A História de Mundo Novo
Cultura - História
O território de Mundo Novo nunca foi palco de grandes batalhas ou de outros acontecimentos históricos importantes. Sua fama de pobreza em matéria de materiais preciosos e pedrarias, manteve-o livre de incursões predatórias ao longo dos anos e séculos. Apenas não conseguiu evitar as tropelias dos mamelucos à caça de índios para escravizar, nos primeiros tempos de colonização. Passada, porém, aquela fase cruel, pode-se dizer que reinou paz quase completa e constante naquela região. O que acontecia de desagradável por perto, só afligia a população branca ou ameríndia que vivia do outro lado do Rio Paraná e dependia da corte espanhola ou do via-rei do Peru.
Nem mesmo a longa guerra da Tríplice Aliança – que envolveu o Brasil – trouxe grande perturbação ao lado brasileiro da fronteira meridional. Ali não havia valore que avolumassem a pilhagem, nem Fortes ou guarnições militares, que representassem perigo. Tudo isso se encontravam no Noroeste. Por isso, lá é que se realizavam os feitos de Antônio João e as proezas do Coronel Camisão e do Guia Lopes.
Todas as localidades em que se exacerbou o conflito são consideravelmente afastadas de M.N.: Uruguaiana, Riachuelo, Tuyuti, Curupaty, Humaitá, Ytororó, Lomas Valentina (sic). Aquelas em que se travaram os últimos empates – Piribebuy ( 12 de agosto de 1869) e Cerro Corá (1º de março de 1970) se encontravam mais longe ainda, no extremo ocidental do Paraguai.
Decorridos os seis anos de guerra, houve uma espécie de confraternização ao longo da fronteira do rio Paraná. Nas margens deste caudaloso curso d’água, bem como, nas vizinhanças, paraguaios passaram a residir no lado brasileiro da fronteira, e brasileiros fizeram o mesmo no lado paraguaio.
Décadas e décadas decorreram, sem que qualquer fato mais grave intranquilizasse aquela gente. As duas grandes guerras mundiais, já no século XX, não o afetaram e o mesmo ocorreu com a guerra do Chaco, ali bem mais próxima, e mais recente.
Apesar disso, a colonização não progredia satisfatoriamente. Os latifúndios permaneciam estagnados. Em 1950, as características locais ainda eram praticamente as mesmas do século anterior.
Em 1953, chegou à região um imigrante baiano chamado Bento José Luís, mais conhecido pelo alcunho de Bentinho. Em novembro de 1982 este pioneiro de M.N. prestou eloqüente depoimento que pinta em cores vivas, as dramáticas circunstâncias em que o colono devia viver naquela época.
Bentinho, ao aqui chegar, trouxe consigo uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, de um metro de altura, e, para ela, construiu uma capelinha de estuque.
Começou, então, a desenvolver sua roça, depois de desmatar uma pequena área. Mas era tudo muito difícil. Havia na região muita onça pintada e parda, além de porco-do-mato, antas, capivaras e pacas.
O maior perigo era representado pelas cobras venenosas, de que havia enorme quantidade e muitas espécies. Bentinho tinha dias de matar dez ou doze cobras peçonhentas em sua pequena roça.
De vez em quando, ele ia até Guaíra para fazer compras. Ia tenso, de cavalo e com uma machete na mão, para cortar as taquaras que impediam a passagem. Geralmente, saía a 5:00 da manhã. Na volta, depois de 2 dias, partia de Guaíra a 5:00 da tarde e viajava para casa durante à noite inteirinha.
Não encontrava quem quer que fosse pelo caminho. No trajeto, porém ficava a propriedade de outro colono, que ele só conhecia de vista.
Quando chegou o tempo da 1ª colheita, Bentinho pode avaliar a gravidade da situação que se encontrava. O que fazer com sua produção?
Uma vez ou outra aparecia por ali alguém a procura de 2 Kg de arroz, de meio quilo de fumo, de vassoura e de um pouco de alho. Mas o grosso de sua colheita ficou encostado, sem a menor esperança de venda.
Continuou, porém, a plantar. Fazia-o, segundo disse, somente porque estava acostumado desde São Paulo.
Afinal, com a construção da estrada entre Iguatemi e a margem do Rio Paraná, as coisas começaram a melhorar (1965). Levava-se a produção até à beira do rio, embarcava-se a carga, e viajava-se para o território paulista onde se efetuavam as vendas.
Nessa época, e durante seis anos, Bentinho tomou conta de uns índios Caiuás (Kaiwas), que contavam umas 600 famílias e viviam numa aldeia situada perto de sua propriedade. Ele os atraía com tecidos de cor vermelha e com pedaços de excelente fumo de solo, vindo de sua terra natal.
O início do povoamento foi em 1955, foi lento e com famílias oriundas do estado de São Paulo. Nesta área de terra situada na fronteira do Brasil com o Paraguai teve início pelo fazendeiro Adjalmo Saldanha. Este loteava sua própria fazenda e vendia lotes as famílias interessadas em residir nesta região. Assim, começou o desmatamento do lugarejo que passou a ser conhecido por Tapui-Porã ( da língua tupi-guarani: Rancho Bonito).
Oscar Zandavalli, um colonizador de fibra, chega em 1955. Possuindo 901 alqueires de terra, passa a efetuar aqui vendas a outras famílias, que ele mesmo trazia do Estado de São Paulo.
Ele residiu aqui durante 6 anos, ou seja, até a morte, em 17 de junho de 1962, vítima de assassinato em plena rua principal da vila ( atualmente a avenida Adjalmo Saldanha). Zandavalli, homem inteligente dedicava-se ao comércio: aqui ele possuía farmácias, serrarias, frota de veículos, e posto de gasolina em São Paulo, além de ter sido corretor.
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