Quarta-Feira 25/06/2025 18:49

Mito: os militares impediram um golpe comunista em 1964

Brasil - Cultura - História Brasileira

A verdade: Jango era um político trabalhista, não comunista. E a luta armada só ganhou adeptos depois do "golpe".

 

“Marxistas estão organizando camponeses no Brasil”, estampava a primeira página do New York Times, no dia 23 de outubro de 1960. O jornal tinha enviado seu correspondente Tad Szulc ao engenho Galileia, nos campos canavieiros de Pernambuco, onde nasceram as Ligas Camponesas – sociedades de ajuda mútua de camponeses que surgiram em 1955 com o mero intuito de prover caixões dignos para seus mortos, mas que chegaram aos anos 1960 como o maior movimento rural do País. Nas palavras exaltadas de Szulc, as Ligas tinham feito do Nordeste brasileiro um criadouro para a “organização e doutrinação” de comunistas, com objetivo de criar um “exército político de 40 milhões”.

Essa história era familiar para a opinião pública americana e refletia um medo comum entre militares brasileiros – o de que comunistas estavam preparando uma guerra revolucionária para fazer do Brasil uma grande Cuba. A movimentação das Ligas no campo e de sindicatos com dirigentes comunistas nas cidades seria um sintoma disso. Mas não era para tanto. Embora a revolução cubana e a figura romântica de Che Guevara pudessem inspirar jovens idealistas, a luta armada estava fora dos planos das esquerdas brasileiras.

A Revolução Cubana pode até ter inspirado jovens de esquerda, mas Jango estava muito longe de ser um líder revolucionário (Divulgação/Reprodução)

Foto: brasilescola.uol.com.br/ -  O anúncio das Reformas de Base inflamou as tensões políticas que tomaram conta do Governo João 

 

Para começar, Jango não era comunista. Marxistas ortodoxos defendem o fim da propriedade privada dos meios de produção. Já Jango era um advogado proprietário de terras gaúchas. Mas esse tipo de detalhe não importava. Nos tempos de Guerra Fria, bastava dialogar com a esquerda para ser comunista. A base eleitoral de Jango sempre foram trabalhadores e as camadas mais pobres. No Ministério do Trabalho de Getúlio (1953-1954), apoiou sindicatos, não reprimiu greves e tentou dobrar o salário mínimo. Acabou demitido. No Planalto, aproximou-se dos movimentos sociais para pressionar o Congresso nas ruas a aprovar reformas. Acabou deposto.

Seu partido, o PTB, também passava longe do comunismo. Pelo contrário, foi criado por Getúlio Vargas, em 1945, para disputar com os comunistas o eleitorado de trabalhadores urbanos. Enquanto o PCB falava em “luta de classes”, o PTB usava o Ministério do Trabalho para domesticar os sindicatos. Assim, Getúlio ficou para a história como “pai dos pobres – e mãe dos ricos”.

Conforme o País se industrializou, uma ala do PTB deu uma guinada em direção a um nacionalismo de esquerda. Quando governou o Rio Grande do Sul (1959-1963), Brizola encampou as companhias americanas que forneciam eletricidade e telefonia no Estado, e ameaçou uma guerra civil para garantir a posse de Jango, em 1961. Mas esse nacionalismo radical não se confundia com comunismo. Estava muito mais próximo do anti-imperialismo do egípcio Nasser, do indiano Nehru e do indonésio Sukarno, líderes que rejeitavam a liderança tanto dos EUA quanto da URSS na Guerra Fria.

Até o velho PCB perdeu o espírito revolucionário. Em 1958, o Partidão renunciou à revolução armada. Em vez de lutar contra a burguesia, seu novo objetivo era chegar ao poder pela via legal, apoiando um governo nacionalista eleito. Jango era o aliado perfeito. Uma vez no poder, o PCB passaria a lutar contra o “imperialismo” (o capital estrangeiro) e o “feudalismo” (o latifúndio). Empurrara com a barriga a “ditadura do proletariado”, com prazo indeterminado.

“Com a posse de Goulart, a ideologia do PCB parecia encontrar uma base real de sustentação política”, afirma Marcelo Ridenti, professor de sociologia da Unicamp. “O chamado populismo de esquerda e o PCB tinham muitos pontos de contato. Ambos reivindicavam a libertação do povo para a construção de uma nação brasileira, independente do imperialismo e livre do atraso feudal remanescente no campo.”

Mas a direita civil e militar tinha seus motivos para ver a radicalização de outra forma. Desde meados da década de 1950, a Escola Superior de Guerra e outros think tanks de direita divulgavam o temor de que uma guerra não convencional estava em curso no Terceiro Mundo, com o objetivo de implantar o comunismo. Já tinha acontecido na Indochina (1946), em Cuba (1956-1959) e na Argélia (1956-1962). Esse conflito não envolveria Estados, mas um “inimigo interno”, que agiria em todos os níveis da sociedade. Seus meios seriam a doutrinação, a mobilização de massas e a luta armada. No Brasil, só faltaria o último elemento.

Tudo ficava mais ameaçador para a direita com a popularidade da Revolução Cubana entre a esquerda. “Ela foi muito bem recebida por todas as correntes ditas progressistas no início da década de 1960, da esquerda católica aos comunistas, dos trabalhistas aos socialistas”, afirma Ridenti.

Mas não havia risco real de que se instalasse no Brasil uma Cuba do Sul. Uma coisa era celebrar o simbolismo do Davi latino contra o Golias americano. Outra coisa era pegar em armas pela revolução. Enquanto o Brasil foi uma democracia, a luta armada ficou de fora. Em vez disso, a esquerda abraçava a estratégia pacífica do PCB de se aliar a Jango e pressionar por reformas nas ruas. Foi somente com o golpe de 1964 que grupos debandaram do Partidão e abraçaram o modelo de revolução de Fidel Castro. Se essas pequenas e malsucedidas guerrilhas tentaram fazer do Brasil uma segunda Cuba, foi em grande parte em reação ao próprio golpe.

 

Este post é parte do dossiê “21 mitos sobre a Ditadura Militar”, que pode lido na íntegra aqui.

 
 

 

 

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