Imagem: melmicheletti.wordpress.com

Sou ADMINISTRADOR (com muito orgulho), devidamente registrado no Conselho Regional sob nº 14.094-CRA/PR, desde 2002; também sou empreteco formado pelo Sebrae em 2004, mas quero ser reconhecido pela minha profissão: Administrador de Empresas e não como um mero empreendedor!

Recuso-me a ser igualado, em nível empresarial, a qualquer outro profissional que carregue o título contemporâneo de empreendedor e que não tenha a devida qualificação acadêmica arduamente conquistada nos bancos escolares.

Sou Diretor Secretário da Associação Comercial e Empresarial de Eldorado-MS, desde 2008 e ainda autor do livro  Administração por Pequenos, para Pequenos e com Pequenos, publicado em 1994 através de um concurso nacional do Sebrae: escrito no último ano de formação acadêmica quando percebi que muitos empresários poderiam conseguir resultados muitas vezes melhores para suas empresas apenas empregando as técnicas administrativas disponíveis àquela época, já que não tinham formação de Administrador para gerenciarem seus negócios.

Percebo, com meus mais de treze anos de labor administrativo, que o seu conteúdo continua tão atual e necessário quanto era em 1994.

Aliás, é oportuno registrar aqui que este é sem dúvida o maior dos problemas enfrentados pelas empresas, já desde há muito tempo: não se exige formação profissional de Administrador para abertura e gerenciamento de empresas, basta conseguir os recursos financeiros para começar e pronto.

Por não ter essa qualificação primordial temos uma grande quantidade de empresas fechando as portas ou mesmo “quebrando” a vida dos ditos empresários, ainda nos primeiros seis meses de funcionamento.

Desde o tempo que publiquei o livro todos sabem desse mal e vêem veementemente tentando combatê-lo paliativamente (porque os cursos são pontuais, específicos, enquanto a necessidade é generalizada e ampla) oferecendo cursos e capacitações em vez de oferecer a única medida definitiva possível: exigir, por meio de lei, que todo candidato a empresário tenha que ter a, comprovadamente necessária, formação em Administração como condição obrigatória para qualquer pretendente a empresário.

Ora, só pela estatística oficial da mortalidade de novas empresas por falta de conhecimento para exercer a atividade, já se justifica a necessidade da exigência da formação acadêmica e profissional, ou vamos continuar considerando o Administrador como um profissional menos “imprescindível” do que o Contador, o Médico, o Farmacêutico, entre outros...

Podem argumentar que esta exigência acabaria com a livre iniciativa de abrir o meu próprio negócio, de empreender, como querem definir ultimamente, pois eu lhes digo, onde está essa mesma iniciativa quando eu quero abrir uma farmácia(que é uma empresa, ou não é?!) e sou obrigado a ter o profissional para assinar ou quando quero abrir um escritório de contabilidade(que é uma empresa também) e preciso ter o devido registro...

Me parece, similarmente muito simples, exigir que qualquer um que queira abrir uma empresa precise ter um Administrador, no mínimo dos mínimos. Podem querer argumentar que o Administrador não é garantia de que a empresa não vá fechar já no á início porque existem Administradores e administradores e eu já contra-argumento lembrando que também existem Farmacêuticos e farmacêuticos e por isso mesmo não temos a garantia de que vamos obter o remédio correto, igualmente ficamos dependendo da formação de cada profissional, mas isso é assunto para outra oportunidade.

Diferentemente dessa situação, já esta comprovado pela experiência do Sebrae e de outros tantos órgãos de apoio ao empresariado que a falta de conhecimento técnico é maior obstáculo ao sucesso de qualquer empreendimento empresarial.

Se não fosse assim porque investiram tanto em oferecer tantos cursos e qualificações para tentar diminuir a mortalidade das novas empresas?!

