Dólar cai mais de 3% e vale R$ 2,35 após BC anunciar intervenções diárias no câmbio
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Foto: crato.org
O dólar comercial recua 3% na reta final do pregão tarde após o Banco Central ter realizado o primeiro leilão de dólares do novo plano de ação para conter a escalada da moeda americana. Às 16h30m, o dólar comercial perdia 3,04% sendo negociado a R$ 2,356 na compra e R$ 2,358 na venda.
Na máxima do dia, o dólar chegou a R$ 2,405 e na mínima foi negociado a R$ 2,355. O dólar já iniciou a sessão em baixa superior a 1% após o Banco Central anunciar um programa diário de venda de dólares para dar liquidez ao mercado. O cenário externo mais tranquilo também beneficia a queda na moeda americana.
Para o ex-presidente do Banco Central e atual sócio da consultoria Tendências, Gustavo Loyola, os leilões diários de dólares anunciados são positivos porque dão horizonte ao mercado e tendem a reduzir a volatilidade no câmbio.
- Com os leilões, o BC sinaliza aos agentes do mercado que não se precipitem em comprar moeda estrangeira, porque haverá fornecimento diário, pelo menos até dezembro. É uma medida que dá tranquilidade e a reação dos investidores está sendo positiva, já que o dólar recua - diz Loyola.
Para ele, a utilização dos swaps cambiais é mais prudente do que oferecer dólares das reservas internacionais.
- Aliás, são as reservas internacionais elevadas (de cerca de US$ 374 bilhões) que dão lastro e permitem fazer essas operações com os swaps - diz o ex-presidente do BC.
Mesmo assim, ele adverte que a tendência de alta do dólar não vai ser revertida, já que os fatores que fazem a moeda americana subir são outros, entre eles a possibilidade de redução dos estímulos à economia americana pelo Federal Reserve (Fed), o banco central americano.
- Os leilões evitarão um overshooting do dólar, mas não devem levar à reversão da tendência de alta da moeda americana - diz Loyola.
Na Tendências, a previsão para o dólar em dezembro, ainda está em R$ 2,25 e R$ 2,30. Como o momento ainda é de muita volatilidade, qualquer revisão nessa estimativa pode ser precipitada.
Juros futuros caem e Bolsa sobe
As taxas de juros do mercado futuro também estão em queda, acompanhando o movimento do dólar. O contrato com vencimento em janeiro de 2015 recuava de 10,56% para 10,39%.
O Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2014 tem taxa caindo de 9,24% para 9,20%. E o papel com vencimento em janeiro de 2017 recuava de 11,81% para 11,66%.
Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o Ibovespa, índice de referência do mercado, apresentou volatilidade no início da sessão, mas se fixou no campo positivo. Às 16h30m, o índice se valorizava 1,29% aos 52.063 pontos e volume negociado de R$ 5,5 bilhões.
Nos Estados Unidos, os principais índices acionários também sobem: o S&P500 tem alta de 0,25%; o Dow Jones se valoriza 0,17% e o Nasdaq tem alta de 0,41%.
Entre as ações mais negociadas do Ibovespa, Vale recua 0,61% a R$ 32,21; Petrobras PN sobe 1,25% a R$ 18,49; OGX Petróleo sobe 3,89% a R$ 0,80, a maior alta do Ibovespa; Itaú Unibanco avança 2,56% a R$ 29,18 e Bradesco PN tem alta de 1,41 a R$ 27,90.
Entre as maiores quedas do pregão, estão ações de empresas exportadoras que perdem diante de um cenário de queda do dólar. Os papéis ON da Fibria apresentam a maior perda com baixa de 3,59% a R$ 27,92. Também estão em baixa Gerdau, Cia. Suzano de Papel e Celulose e Embraer, todas exportadoras. Na ponta das maiores altas, estão ações de construtoras, que são beneficiadas num cenário de juro mais baixo. A maior alta é apresentada pelos papéís ON da Rossi Residencial sobem 7,30% a R$ 2,94.
BC anuncia programa de venda de US$ 100 bilhões
Para conter a valorização do dólar, o Banco Central anunciou ontem um programa de leilões diários, alternado-se em ofertas de swap cambial e de venda de dólares com compromisso de recompra, que começou hoje e se estende até 31 de dezembro deste ano.
Em comunicado, o BC justificou a medida "com o objetivo de prover 'hedge' cambial aos agentes econômicos e liquidez ao mercado de câmbio.
- É acertada a resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) de apoiar o BC na venda de câmbio futuro (“hedge”), inclusive aumentando a oferta deste instrumento. Com isso, o real deve se apreciar evitando o overshooting do dólar - diz Natan Blanche, sócio da consultoria Tendências e especialista em câmbio.
- Em nossa opinião, essa sinalização, mais importante que o pacote em si, deve promover a recuperação da confiança dos agentes e reduzir a volatilidade e pressão sobre o câmbio - escreve em relatório a equipe de economistas do Bradesco.
O Banco Central já realizou primeiro leilão de venda de dólar com compromisso de recompra, conhecido como leilão de linha, de até US$ 1 bilhão, entre 11h15m às 11h20m. A taxa de corte para recompra de dólar em 2 de janeiro de 2014 ficou em R$ 2,4651, informou o BC.
Para o gestor da FLC Capital, Fernando Araújo, a estratégia do BC terá resultados no curto prazo, mas o dólar deve atingir um patamar entre R$ 2,50 e R$ 2,60 no curto prazo. Isso porque o movimento de valorização do dólar é global e moedas de outros países emergentes como o Brasil, entre eles Índia, Indonésia e Turquia, têm perdido valor em maior magnitude para a moeda americana.
- São países que se beneficiaram do fluxo de dólares baratos, que circulou pelo mundo em busca de oportunidades de investimento. Com a sinalização de que o Federal Reserve (Fed) vai reduzir o programa de compra de títulos de US$ 85 bilhões, e provavelmente os juros vão subir nos EUA, há uma mudança na direção desse capital - analisa Araújo.
Ele lembra que o real estava sobrevalorizado nos últimos anos e agora caminha para um câmbio de equilíbrio.
- Setores que eram competitivos no Brasil, como siderurgia, perderam com o real valorizado. Agora caminhamos para um câmbio mais justo, que deve ficar entre R$ 2,50 e R$ 2,70 em 2014 - diz Araújo, que é gestor do Fundo de Investimentos FCL Equities e montou uma carteira “dolarizada” ao longo dos últimos anos, com ações de empresas que são beneficiadas com a alta do dólar.
Pelo plano de ação do BC, há US$ 60 bilhões disponíveis para os leilões que serão feitos até o fim do ano, já que cerca de US$ 40 bilhões já foram ofertados ao mercado.
Além disso, o BC não descarta a hipótese de recorrer a mais rolagens de contratos. Esta é a primeira vez desde 2002 — quando a tensão pré-eleitoral levou o dólar a bater R$ 4 — que a autoridade monetária recorre ao que economistas apelidaram na época de “ração diária do BC”.
Analistas elogiaram a nova estratégia do BC por oferecer maior previsibilidade ao mercado, mas a maioria avalia que, por si só, não tem fôlego para inverter a tendência de valorização do dólar.
Todas as segundas, terças, quartas e quintas-feiras serão feitos leilões de swap com oferta de US$ 500 milhões ao dia. Às sextas-feiras será oferecida uma “linha de dólares” de US$ 1 bilhão.
A operação é uma venda de moeda americana no mercado à vista com compromisso de recompra pelo BC. Por isso, teoricamente, não baixa as reservas internacionais do país.
João Sorima Neto/O Globo/JE
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