Drica Moraes lembra da sua saída no meio da novela 'Império' — Foto: Reprodução/Instagram

A novela Império estava bombando e a Cora era um dos grandes destaques da trama. Foi nesse cenário, de gravações intensas e grande popularidade, que Drica Moraes se viu em uma situação bastante delicada. Após gravar diversos capítulos como a vilã da trama, a atriz teve problemas de saúde e precisou ser afastada para se dedicar a sua melhora. Passados sete anos desde o fim da trama, Drica relembra como tudo aconteceu:

"A Cora foi um dos grandes presentes que eu tive na vida. Eu já estava completamente curada da leucemia que eu tive em 2010. Já havia feito a novela 'Guerra dos Sexos' e 'Império' foi a primeira vilã de novela das 9 que tem uma jornada de trabalho bastante intensa, que me demandou muita energia. Então, a partir do capítulo 164, eu sofri uma falta de voz, uma fonia aguda e não consegui mais comparecer às gravações. Tirei uma semana de descanso mas, mesmo assim, a voz não voltava."

Com a necessidade de focar na saúde, Drica teve que ser afastada permanentemente da trama, sendo substituída por Marjorie Estiano, que deu vida a Cora na primeira fase de Império. Com a transição acontecendo em tempo recorde, muitos ficaram impactados com a solução encontrada pelo autor para dar continuidade às vilanias da personagem.

"A princípio, foi uma solução que me causou espanto. O Brasil e eu não sabíamos se aquilo ia dar certo, nem a emissora, nem os diretores e nem o autor. Foi uma saída plausível. Fiquei triste por não poder acompanhar o fim da novela, pois foi um dos trabalhos que mais me trouxe realização, foi um grande personagem. Mas entendi que, naquele momento, era o que havia para ser feito."

Questionada se enxergaria outra solução para a sua saída na novela, caso as gravações acontecessem nos dias atuais, Drica brinca com um possível retorno triunfal e uma reviravolta que daria o que falar:

"Hoje em dia, os tempos estão tão loucos que acho que eu poderia ter voltado no final, na última semana, e ter desmascarado a falsa Cora. Tudo está tão absurdo nos tempos atuais que a CPI da Cora seria até interessante. Hoje em dia, essa história é passado. Virou outra história para contar."

Nutrindo um forte carinho pela Cora, a vilã que o público amava odiar, Drica confessa que está desenvolvendo diferentes percepções ao acompanhar a edição especial de Império.

"Está sendo uma experiência maravilhosa rever a novela tantos anos depois. A gente percebe que o mundo mudou bastante de lá para cá, principalmente sobre a relação homem-mulher, a instituição casamento e o próprio machismo estrutural que reina no nosso país. Mas a novela é uma fotografia de um tempo - e é maravilhosa."

Em Império, Cora era uma mulher amargurada e que vivia atazanando a vida de quem a cercava, principalmente de Cristina (Leandra Leal), sua sobrinha, e de José Alfredo (Alexandre Nero). Mesmo com tantas atitudes odiáveis, Cora protagonizava várias situações hilárias, como o dia em que ela pregou uma peça em Elivaldo (Rafael Losso):

Sobre as várias faces da sua personagem, Drica elogia o autor Aguinaldo Silva e a habilidade que ele tinha de transitar entre o choro e o riso de forma natural:

"Uma situação que eu percebo em relação ao meu trabalho é como o autor tinha a capacidade de passar de momentos dramáticos para momentos de comédia com muita facilidade. E isso na época me impressionava. Eu ficava com os códigos um pouco alterados, sem saber em que tecla bater para realizar as cenas. Mas hoje, vendo o conjunto da obra, acho muito interessante."

Enquanto revê as peripécias de Cora em Império, Drica se dedica a outros projetos na TV e no cinema: "Eu acabei de filmar a quarta temporada do Sob Pressão, onde teve um desdobramento muito interessante da Vera, minha personagem, que é médica infectologista. Deve ir ao ar em agosto. Estou para lançar dois filmes: 'As Verdades', dirigido por José Eduardo Belmonte, e 'Pérola', dirigido pelo Murilo Benício. E, se as aprovações de verba e de tempo forem aprovadas, devo começar a filmar um filme do Jorge Furtado."

E o que o Aguinaldo Silva acha disso tudo?

Autor de Império, Aguinaldo Silva lembra com detalhes o dia em que recebeu a notícia de que Drica Moraes deveria se afastar da trama. Ele conta que teve pouquíssimo tempo para encontrar uma solução e cita a responsabilidade que estava em suas mãos com a escolha de trazer novamente a Marjorie:

"Era uma quinta-feira. Cora teria cenas da maior importância, ainda não gravadas, no capítulo que ia ao ar na segunda-feira. Pensei apenas alguns minutos, e aí liguei para o diretor da novela e lhe disse: 'chama a Marjorie!'. Não tinha outra saída. Todo mundo aceitou correr o risco, mas com uma ressalva: 'se não der certo a culpa é sua!', disseram. Mas deu certo, sim. Para ser bem sincero, não tive nem tempo para arrancar os cabelos e fazer drama."

Hoje em dia, Aguinaldo está revendo a edição especial de Império e confessa que costuma ser muito autocrítico em relação aos seus trabalhos: "Sempre digo para mim mesmo que devia ter me esforçado mais e feito melhor." Ainda assim, ele considera a atitude tomada na novela, de substituir as atrizes, como uma solução bastante corajosa para o universo televisivo:

"Às vezes, numa profissão cheia de riscos como é a de telenovelista, você precisa se arriscar a soltar o trapézio e se deixar cair, mesmo sabendo que lá embaixo não existe uma rede."

Depois de escrever O Sétimo Guardião, sua última novela na Globo, Aguinaldo conta que continua firme e forte fazendo o que mais gosta durante a quarentena: escrever.

"Não sei bem para quê, ou para quem, mas escrevo. Sou um escritor compulsivo. Se parar de escrever, morro."