Chega ao fim a era de Trichet no comando do BCE
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Se Alan Greenspan, ex-presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), teve a biografia manchada pela crise financeira global iniciada em 2008, qual será a imagem deixada por Jean-Claude Trichet, 69 anos, no comando do Banco Central Europeu (BCE)?
Uma coisa é certa: ele teve uma tarefa difícil. Após oito anos de mandato, sua saída – prevista para ocorrer na segunda-feira - ocorre no pior dos cenários, levando em consideração a grande crise fiscal que afeta diversos países da Europa. Os líderes da região demoraram a chegar a um acordo para reduzir 50% da dívida da Grécia, ao mesmo tempo em que políticos titubeiam em agir com mais firmeza para resolver a falta de liquidez do setor bancário.
Neste contexto, Trichet foi considerado um dos principais guerreiros na frente de batalha, junto com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy. Se é preciso destacar algo positivo, o presidente do BCE será lembrado por ter salvado a existência da moeda única europeia - ao menos por enquanto.
Para driblar a crise, ele não poupou esforços: passou por cima do seu tradicional conservadorismo ao comprar títulos da Itália e da Espanha com o objetivo de proteger a divisa e reestabelecer a confiança dos investidores no mercado financeiro mundial.
A ação foi condenada na época já que o BCE estava acumulando ativos tóxicos. As compras de bônus provocaram um conflito no conselho da autoridade monetária, com o economista-chefe Juergen Stark se aposentando, aparentemente por não concordar com a medida, e Axel Weber, presidente do Bundesbank (banco central alemão), abandonando a sucessão de Trichet por não concordar com a decisão.
Apesar disso, a resposta da Europa à crise minimizou os temores de que outras nações além da Grécia, como Portugal e Irlanda, pudessem cometer calotes, aliviando assim a tensão nos mercados.
O poder do BCE
Jean-Claude Trichet vai deixar para trás uma instituição cujos papel e autoridade cresceram fortemente desde a crise financeira global de 2008. Além de exercer a função de árbitro da política monetária, o BCE também foi credor governamental, fiscalizador dos cortes orçamentários de governos e supervisionou até os desentendimentos entre diversas nações da Europa.
Foi um papel que Trichet assumiu com relutância e sem muita escolha. Ele sai do comando da autoridade monetária e deixa uma tarefa difícil ao seu sucessor, o italiano Mario Draghi, até então presidente da Comissão Europeia e governador do Banco Central da Itália.
Draghi herdará uma instituição que se tornou envolvida profundamente com o sistema bancário, os mercados financeiros e o processo político. Durante seu mandato, Trichet pressionou governos para a adoção de medidas de austeridade, com o objetivo de reduzir o déficit da Zona do Euro e evitar futuras crises.
Em relação ao atual presidente do Fed, Ben Bernanke, Trichet também será recordado como menos agressivo sobre o uso de medidas para estabilizar o sistema bancário, e mais rápido para elevar as taxas de juros para evitar problemas relacionados à inflação.
Avaliação
Muitos acreditam que levará anos até que fique claro se Trichet conduziu o BCE pelo caminho certo. "O livro ainda está aberto e a avaliação das políticas do BCE durante esta crise somente será possível daqui um tempo", afirmou Marie Diron, consultora econômica sênior da Ersnt & Young, em declaração à Associated Press. “Mas no geral ele deixa o BCE numa posição mais forte”, opina.
No que depender de seus funcionários, uma avaliação positiva já está garantida. O IPSO, sindicato que representa os trabalhadores da autoridade monetária, promoveu uma pesquisa para medir o desempenho de Trichet.
O levantamento, que contou com a participação de 500 funcionários, mostrou que 65% dos trabalhadores consideraram “bom” ou “excelente” a performance do presidente do BCE.
O resultado significa que ele foi “bem sucedido e aumentou a reputação da autoridade monetária, além de ter se comunicado claramente com o mercado", destaca a pesquisa. "Da perspectiva de valores, Jean-Claude Trichet é visto como competente, comprometido com seu trabalho e com um elevado nível de eficiência e integridade”, acrescenta o relatório.
Aprovado
- 71% dos entrevistados consideram que Trichet aumentou a reputação do BCE;
- 75% acredita que o ex-presidente da autoridade monetária comunicou com clareza as mensagens enviadas ao mercado financeiro;
- Mais de 60% dos entrevistados no estudo destacaram a competência, eficiência e integridade como pontos fortes de Trichet;
- 53% dos funcionários consultados afirmaram que as decisões tomadas por Trichet foram as mais adequadas diante das circunstâncias;
- 60% dos participantes disseram que Trichet não respeitou o princípio de que “os funcionários do BCE são o ativo mais valioso da instituição”.
Portal Exame/ V.H.
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