Mortes durante cirurgia para reduzir estômago acendem alerta para riscos
Saúde - Complicações da Cirurgia Bariátrica
Cirurgia bariátrica é considera uma intervenção de grande porte.
O paciente que se submeter ao procedimento necessita de acompanhamento médico para o resto da vida.
Fabiana Glaglau faleceu aos 25 anos, em decorrência de complicações da cirurgia de redução do estômago.
Entre os especialistas, o tema é tratado com precaução.
Falar sobre os riscos da cirurgia bariátrica, conhecida popularmente como de “redução do estômago” ou “da obesidade”, causa certo desconforto.
A justificativa mais comum, quase universal, é a de que “toda cirurgia tem risco”.
“Até extrair unha encravada ou dente”, afirmou o cirurgião geral, especialista em cirurgia do aparelho digestivo, James Câmara de Andrade, se referindo às possíveis complicações decorrentes do procedimento.
Mas há um protocolo a ser seguido, explicou o médico. O paciente que deseja se submeter à cirurgia precisa ser assistido por uma equipe multidisciplinar, composta por um clínico, cirurgião, psiquiatra, endocrinologista e nutricionista.
Além disso, a cirurgia - considera uma intervenção de grande porte - é indicada para um pequeno grupo, cujo IMC (Índice de Massa Corpórea) esteja acima dos 35.
Pela normatização da SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica), apenas pacientes com idade entre 18 e 65 anos podem fazer a cirurgia.
Abaixo ou acima dessa faixa etária ou com IMC superior a 40, só com formalização do médico responsável, neste caso, um endocrinologista.
Riscos (imagem: Infográfico/Estadão)
Para o cirurgião, os riscos estão mais relacionados à conduta do que à cirurgia propriamente dita.
Na maioria das vezes, declarou, as complicações ocorrem porque o paciente “não aderiu ao tratamento que se propôs”.
James Câmara explicou ainda que dos pacientes submetidos à cirurgia, menos de 10% continuam o acompanhamento regular junto ao médico.
O erro está justamente aí.
Alguns acreditam que quando se atinge o resultado esperado não será mais necessário continuar a visita aos consultórios e, com isso, acabam “relaxando”.
O tratamento, explicou, é para vida toda. “Se fizer tem resultado, se não fizer, não tem”, disse. “Cirurgia não combina com doce ou álcool”, completou, exemplificando.
Intercorrências cirúrgicas
O sucesso da operação depende também do esforço do paciente.
Por isso, antes de entrar no centro cirúrgico, é necessário a assinatura de um termo de consentimento e conscientização.
Na clínica onde o médico trabalha, o documento em quatro páginas exige a assinatura do paciente, responsável e uma testemunha.
No item que elenca os “riscos do tratamento proposto”, uma referência à literatura médica que traz uma série de complicações da cirurgia bariátrica.
Cirurgião afirma que menos de 10% dos pacientes continuam o acompanhamento regular após a cirurgia.
(Foto: Elverson Cardozo)
Entre as intercorrências cirúrgicas que podem ocorrer estão lesão no braço, lesões vasculares, lesões intestinais, hemorragias e complicações anestésicas.
Nas intercorrências pós-operatórias, podem ocorrer infecções (de parede, intra-abdominal, pulmonar, etc.), pancreatite, gastrite, úlcera, hepatite, trombose venosa profunda, embolia pulmonar, fístulas digestivas, hérnias, alterações digestivas (vômitos, refluxo), obstrução gástrica, entre outros.
Mas o documento também avisa: “Os itens correspondem a complicações pertinentes a cirurgias de grande porte e não apenas com a cirurgia de obesidade”. “O índice mortalidade é em torno de 1,5%, o que pode variar de acordo com cada caso”, informa trecho do termo.
Por conta dos riscos são tomadas uma série de precauções antes da cirurgia. James Câmara afirma que o paciente deve ser submetido a uma bateria de exames.
Pós-operatório
No pós-operatório, a maior dificuldade, segundo o médico, é com relação à dieta. “Após a cirurgia é possível ocorrer carências nutricionais, vitamínicas, minerais e protéicas. [...] É importante lembrar que a pequena ingestão de alimentos pode levar a estados de mal estar, desânimo, paralisias, confusão mental, anemias, queda de cabelo, cegueira noturna, entre outros”, informa trechos do termo.
Há também a informação de que “após a cirurgia pode haver dificuldade na passagem de líquidos e/ou alimentos mais consistentes, do reservatório gástrico para o restante do tubo digestivo, sendo por vezes necessário realizar dilatação endoscópica (que apresenta seus próprios riscos). Em alguns casos pode ser necessária a intervenção cirúrgica para solução definitiva”.
De acordo com o cirurgião, o paciente que se submete à cirurgia bariátrica deve fazer uso de complementos vitamínicos.
Sem garantias
Na clínica onde o documento está disponível, o paciente que assinar o termo de consentimento para realização da cirurgia bariátrica (por videolaparoscopia) também entende que o tratamento assistido é por toda a vida.
O terceiro item do termo, intitulado “sem garantias”, informa ao paciente que “não há 100% de garantia” dos benefícios e que parte do sucesso dos resultados depende de esforço próprio. “A melhora ou até mesmo a cura do diabetes, hipertensão, fadiga, problemas respiratórios, entre outros, pode não ocorrer”.
Última foto de Fabiana com a mãe, momentos antes da jovem entrar no centro cirúrgico.
(Foto: Arquivo Pessoal)
Caso
A funcionária pública aposentada, Alda Glaglau, de 62 anos, conhece bem os riscos.
Aos 25 anos, a filha, Fabiana Glaglau, resolveu fazer a cirurgia bariátrica, mas não chegou nem a receber alta.
Faleceu quatro semanas depois, em decorrência de complicações. “Ela procurou o meio mais rápido”, conta. Hoje, para a mãe, falar sobre o que aconteceu ainda é complicado. “Machuca muito”, disse.
Fabiana sempre lutou contra a balança, mas nunca conseguiu emagrecer o quanto queria e, por isso, estava decidida a se submeter ao procedimento cirúrgico por videolaparoscopia.
Na época, a jovem estava com 118 quilos.
Para mãe, Fabiana foi precipitada e não deu a devida atenção aos riscos da cirurgia. Queria mesmo era emagrecer.
Hoje, Alda conta que procura alertar os jovens que estão no mesmo caminho e decidos a se submeter ao procedimento. “Eu fico desesperada querendo ajudar”, afirmou. “O problema está na cabeça e não no estômago, completou.
Para o cirurgião James Câmara, muito se fala dos riscos e pouco dos benefícios.
Uma das primeiras orientações que procura repassar aos pacientes que atende, declarou, é evitar ouvir histórias que não deram certo. “A cirurgia não é mágica, é parte do tratamento”, finalizou.
Elverson Cardozo/Campo Grande News/DF
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