da Embrapa Florestas Dr. Alexandre Uhlmann e do professor geólogo do departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Maria, Dr. José Luiz Silvério da Silva.

Esses pesquiadores passaram dias percorrendo inúmeras propriedades realizando análises de rochas e solos, retirando amostras dos mesmos, a fim de identificar as configurações de paisagens predominantes, sobretudo as áreas de convergências hídricas. Concomitantemente, foi avaliada a biodiversidade das pastagens relacionando-as à densidade de pastoreiro.

Parece muito trabalho para a escolha de uma porção de terra que será reanalisada tantas outras vezes pelos próximos anos e, de fato, é um trabalho minucioso.

Do ponto de vista do Projeto Biomas, todo esse empenho é considerado fundamental para a obtenção de um conhecimento técnico mais profundo.

SOBRE O PROJETO BIOMAS

O projeto é uma parceria entre Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Os estudos já estão sendo desenvolvidos nos seis biomas brasileiros. Os pesquisadores buscam soluções para a produção sustentável de alimentos a partir da reintrodução da árvore nas propriedades rurais do Brasil. O Projeto Biomas tem o apoio do SEBRAE, Monsanto, John Deere e Vale Fertilizantes.