MP-GO apura se padres pagavam 'mesada' a bispo para serem mantidos em paróquias mais lucrativas
Brasil - Geral - Desvio de Recursos
Valor variava entre R$ 7 mil e R$ 10 mil; ação apontou desvios acima de R$ 2 milhões em esquema que envolvia paróquias no Entorno do DF. Entre os presos, estão bispo e quatro padres.
Dinheiro foi apreendido na casa de um dos padres: MP apura 'mesada' (Foto: Reprodução)
Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) investiga se padres pagavam uma espécie de "mesada" ao bispo de Formosa, Dom José Ronaldo, para que fossem mantidos em paróquias mais lucrativas. A Operação Caifás, deflagrada pelo órgão na segunda-feira (19), aponta que a cúpula da Igreja Católica em três cidades goianas do Entorno do Distrito Federal desviava e se apropriava de recursos oriundos de dízimos, doações e festas realizadas por fiéis.
Nove pessoas foram presas, incluindo o bispo e quatro padres, que devem começar a ser ouvidos nesta terça-feira (20). De acordo com o promotor de Justiça Douglas Chegury, responsável pela operação, uma testemunha revelou que os padres repassavam mensalmente a Dom José Ronaldo, quantias que variavam entre R$ 7 mil e R$ 10 mil. O prejuízo estimado causado pelos desvios é superior a R$ 2 milhões.
"As informações que nós obtivemos é que, para permanecer nas paróquias que davam mais dinheiro, os padres pagavam uma mesada, em dinheiro, ao bispo. Um pároco, que contribuiu com as investigações, inclusive, chegou a ver esse repasse", disse ao G1.
As apurações apontam que o grupo age desde 2015. As investigações começaram no ano passado, após denúncias de fiéis. Eles afirmaram que as despesas da casa episcopal subiram de R$ 5 mil para R$ 35 mil desde a chegada do bispo Dom José Ronaldo. Na ocasião, o clérigo negou haver irregularidades nas contas da Diocese de Formosa.
Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça apontaram que os suspeitos compraram uma fazenda de criação de gado e uma casa lotérica com o dinheiro desviado. As aquisições, conforme o MP, também eram uma forma de lavar o dinheiro.
À TV Anhanguera, Dom José Ronaldo disse que o advogado dele ainda não teve acesso ao processo e nega envolvimento dele no caso.
A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil disse, também à emissora, que ainda busca mais informações sobre a denúncia.
Chegury afirmou que, nesta situação, estão as paróquias de Posse e Planaltina, onde, além de Formosa, foram cumpridos os mandados.
Dinheiro apreendido em fundo falso do guarda-roupa do vigário-geral de Formosa (Foto: TV Anhanguera/Reprodução)
Em Posse, por exemplo, foi apreendido na casa de um dos clérigos dinheiro no fundo falso de um guarda-roupa. Segundo a TV Anhanguera apurou, o montante contabilizou R$ 70 mil. A quantia estava em sacos plásticos. Além da quantia, também foram apreendidos itens como cordões de ouro e relógios.
Grupo suspeitava de apuração
O promotor explicou ainda que os clérigos desconfiavam da operação antes mesmo dela ocorrer. As escutas telefônicas também corroboram a tese.
Em uma conversa com um interlocutor, datada de 8 de março último, Dom José Ronaldo questiona sobre um padre ter sido chamado para prestar esclarecimentos a respeito de uma festa da igreja, cujas contas não foram prestadas.
"Igreja não tem que presta conta de festa dessas coisas para o Ministério Público".
Em outro trecho, quatro dias depois, o bispo volta a falar sobre possíveis denúncias sobre desvios de recursos. Entre outras falas, ele alega que uma investigação "tem fundamento zero", que "o negócio já morre no nascedouro" e que "investigação de tributos é da Justiça Federal".
Bispo de Formosa, Dom José Ronaldo, foi preso durante operação do MP (Foto: Reprodução)
Operação
Além de residências e igrejas, um mosteiro também é alvo dos mandados. Além de nove de prisão, foram cumpridos outros dez de busca e apreensão.
Segundo o MP, foram apreendidas caminhonetes da cúria em nomes de terceiros, além de uma grande quantia de dinheiro em espécie, com valor ainda não foi divulgado. Conforme apurou a TV Anhanguera, dois empresários que seriam laranjas no grupo estão sendo investigados.
A suspeita é que a associação criminosa atuava na cúria da Diocese da Igreja Católica de Formosa e em outras paróquias relacionadas a ela nas outras cidades. Participaram da ação cerca de dez promotores de Justiça, além das polícias Civil e Militar.
Denúncia
Em dezembro de 2017, fiéis denunciaram que as despesas da casa episcopal de Formosa, onde o bispo mora, passaram de R$ 5 mil para R$ 35 mil desde que Dom José Ronaldo assumiu o posto, havia três anos.
"O que nós temos certeza é que as contas da cúria não fecham. Então, nós queremos a abertura pública das contas da cúria [administração da diocese] e dos gastos da casa episcopal", disse uma fiel, que preferiu não se identificar.
O grupo que contesta as contas informou que não recolheria o dízimo até que as medidas fossem atendidas. A diocese disse, na época, que o custo das 33 paróquias é de cerca de R$ 12 milhões por ano. Já a arrecadação, no mesmo período, é de R$ 16 milhões. O restante é destinado ao fundo de cada unidade.
Dom José Ronaldo alegou na época que não tocava no dinheiro e que não houve o pedido, por parte do grupo, para a apresentação de contas.
"Não tem nada de impropriedade. Não toco nos repasses financeiros das paróquias que são destinados à manutenção das necessidades da Diocese, casa do clero, seminário, estrutura da cúria, funcionários etc", declarou.
G1
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