Foto Ilustrativa: riosvivo.org.br (Usina Santa Luzia - ETH - Nova Alvorada do Sul - MS)

(Várias usinas da região centro-sul do país anteciparam o início da moagem de cana)

Na avaliação do economista Fábio Silveira, da RC Consultores, o cenário atual mostra a necessidade de se intensificar os investimentos no plantio de cana. “Tanto os preços dos alimentos como os da energia serão maiores nos próximos anos e acredito que muita gente vai expandir o plantio de cana no Brasil para produzir açúcar e álcool”, avalia Silveira.

Marcos Jank - presidente da Única - compartilha da opinião do economista e ressalta que, caso esse movimento de intensificação do plantio não se acelere nos próximos dois anos, e segundo estimativa oficial da entidade que congrega as empresas produtoras de açúcar e álcool, estima-se um deficit de 400 milhões de toneladas de cana na safra 2019/2020, o que seria prejudicial não só para o Brasil, mas também para diversos países do mundo que se inspiram na experiência brasileira de construção de uma matriz energética limpa e renovável. 

Enquanto pensa em soluções para o futuro, o Brasil assiste ao esforço das usinas, que mesmo em condições precárias de moagem estão antecipando o início da safra de cana. A Unica informou que no final de maio, as 335 unidades afiliadas à entidade já estavam em funcionamento. Ainda assim, a alta no preço do produto deve persistir ao longo do ano. Segundo cálculos do professor da FEA/USP Marcos Fava Neves, o Brasil precisaria de 15 novas usinas de álcool para conseguir elevar a oferta do combustível aos mesmos patamares da demanda. A expectativa, no entanto, é que apenas cinco novas unidades entrem em operação – no ano passado, foram dez. 

“O ritmo lento da expansão das usinas é a pior notícia que se pode ter. Por conta disso, dificilmente o etanol vendido nos postos voltará à casa de R$ 1,20”, diz. Ainda que volte a usar etanol em lugar de gasolina, o brasileiro desembolsará um valor maior pelo combustível neste ano. Projeções da RC Consultoria indicam que, em 2011, o preço do anidro (que é misturado à gasolina) será, em média, 24% maior que o praticado em 2010. Já o hidratado estará 26% mais caro. 

“Com a entrada da safra, há um movimento de queda no preço e a tendência é que o etanol permaneça competitivo entre os meses de maio e setembro. Mas os patamares de preços verificados em 2010 não vão se repetir”, diz Silveira. 

O comportamento dos preços ao longo dos primeiros meses do ano já indica que esse será um período diferente. Isso porque, em geral, com a entrada da safra de cana, as cotações caem entre 15% e 20%, no entanto, neste ano, a queda oscila entre 10% e 15%. Jank calcula que a estiagem registrada nos canaviais no segundo semestre de 2010 causará redução na oferta de 5 bilhões de litros de etanol neste ano. 

Para a Petrobras Biocombustível, a crise de oferta de etanol é uma oportunidade de crescimento. “Nossa resposta para o problema de abastecimento será o aumento da produção”, diz Miguel Rosseto, presidente da companhia, que planeja produzir 2,6 bilhões de litros em 2014. No ano passado, a empresa ofertou 960 milhões de litros no mercado interno. 

Silveira também defende que a crise de preços é uma oportunidade para novos negócios. “Os dois maiores produtores e consumidores mundiais de etanol são Brasil e Estados Unidos, mas o Brasil é o único que tem condição de ampliar a oferta nos próximos anos. Para isso, vai investir no aumento da produção de cana”, diz. 

O economista entende que a apreensão verificada no mercado interno por conta da alta de preços é passageira e na próxima década o Brasil vai abastecer os EUA. “Devemos exportar entre dez e 15 bilhões de litros para lá”, afirma. Antes disso, no entanto, ainda é preciso que a oferta de etanol alcance o mesmo patamar de consumo no mercado interno.