Sábado 07/06/2025 14:06

Uma sessão histórica no STF

Brasil - Ponto de Vista - Julgamento de Lula

Por: Helio Gurovitz

Depois de onze horas de debate, o Supremo autoriza a prisão do ex-presidente Lula.

Foto: A ministra do STF Rosa Weber, ao proferir o voto decisivo no julgamento que negou o 'habeas corpus' para Lula (Reprodução)

No final de uma sessão histórica de quase onze horas, o Supremo Tribunal Federal (STF) negou no início desta madrugada, por seis votos a cinco, o pedido da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para impedir sua prisão.

Desta vez, funcionou a estratégia urdida pelo relator, ministro Edson Fachin, e pela presidente, ministra Cármen Lúcia. O voto de Fachin abriu a brecha para que a ministra Rosa Weber, único voto sobre o qual ainda havia dúvida, pudesse negar o habeas corpus a Lula. A condução precisa de Cármen deteve as manobras dos advogados de Lula e pôs a defesa contra a parede.

Não houve, ainda, um vaticínio definitivo do STF sobre a questão central em julgamento: quando e em que condições as penas devem começar a ser cumpridas. Apesar disso, a sessão resgatou um pouco da credibilidade do Supremo, em xeque desde a semana em que ministros trocaram farpas no tribunal e os vacilos de Cármen e Fachin contribuíram para a concessão de um salvo-conduto inédito a Lula.

Desde o início, Cármen optou por colocar em votação não as Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADCs 43 e 44) que trariam uma decisão de caráter geral a respeito do momento em que as penas devem começar a ser cumpridas – mas apenas o habeas corpus de Lula, rejeitado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Em seu voto, Fachin foi enfático ao afirmar que, naquele momento, o tribunal tomava uma decisão sobre aquele caso específico, não abrangente sobre as prisões depois da segunda instância. O objetivo era permitir a Rosa votar contra Lula de modo coerente com seu histórico.

Quando o início do cumprimento das penas foi discutido pelo plenário em 2016, ela foi contrária a autorizar as prisões depois da segunda instância. Mas tem adotado, em nome do “princípio da colegialidade”, a norma prescrita pelo tribunal em praticamente todas as suas decisões individuais e votos na Primeira Turma. Com o de Lula, negou 58 dos 59 habeas corpus que arbitrou sobre o assunto.

Havia dúvida se ela consideraria a sessão de ontem uma oportunidade para o plenário rediscutir a jurisprudência geral, ou apenas mais um habeas corpus específico, a deliberar de acordo com o precedente estabelecido.

Num voto cauteloso e bem argumentado, Rosa reconheceu a competência do plenário para rever o assunto. Afirmou que nem todo precedente deve ser respeitado mecanicamente. Mas aproveitou a brecha aberta por Fachin. Preferiu, em nome da “segurança jurídica” e da “previsibilidade”, ater-se ao caso de Lula. Não reconheceu ilegalidade na decisão do STJ – e votou contra ele.

O voto de Rosa despertou a ira do ministro Marco Aurélio, relator das ADCs 43 e 44, prontas para votação desde o ano passado. Com o apoio de Ricardo Lewandowski, Marco Aurélio criticou Cármen por não tê-las levado a plenário. Em vão.

Àquela altura, Gilmar Mendes já proferira seu voto a favor de Lula e embarcara de volta a Portugal para um evento. Gilmar adotou a posição intermediária sugerida por Dias Toffoli em 2016: as penas poderiam, exceto em algumas situações, começar a ser cumpridas depois da decisão não da segunda instância, mas do STJ. Toffoli depois manteria a mesma posição e enfatizaria a exceção para decisões de júris populares – de acordo com ele, deveriam ser cumpridas de imediato. Também em vão.