Em minha modesta opinião, falta coragem e força representativa para que se promulgue uma lei que exija a formação de Administrador para qualquer empresa ou empresário, mesmo que seja de forma similar a exigência do farmacêutico, por exemplo.

Tenho absoluta certeza de que esta exigência legal não existe ainda porque os ditos empresários (sem formação) não reconhecem esta necessidade porque “acham” (lembro que a definição de achar é pensar que algo é como é sem buscar tecnicamente a sua definição) que não precisam saber nenhuma técnica de administração para desenvolver um negócio seja ele qual for; basta abrir e “tocar” em frente!

Ledo e histórico engano!

É preciso aprender, de uma vez por todas, que gerenciar uma empresa não é apenas uma posição de “status” é, por necessidade e excelência, uma profissão e deve ser exigida como tal!

Sobre este ponto faço minhas últimas considerações:

• Existe outra profissão criada e desenvolvida para gerir uma empresa?!
• Porque se exige o profissional de Administração apenas nos concursos de órgãos públicos?!
• Porque as grandes empresas só contratam pessoas com uma formação mínima de graduação para seus cargos de Chefia, Diretoria e controle?! Essa eu mesmo respondo: com certeza é porque eles é que vão dar um melhor resultado para a empresa.
• Porque as micro e pequenas empresa têm que remar contra a maré?!

Enfim, deixo no ar estas questões.

Vamos ver outras.

Como se já não bastasse a “venda nos olhos dos legisladores” sobre a exigência do profissional de Administração, parece que existe uma “Teoria da Conspiração” sendo desencadeada contra os Administradores, pois tenho observado, há muito tempo, a fascinação com que os meios de comunicação e até nós mesmos, como administradores, temos valorizado demasiadamente os Empreendedores como se fossem os “Bam-bam-bam” em todo e qualquer lugar, mas principalmente nas empresas, sejam elas de que tamanho forem, esquecendo-nos de que o ambiente empresarial é prerrogativa dos Administradores, que em sua essência e desde a sua criação são tecnicamente empreendedores por, no mínimo, obrigação.

Não é difícil vislumbrar que em um futuro próximo tenhamos que mudar o nome de nossa gloriosa profissão de ADMINISTRADOR para Empreendedor.

Acredito que essa “conspiração” existe porque não estamos dando a devida importância ao agigantamento desse movimento, mas precisamos observar com mais cuidado as situações que nos envolvem nesse aspecto.

A valorização e os “poderes” dados aos empreendedores fazem com que estes pareçam superseres e por conseqüência acabam por desvalorizar os Administradores, pelo simples fato de que todas as qualidades atribuídas aos empreendedores são as mesmas que fazem parte da formação e da profissão do Administrador.

No fundo esta valorização dos empreendedores vem a ser um grande obstáculo a superar no reconhecimento da necessidade da formação acadêmica do Administrador para ser empresário ou ter uma empresa, como já foi esclarecido acima.

Esta se criando a figura, não-acadêmica, do empreendedor, como o profissional que veio para salvar as empresas de suas mazelas, como se o simples espírito empreendedor fosse a cura para todos os problemas enfrentados por uma empresa ao longo de seu desenvolvimento.

Isso é puro placebo, uma falácia, uma máscara para encobrir e principalmente tentar fugir do remédio amargo que deve ser exigir a obrigatoriedade de um Administrador em cada empresa como condição sine qua non para sua existência e funcionamento.

Pensei em esgotar este assunto, mas ele sempre vai voltar à tona quando se falar de qualquer problema com as empresas.

Falta conhecimento técnico para os empresários levarem em frente os seus empreendimentos com o mínimo de garantia de sobrevivência.

Não precisa ser um gênio para saber disso, mas precisa ter coragem para admitir que é preciso ter este conhecimento para ser um bom empresário.

