Cidade de Deus tem uma morte violenta a cada 4 dias desde 2015
Brasil - Geral - Violência no Rio
Em janeiro deste ano, 11 pessoas foram mortas em tiroteios na comunidade. Moradores reclamam da violência e da falta de políticas públicas na favela.
Foto: Gráfico mostra total de mortes violentas na Cidade de Deus de 2002 a 2017 (Alexandre Mauro/G1)
Desde 2015, a rotina na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio, é assim: a cada quatro dias, pelo menos uma pessoa morre de forma violenta na comunidade. Os dados são do Instituto de Segurança Pública (ISP).
No início deste ano, a violênica não deu sinal de trégua: 11 pessoas foram mortas na Cidade de Deus em janeiro, apontando que a violência pode até aumentar. Fevereiro já começou com outra vítima: Natacha Aparecida Cruz, de 19 anos, atingida por uma bala perdida durante um confronto entre PMs e traficantes na noite desta quinta-feira (1º).
Os confrontos entre policiais e traficantes na comunidade nesta semana apavoraram os moradores e fizeram com que a Linha Amarela, uma das principais vias expressas do Rio, fosse interditada em dois dias seguidos. Motoristas em pânico tiveram que se deitar no asfalto para sair a linha dos tiros.
Segundo moradores, com o fim da Copa e da Olimpíada também terminou a política de proximidade dos policiais com a comunidade, declarada pela Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Desde então, policiais do 18º Batalhão (Jacarepaguá) fazem incursões diárias na Cidade de Deus, entre 6h e meio-dia, o que tornou os tiroteios constantes.
Confrontos
Na quarta-feira (31), a situação atingiu seu pior estágio: no interior da comunidade, o posto de saúde fechou e fez moradores que esperavam para se vacinar contra a febre amarela correrem para casa. Fora da Cidade de Deus, a Linha Amarela teve o trânsito interrompido por três vezes ao longo do dia. A situação se repetiu na quinta (1º).
"Fiquei 24 horas, nesta quarta, para sair de casa. Não passava ônibus. É um absurdo não passar ônibus na rua principal de um bairro no Rio. Uma fila imensa para vacinar contra a febre amarela foi desfeita por causa da confusão", conta a socióloga Viviane Salles, de 27 anos, uma das moradoras ouvidas pelo G1.
Quando a UPP Cidade de Deus foi instalada, em 2009, o número de mortos de forma violenta chegou a 84 pessoas naquele ano. Em 2010, baixou para 49 casos. Em 2015, ano seguinte à Copa do Mundo, o número de vítimas mortas quase que dobrou e manteve esse patamar até 2017:
2015: 97 mortos
2016: 99 mortos
2017: 96 mortos
Segundo outros moradores que pedem para não serem identificados e policiais, a UPP deixou de lado o policiamento e a chamada política de proximidade, e as ações locais passaram a se feitas pelo batalhão do bairro ou pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope). Informações da Polícia Civil mostram que voltou a ser comum traficantes transitando livremente pelas comunidades.
Os policiais da UPP se concentram, de acordo com relatos, na rua Edgard Werneck, próximo a uma das sedes da unidade (a outra fica na localidade do Karatê) e não fazem patrulhamento pela comunidade.
Clima tenso
Essa postura serviu como um sinal para os traficantes. Barreiras foram montadas em ruas, o número de crianças como olheiros aumentou e jovens portando fuzis voltaram a fazer parte do cenário em diferentes pontos da Cidade de Deus – tanto para rechaçarem a presença da polícia como para evitar que a favela seja tomada por milícias que controlam outras áreas de Jacarepaguá.
No meio deste clima tenso, vivem 47 mil moradores, de acordo com números do Instituto Pereira Passos (IPP). A Cidade de Deus está nos primeiros lugares do ranking de localidades do município do Rio onde mais escolas públicas fecharam por causa da violência em 2017. De acordo com o aplicativo Fogo Cruzado, foram 25 dias sem aula no ano passado.
"Não é normal acordar à base de tiros. Sem saber se vai voltar para casa. Nessa questão de confrontos, não há expectativas e nem esperança, certo? Isso muda totalmente a vida de todos os moradores", diz o produtor cultural Bruno Rafael.
"Políticas públicas bem executadas, principalmente, na saúde e educação trariam bons resultados", afirma.
O acirramento dos confrontos na Cidade de Deus veio no último dia 24 de janeiro. Na ocasião, o 18º Batalhão recebeu informações de que traficantes atacariam a base da UPP. Um reforço policial seguiu para a comunidade para garantir a segurança dos PMs da unidade pacificadora. Houve confronto com seis suspeitos mortos e um baleado.
Na quarta-feira, outra operação resultou na morte de três pessoas, entre elas o traficante Rodolfo Pereira da Silva, conhecido como Rodolfinho. Ele era apontado como criminoso de confiança de Éderson José Gonçalves Leite, o Sam, que está preso, mas mantém o controle da comunidade. Houve mais confrontos, que causaram o fechamento da Linha Amarela.
"A gente não pode cobrar nada de quem já é fora da lei. A polícia não tem hora para fazer operação. E dá medo encontrar uma viatura policial dentro da Cidade de Deus. Dá medo. E sendo negro é pior ainda", lamenta Mateus Paz.
"O que aconteceu nos últimos dois dias já vem acontecendo na comunidade, só que agora chamou a atenção das pessoas porque chegou na Linha Amarela", afirma o morador da Cidade de Deus.
O comando da Polícia Militar reforçou o policiamento na Cidade de Deus por tempo indeterminado.
G1
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