Tanto Marco Aurélio quanto Lewandowski mantiveram a leitura estrita do trecho da Constituição que garante a presunção de inocência. Votaram pelo cumprimento das penas apenas quando todos os recursos estivessem esgotados, situação conhecida no jargão jurídico como “trânsito em julgado”. Novamente em vão.

A batalha estava perdida para a ala garantista do STF desde que Rosa concordara com Fachin, Alexandre Moraes e Luís Roberto Barroso. Barroso proferiu o voto mais cristalino, enfático e bem argumentado em favor da execução das penas depois da segunda instância.

Citou estatísticas decisivas para comprovar que os recursos aos tribunais superiores, STJ e STF, em geral não passam de manobras protelatórias e raramente resultam em revisão das sentenças anteriores.

De acordo com ele, num período entre 2009 e 2016, o STF analisou 25.707 recursos extraordinários ou agravos de natureza criminal. Desses, foram acolhidos só 2,93%, a maioria em favor da acusação, com agravamento na pena. Em favor aos réus, houve mero 1,12%. Em irrisório 0,035% dos recursos, apenas 9 casos, houve absolvição. De lá para cá, segundo Barroso, apenas mais 4.

No STJ, a situação não é diferente. Num exame de 68.944 recursos especiais ou agravos entre 2015 e 2017, apenas 1,64% das decisões favoreceram os réus – em 0,62%, absolvições; em 1,02%, os condenados saíram da cadeia. Nos mesmo período, 830 ações penais prescreveram no STJ e 116 no STF, mais do que a Suprema Corte americana julgou nos últimos dez anos.

Quem defende cumprir pena apenas depois do esgotamento de todos os recursos, disse Barroso, precisa ter em mente que, na prática, a sentença para um assassinato cometido 2009 não terá transitado em julgado até 2018. Ele relatou diversos crimes macabros que ficaram sem punição. “Este não é o país que eu gostaria de deixar aos meus filhos, um paraíso para homicidas, estupradores e corruptos”, afirmou.

Restou ao último representante da ala garantista, o ministro Celso de Mello, proferir um voto extenso e prolixo, repleto de citações e argumentos de princípio – nenhum deles capaz de desmentir a realidade absurda descrita por Barroso. O maior destaque no voto de Celso foi a reprimenda indireta que passou no general Eduardo Villas Bôas, que manifestara na véspera sua preocupação com a “impunidade” por meio de sua conta no Twitter. Celso fez uma defesa apaixonada da democracia, criticou o “pretorianismo” e as “soluções castrenses”.

No final, houve ainda duas manobras para tentar manter Lula solto. Primeiro, o advogado José Roberto Batocchio solicitou que a ministra Cármen Lúcia não desse seu voto sobre o habeas corpus, em nome do princípio (caduco) da isenção do presidente da Corte em matéria criminal. Esperta, Cármen levou o tema a votação. Nem mesmo os ministros favoráveis a Lula acataram a manobra estapafúrdia. Cármen selou então o destino de Lula com seu voto contra ele.

Batocchio tentou ainda obter uma extensão do salvo-conduto que mantivesse a prisão de Lula em suspenso até o julgamento das ADCs relatadas por Marco Aurélio. Nova derrota. Desta vez, ele contou apenas com os votos de Lewandowski e do próprio Marco Aurélio.

Na barafunda de recursos à disposição do réu na Justiça brasileira, os advogados de Lula não se darão por vencidos. Assim que sair o acórdão do habeas corpus do STF, certamente entrarão com embargos contra a decisão, que dificilmente irão a julgamento em plenário.

Antes disso, eles têm até o próximo dia 10 para tentar seus últimos recursos ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), que condenou Lula a doze anos e um mês de cadeia. No último dia 26, o TRF-4 negou os recursos conhecidos como como “embargos de declaração”. Até o próximo dia 10, os advogados podem interpor “embargos dos embargos”. Eles deverão ser negados em questão de dias – e só então o TRF-4 autorizará o juiz Sérgio Moro a emitir a ordem de prisão de Lula.

