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O futuro sorri para vendedores de ar condicionado. Por dois motivos, primeiro porque com ou sem crise econômica global a tendência de aumento de renda nos países em desenvolvimento é praticamente irreversível. Segundo porque as temperaturas da Terra já estão aumentando e aumentarão ainda mais. Essas duas tendências juntas deverão puxar o consumo de ar condicionado. Isso significa que os fabricantes venderão mais e que mais energia será dedicada a alimentar os compressores desses aparelhos. Esse é o tema do estudo feito por Michael Sivak, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.

Ele usou as previsões de aquecimento global e de elevação de renda da população para imaginar o aumento no consumo de ar condicionado no mundo até o ano 2100. Dos 170 países estudados, oito têm o potencial para ultrapassar o consumo dos Estados Unidos, um grande bebedor de energia. A Índia pode chegar a um consumo 14 vezes maior do que o americano. A China 5,2 vezes. A Indonésia 3 vezes. O Brasil consumiria uma vez e meia o que os americanos gastam com energia para ar condicionado.

Não é pouco. Sivak usou os Estados Unidos como referência por um motivo. Os EUA são grandes adeptos do ar resfriado. Cerca de 87% das residências americanas têm ar condicionado. Elas consomem com ar condicionado 185 milhões de megawatts/hora de energia por ano. É o dobro do que Itaipu, no Brasil, gerou de eletricidade no ano passado. Se as previsões de Sivak estiverem certas, o Brasil precisaria de três Itaipus só para podermos ligar nosso ar condicionado nos dias quentes que virão.

O estudo tem limites. Ele considera o aumento de dias quentes, que em tese exigirão um frescor sintético nos ambientes fechados. Mas não considera se também aumentarão os dias nublados, que reduzem a necessidade de ar condicionado. Também não contabiliza possíveis ganhos com projetos de arquitetura mais inteligentes, que resfriem os prédios e casas naturalmente. Nem ganhos de eficiência no consumo de eletricidade dos modelos de ar condicionado. Mesmo assim, pelos números envolvidos, é um bom alerta para o risco de um aumento de consumo de energia.

Se essa energia for produzida a partir de combustíveis fósseis (que contribuem para o aquecimento global), o ar condicionado ligado passa a alimentar um ciclo vicioso. Embora o Brasil gere eletricidade principalmente de fontes limpas, como as hidrelétricas, o resto do mundo não é assim. A China, apesar dos esforços para esverdear a economia, continua gerando a maior porção de sua eletricidade a partir do carvão, a fonte que mais contribui para as mudanças climáticas.