Chega ao país uma nova geração de utilitários esportivos — os carrões que aliam design moderno, recursos de um fora de estrada e conforto de um sedã de luxo

São Paulo - Numa época em que somos descritos, em larga medida, pelos produtos que queremos e podemos comprar, os carros são uma espécie de cartão de visitas. Não se trata somente de adquirir um meio de transporte ou exibir status social.

Carros, em geral, cumprem essas funções, mas também indicam traços da personalidade do dono (ou traços da personalidade que o dono gostaria de ter). Poucos casos tornam essa questão mais explícita que o dos utilitários, os carrões 4x4 que circulam nas grandes cidades.

Veículos preparados para rodar pelas estradas mais esburacadas e atravessar lamaçais e até rios desfilam quase sempre pelo asfalto das cidades. Esse fenômeno é mundial e explica a importância que os utilitários ganharam na indústria automobilística. No Brasil, estima-se que, de cada dez pessoas que compram um 4x4, nove morem nas cidades — e muitas delas nunca irão sujar seu carro com barro.

Hoje, uma das brigas renhidas das montadoras é no segmento híbrido dos carros que têm os recursos de um fora de estrada, a posição de dirigir de um hatch e o conforto e o requinte de um sedã de luxo. Essa é a definição para o que o mercado chama de utilitário esportivo, ou crossover de luxo, no jargão dos entendidos.

Além de escapar do design tradicionalmente quadradão dos fora de estrada, esses carros apresentam motores menores e mais econômicos, uma tentativa de acabar com a imagem de ecologicamente incorretos dos SUVs.

No Brasil, dois dos principais destaques desse novo segmento são o BMW X1, um carro com preço a partir de 116 000 reais que não faz feio numa pista de corrida, e o Volvo XC60, esse com preço mínimo de 169 000 reais. Em questão de meses, vai esquentar ainda mais a disputa pelo consumidor urbano com mais de 150 000 reais para investir.

Até o final do ano, deve chegar o Audi Q3, mas a estreia mais aguardada é a do Range Rover Evoque, a primeira incursão da tradicional Land Rover nesse segmento. O lançamento em São Paulo deve ser na primeira semana de dezembro. “Ao lado da China, o Brasil é o mercado que mais cresce no mundo para a Land Rover.

Em 2010, o aumento das vendas foi de 60%, e neste ano deve ultrapassar os 70%”, diz Flavio Padovan, diretor-presidente da Jaguar Land Rover para a América Latina. 

Dentro da família Range Rover, a mais luxuosa da marca, o Evoque terá o melhor preço. Custará menos de 180 000 reais — o valor exato ainda não foi definido. Em termos de visual, suas linhas seguem as do carro-conceito LRX, apresentado há três anos.

Coincidência ou não, o fato é que 2008 entrou para a história como o ano em que, pela primeira vez, mais da metade da população do mundo passou a viver nas cidades. O sucesso dos utilitários esportivos é a prova de que a crescente urbanidade não acabou com o anseio de parte das pessoas de ter aventuras no meio rural — mesmo que esse sonho nunca se realize.