*Helio Gurovitz - articulista e colunista do G1

G1

Supremo Tribunal Federal, Luis Inácio Lula da Silva,

Compartilhar faz bem!

Eventos

  • 1º Encontro dos Amigos da Empaer

    1º Encontro dos Amigos da Empaer

    Cidade:Dourados
    Data:29/07/2017
    Local:Restaurante / Espaço Guarujá

  • Caravana da Saúde em Dourados II

    Caravana da Saúde em Dourados II

    Cidade:Dourados
    Data:16/04/2016
    Local:Complexo Esportivo Jorge Antonio Salomão

Veja Mais Eventos

Balcão de Oportunidades / Empregos(Utilidade Pública)

Não é cadastrado ainda? Clique aqui

Veja todas as ofertas de vagas

Cotações

Indisponível no momento

Universitários

Serviço Gratuito Classificados - Anúnicios para Universitários
Newsletter
Receba nossa Newsletter

Classificados

Gostaria de anunciar conosco? Clique aqui e cadastre-se gratuitamente.

  • Anúncios

Direitos do Cidadão

Escritório Baraúna-Mangeon Faça sua pergunta
  • Tem uma senhora dai de Campo Grande que é uma estelionatá...Tem uma senhora dai de Campo Grande que é uma estelionatária aqui em Cuiabá, levou muita grana nossa, e uma eco esporte. Ela se chama LEUNIR..., como faço pra denunciar ela aí nos jornais?Resp.
  • Boa tarde, minha sogra teve cancer nos seios e retirou um...Boa tarde, minha sogra teve cancer nos seios e retirou um eo outro parcial ja faz um bom tempo que nao trabalha e estava recebendo auxilio doença mas foi cancelada e ja passou por duas pericias e nao consegui mais , sera que tem como ela aposentar?Resp.
  • quanto porcento e o desconto para produtor rural hoje out...quanto porcento e o desconto para produtor rural hoje outbro de 2013Resp.
  • meu irmao cumpriu dois ano e meio de pena foi asolvido 7 ...meu irmao cumpriu dois ano e meio de pena foi asolvido 7 a zero caso ele tenha alguma condenacao esse 2 anos e meio pode ser descontadoResp.
  • gostaria de saber se ae em muno novo vai ter curso pilota...gostaria de saber se ae em muno novo vai ter curso pilotar maqunas agricolas?? se tiver como fasso pra me escreverResp.
+ Perguntas

Espaço do Leitor

Envie sua mensagem:
Sugestões, críticas, opinião.
  • iraci cesario da rocha rocha

    Procuro minha irmã Creusa Maria Cesario ela era de Dracena SP , minha mãe esta idosa 79 anos precisa ver ela se alguem souber nos avisa ..contato 018 996944659 falar com Iraci ..minha irmã foi vista nessa região

  • iraci cesario da rocha rocha

    Boa noite , estou a procura da minha irmã Creusa Maria Cesario desapareceu ha 30 anos , preciso encontrar porque minha mãe esta com 79 anos e quer ver , ela foi vista ai por essa região , quem souber nos avise moramos aqui em Dracena SP

  • maria de lourdes medeiros bruno

    Parabéns, pelo espaço criado. Muito bem trabalhado e notícias expostas com clareza exatidão. Moro na Cidade de Aquidauana e gostaria de enviar artigos. Maria de Lourdes Medeiros Bruno

  • cleidiane nogueira soares

    Procuro por Margarida Batista Barbosa e seu filho Vittorio Hugo Barbosa Câmara.moravam em Coração de Jesus MG nos anos 90 .fomos muito amigos e minha família toda procura por notícias suas.sabemos que voltaram para Aparecida do Taboado MS sua cidade natal

  • Simone Cristina Custódio Garcia

    Procuro meu pai Demerval Abolis, Por favor, me ajudem.Meu telefone (19) 32672152 a cobrar, Campinas SP.

+ Mensagens