Observemos as palavras do Adm. Roberto Carvalho Cardoso, então Presidente do Conselho Federal de Administração, já em 2009: “Hoje, cada vez mais profissionais qualificados e registrados nos CRAs estão à frente de cargos estratégicos em órgãos públicos e empresas privadas. São profissionais capazes de observar, questionar, interpretar, liderar e tomar decisões com foco em cada fase do projeto. Empreendedorismo (grifo meu), dedicação, comunicação, ousadia e percepção somam-se às qualidades dos Administradores, profissionais imprescindíveis para o sucesso das organizações”.

Como se vê, está mais do que claro que todo Administrador é um empreendedor, já o contrário não é verdadeiro.

Vejamos o que diz um autor técnico de administração: “[...] as organizações desejam profissionais de Administração com as seguintes características: Capacidade de identificar prioridades; Capacidade de operacionalizar idéias; Capacidade de delegar funções; Habilidade para identificar oportunidades; Capacidade de comunicação, redação e criatividade; Capacidade de trabalho em equipe; Capacidade de liderança; Disposição para correr riscos e responsabilidade; Facilidade de relacionamento interpessoal; Domínio de métodos e técnicas de trabalho; Capacidade de adaptar-se a normas e procedimentos; Capacidade de estabelecer e consolidar relações; Capacidade de subordinar-se e obedecer à autoridade. MEIRELES (2003, p. 34). São características desafiadoras, não é fácil desenvolvê-las; sustentá-las é ainda mais complicado. Essa é exatamente a missão do Administrador, vencer todos seus desafios e mostrar sua capacidade de se manter e crescer, nos mais diferentes cenários. Somente assim o Administrador será considerado capaz de Administrar.”

Agora, vamos ver o outro lado da moeda, o que está escrito no site do Sebrae sobre o Empretec (melhor curso para desenvolvimento dos empreendedores), programa desenvolvido pela ONU e aplicado no Brasil e no Mundo para desenvolver as características dos melhores empreendedores.

São elas: busca de oportunidades e iniciativa; persistência para enfrentar os obstáculos e buscar o sucesso; disposição de assumir desafios e responder por eles; exigência de qualidade e eficiência; comprometimento com a colaboração com os funcionários e esmero com os clientes; busca constante de informações sobre clientes, fornecedores, concorrentes e sobre o próprio negócio; estabelecimento de metas claras para a empresa; planejamento e monitoramento sistemáticos com estabelecimento de tarefas de forma objetiva e com prazos definidos; ter persuasão e manter uma influente rede de contatos; manter a independência e a autoconfiança.

Ora, essas são as características atribuídas aos Administradores há muito tempo, entre outras, mais técnicas que não são ensinadas num curso de curta duração como esse.

Como disse no início, sou empreteco, fiz esse curso e posso dizer com toda certeza que ele me fez ser um Administrador melhor mas não me fez Administrador tão pouco qualquer um dos 136 mil empreendedores já formados nesse curso no Brasil.

Se observarmos as definições do Presidente do CFA e do autor Meireles veremos, que sem sombra de dúvida, o Administrador é mais completo como profissional do que o empreendedor definido pela ONU, por isso que não aceito a valorização do empreendedor e a omissão do Administrador como a chave mestra para o sucesso de qualquer empresa.

Hoje, mais do que nunca, no meu Dia de Administrador, quero registrar este protesto, conclamar aos colegas de profissão que se conscientizem do seu verdadeiro papel na vida empresarial de nosso país para juntos e com a força da união, através de nossos conselhos de representação, façamos valer nossos direitos para que tenhamos um futuro melhor para nosso Brasil.

“Prometo dignificar minha profissão, consciente de minhas responsabilidades legais; observar o Código de Ética, objetivando o aperfeiçoamento da ciência da Administração, o desenvolvimento das instituições e a grandeza do homem e da Pátria!” Assim eu prometo e não sou pessoa de fazer promessa vãs!

Feliz Dia do Administrador a todos aqueles que como eu não se acomodam na busca de seu verdadeiro lugar nesse mundo!