Segunda-Feira 17/06/2024 00:57

Médicos se queixam de carências do SUS e de falta de diálogo com categoria

Brasil - Saúde - Reclamações

A estrutura precária do Sistema Único de Saúde (SUS) é um grande obstáculo para que as medidas anunciadas pelo governo melhorem o atendimento no setor, afirmam médicos ouvidos pelo GLOBO. Há quem defenda a exigência de que os novos médicos trabalham dois anos no SUS, obtendo uma “formação humanista”, como frisa o ex-ministro da Saúde Adib Jatene.

E quem considere que essa exigência retardará ainda mais a formação de especialistas dos quais o país necessita, como o oncologista Ademar Lopes. Mas é necessário haver condições de trabalho, destaca o oncologista Roberto Kalil Filho: “Em vários lugares, não há como fazer exames básicos”. A seguir, as opiniões desses profissionais:

“Minha maior crítica é a falta de discussão sobre um projeto que vai mudar a vida de muitas pessoas. Para entrar numa faculdade, o estudante faz dois, três anos de cursinho. Em média, termina a faculdade e a residência com 31, 32 anos. Com a mudança, vai demorar mais tempo para se estabelecer no mercado. Também não está escrito como será o aprendizado, a formação nesses dois anos de trabalho no SUS. Será um monitoramento à distância? Qual faculdade tem corpo docente para ensinar os alunos nas salas de aula e monitorar alunos à distância? E não se faz saúde só com médico. É preciso criar estruturas com tecnologia mínima nos municípios. É preciso que ele preste atendimento em quatro áreas básicas: clínica médica, cirurgia, pediatria, e ginecologia e obstetrícia. E quem é esse médico que consegue? Os estrangeiros qualificados são bem-vindos, mas resta o limite da língua. Se não entender a história do paciente, como medicar? Trabalho há 11 anos em Angola com médicos vietnamitas, cubanos. Mesmo entre médicos, há dificuldade de comunicação. Não há como resolver isso em três semanas”.

Roberto Kalil Filho, diretor do centro de cardiologia do Sírio-Libanês

“Qualquer mudança que leve à melhor formação dos médicos é importante, mas precisa ser amplamente discutida. Eu, por exemplo, soube pela imprensa. É preciso discutir com as faculdades, com os professores. Pensar em um programa de estímulo para redistribuir os médicos pelo país. Para levar profissionais para o interior do Brasil, é preciso boa remuneração, condições de trabalho e acesso a programas de desenvolvimento pessoal ligados a universidades, por exemplo. Na minha opinião, não é preciso trazer médicos estrangeiros. Temos condições de ter uma redistribuição, mas com melhores condições de trabalho. Em vários lugares, não há como fazer exames básicos”.

Adib Jatene, integrante da Comissão de Ensino Médico do MEC

“Em 1996, tínhamos 82 faculdades, hoje temos 202, mas muitas sem condições de oferecer ensino de qualidade. A ideia foi discutida na comissão, e a intenção é que a faculdade se torne responsável pela assistência médica de qualidade. Hoje, ela dá o diploma e acaba o compromisso. É preciso oferecer aos estudantes elementos para que façam avaliação clínica do paciente. Hoje, 80% dos exames pedidos pelos médicos mostram que o paciente não tem nada. É um enorme desperdício de recursos. Essa ampliação do curso em dois anos seria um pré-requisito obrigatório antes da residência médica. Obriga a escola a ensinar e o aluno a aprender. Ele precisa ser médico antes de ser especialista. Demorar ou não para entrar no mercado não é importante numa profissão que ele vai exercer por 40, 50 anos. Dois anos para ter uma consciência social não é nada condenável, e essa atuação será valorizada com o pagamento das bolsas de até R$ 8 mil”.

José Carlos Trugilho, diretor da Faculdade de Medicina da UFF

“Parece que o governo reeditou o AI-5, atropelando os conselhos regionais e o Conselho Federal de Medicina. Tudo que esses conselhos fizeram em busca de ética e aprimoramento profissional cai por terra com essa medida. Também não houve diálogo nenhum com universidades. A maioria dos alunos de Medicina não passa no primeiro vestibular, por causa da forte concorrência. Esse estudante já entra na faculdade com certo atraso. Com a prorrogação dos cursos por mais dois anos, as pessoas vão demorar ainda mais para chegar ao mercado de trabalho. Além disso, esses alunos serão levados para regiões de carência. O governo precisa dar as condições adequadas de deslocamento”.

Marcos Junqueira do Lago, vice-diretor da Faculdade de Ciências Médicas da Uerj

“A ideia básica de ampliar um pouco a formação do médico não é ruim, mas a forma como ela foi imposta sem discussão é errada. O SUS está muito sucateado: não tem material, infraestrutura, água, não tem nada. A maior parte das unidades não vai conseguir melhorar a formação dos estudantes e, talvez, até piore. As universidades têm um corpo de professores capacitado para a supervisão, mas não têm estrutura e tamanho para conseguir absorver essa demanda”.

Ademar Lopes, oncologista, vice-presidente do Hospital AC Camargo

“Vamos retardar ainda mais a formação de médicos especialistas, de que o Brasil tanto precisa, aumentando o tempo de 11 para 13 anos. Não é uma lei que vai resolver o problema de ter ou não médicos no interior. Ele vai ficar lá dois anos, fazendo algo que não é de seu interesse, e vai sair. Para os estudantes interessados em fazer Medicina, é um desestímulo, pois retarda a vida profissional. Muitos não querem atuar na periferia de São Paulo, por causa da falta de segurança. É preciso garantir qualidade de vida e estrutura de trabalho. Tenho receio de medidas compulsórias. O Brasil não resolve seus problemas. O governo diz que temos todas as crianças nas escolas, mas muitas não sabem ler ou fazer contas.

O Brasil quer resolver com quantidade, não com qualidade. Isso é bom do ponto de vista político: vai lá e diz para a ONU que tem todas as crianças na escola, médicos em todo o país. É querer resolver com subterfúgios. É preciso medidas efetivas, como estimular a clínica médica, pouco valorizada. O Brasil precisa de reformas por inteiro, em todos os setores, e medidas políticas retardam as reformas. São paliativos”.

 

O Globo/JE

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