Foto: Painel Florestal

Em entrevista exclusiva, Germano Vieira explica detalhes da produção florestal e dos preparativos para início de operação da fábrica em Três Lagoas

Em visita à sede da Painel Florestal, o diretor florestal da Eldorado Brasil falou sobre os projetos e questões técnicas da produção de madeira que vai abastecer a maior fábrica de celulose do mundo, que deve entrar em operação dentro de exatamente um ano.

Confira a entrevista:

Painel Florestal – Germano, agora com a fusão, finalmente, da Florestal Brasil com a Eldorado, o que muda?

Germano Vieira – Bom, nas atividades florestais, agora passa a ser uma empresa só, e eu, como diretor florestal, estou conduzindo toda a parte de suprimento de madeira para a indústria de celulose da Eldorado Brasil. Este mês passado, mês de novembro, nós chegamos a plantar 4.100 hectares e vamos fechar este ano com quase 31 mil hectares plantados na Eldorado Brasil. 

Painel Florestal – Neste mês de dezembro serão, então, 4.500. É isso, confirma?

Germano Vieira – Aproximadamente, talvez até um pouco mais.

Painel Florestal – Total, continua 210 mil hectares?

Germano Vieira – Sim, total continua 210 mil hectares.

Painel Florestal – Agora, para a fábrica que vai ser inaugurada em 2012, tem madeira suficiente para que essa fábrica comece a funcionar na data prevista?

Germano Vieira – Na verdade, a estratégia de suprimento de madeira foi pensada de duas formas: já existiam alguns plantios em andamento, com quatro anos, cinco anos, e ainda tinha um déficit de madeira, que está sendo suprido principalmente do Estado de São Paulo.

Painel Florestal – Vocês estão trazendo, então, madeira do Estado de São Paulo?

Germano Vieira – Exato, nós estamos trazendo. Esse déficit ele é composto do suprimento de 50% do Estado de Mato Grosso do Sul – madeira de mercado – e 50% do Estado de São Paulo.

Painel Florestal – Essa madeira do Estado de São Paulo está vindo como? Via fluvial?

Germano Vieira – Felizmente a localização da nossa indústria permite que nós utilizemos o transporte hidroviário, e nós vamos trazer madeira descendo o Tietê, e vamos conseguir abastecer a fábrica, chegar com essa madeira, via fluvial, dentro da nossa indústria. 

Painel Florestal – Quando é que Mato Grosso do Sul será autossuficiente? Quando é que a madeira de Mato Grosso do Sul será suficiente para movimentar somente a Eldorado?

Germano Vieira – A partir de 2017 teremos madeira da Eldorado, plantada pela Eldorado, com a totalidade para suprir a nossa demanda. 

Painel Florestal – Vocês estão fazendo testes clonais, com alguns clones específicos. Como é esse processo? Qual o objetivo dele?

Germano Vieira – Mato Grosso do Sul permite e te dá uma perspectiva de produtividade maior do que a que nós estamos alcançando hoje. As florestas plantadas em Mato Grosso do Sul estão gerando entre 35 e 40 metros cúbicos por hectare/ano. Existem alguns trabalhos, alguma modelagem, que diz que no Mato Grosso do Sul nós podemos chegar a até 45, até 50 metros cúbicos por hectare/ano. E é esse o nosso objetivo, é alcançar isso. Para isso, nós contratamos profissionais da área de melhoramento, da área de tecnologia da madeira, da área de manejo de silvicultura, e esses profissionais, também com muita experiência, com mais de dez anos de experiência em outras empresas, estão montando toda a nossa base genética florestal para que, através de cruzamentos, de melhoramento genético tradicional, a gente consiga alcançar níveis de 42 a 45, quem sabe até um pouco mais, daqui a uns anos.

Painel Florestal – Quanto tempo, mais ou menos? Tem uma estimativa?

Germano Vieira – Nós estamos acreditando que dentro de onze anos nós vamos ter o nosso primeiro clone, fabricado com as nossas características, dentro dos fatores ambientais do nosso site, e estamos fazendo uma aposta em torno de 45 metros cúbicos por hectare/ano. Mas isso o nosso clone, o clone Eldorado 1, Eldorado 2, e outros que virão, serão plantados, de forma segura, entre oito a onze anos. 

Painel Florestal – Vocês acabaram de adquirir agora 120 máquinas para colheita florestal. Essa colheita começa quando, e que máquinas foram essas?

Germano Vieira – A colheita começa em junho de 2012, e o sistema que nós adotamos é o de colheita de madeira de seis metros de comprimento e madeira sem casca. Nós vamos entregar na fábrica, quando ela estiver operando em sua capacidade total, cerca de seis milhões de metros cúbicos sem casca por ano. E essas máquinas, são máquinas com uma tecnologia embarcada muito grande, e para isso nós temos que ter o operador adequado. E não é só colher esse hectare. Nós temos que colher esse hectare, cada hectare desses é qualificado, com a qualidade intrínseca da madeira, a densidade, a qualidade para a fabricação de celulose.

Painel Florestal – E quantos profissionais serão necessários?

Germano Vieira – São 400 profissionais que nós estamos buscando. 

Painel Florestal – E além de ter mais a logística toda. Vocês vão ter inclusive um sistema moderno de recebimento dessa madeira na fábrica, não é?

Germano Vieira – Funciona da seguinte forma: o caminhão, quando sai da indústria, já recebe, automaticamente, uma demanda de madeira em tal lugar, que a classificação da madeira é tal, e ele vai para aquela fazenda, para aquele talhão, buscar essa madeira. Ao se aproximar dessa madeira, onde tem as nossas máquinas de carga, essa máquina já reconhece o caminhão, o caminhão já é reconhecido e já entra numa fila virtual de prioridade de carga, ele é carregado e retorna. E todo esse processo é monitorado online, via satélite, com a posição do caminhão, o número de ciclo, a velocidade em que ele está, exatamente porque é uma fábrica que vai funcionar 24 horas e 365 dias por ano, então você não pode parar nem um momento de ter essa atenção no abastecimento dessa indústria.

Painel Florestal – Vocês estão preocupados com a moradia de tanta gente, dessas pessoas todas que vão trabalhar na Eldorado a partir de 2012? Tem moradia para todo mundo, já que Três Lagoas hoje carece de residências?

Germano Vieira – Olha, esse é realmente um fato preocupante. Nós temos que, além de equacionar toda essa parte técnica de dar o treinamento adequado, e toda essa estrutura de apoio que o projeto requer, nós temos que ter as pessoas para ser treinadas, para trabalhar na empresa, e nós temos que ter moradia para essas pessoas, e não só moradia. Além da moradia, nós temos que ter todo o suporte social que isso requer, como supermercado, hospitais, educação para os filhos dessas pessoas. São pessoas que, provavelmente, serão novos residentes em Mato Grosso do Sul, às vezes filhos de Mato Grosso do Sul, às vezes não, mas são pessoas que vão passar a viver no Estado. Para isso precisa de todo esse suporte social das cidades do entorno de Três Lagoas, não só Três Lagoas, mas as cidades de Inocência, Água Clara, Selvíria, todas essas cidades vão ser altamente demandadas desses serviços.

Painel Florestal – Existe algum projeto de a Eldorado mesmo construir casas para esse público?

Germano Vieira – A Eldorado tem um projeto em Três Lagoas, que já está em andamento, de construção de casas, e a Eldorado tem trabalhado para ver qual a viabilidade de aumentar essa oferta de residências para todos esses funcionários. E, obviamente, isso tem que ser compartilhado com o poder público, tanto estadual quanto municipal.

Painel Florestal – Está mantida, então, a data da inauguração, sem falhas?

Germano Vieira – Exatamente. O startup da fábrica se dará em novembro de 2012, e provavelmente em dezembro nós estaremos cortando lá a fita, inaugurando a indústria.

Painel Florestal – Muito obrigado pela entrevista, Germano, boa sorte no novo projeto e seja bem-vindo a Mato Grosso do Sul.

Germano Vieira – Muito obrigado.