Para quem ainda tinha dúvidas, dinheiro não traz felicidade, como já alertava o velho ditato. A melhor maneira de ser feliz sem ele é apostar nos laços de amizade e familiares. Esta é um das conclusões do estudo realizado por professores de três universidades britânicas, entre elas a London School of Economics (LSE).

Até pouco tempo, a maioria dos economistas e analistas de governo acreditavam que o bem estar do indivíduo dependia muito mais da sua situação econômica. Mas a nova pesquisa indica que a renda só afeta a felicidade quando a pessoa tem questões financeiras presentes na cabeça.

— As relações sociais e com a família são muito mais estáveis, ou seja, não mudam. Por isso, elas têm muito mais impacto na felicidade e no bem estar do indivíduo. São uma base sólida para a felicidade. Com as finanças é diferente. A renda influencia quando você pensa ou é induzido a pensar nela, ou ainda, quando está no trabalho — disse ao GLOBO a professora de psicologia social e organizacional da LSE, Ilka Gleibs, que é uma das autoras do estudo.

A base financeira “é instável e depende dos conceitos e valores que são ativados no contexto com o qual as pessoas avaliam a sua felicidade”. De acordo com o estudo, isso significa que se quiseremos saber o que nos traz felicidade, precisamos levar em conta o contexto em que esta pergunta é feita e como ele está relacionado ao indivíduo.

A constatação teve por base dois testes que mediam como a renda e as relações sociais do indivíduo influenciavam sua sensação de bem-estar em diferentes circunstâncias e contextos. Quando os entrevistados eram induzidos a pensar na comunidade ou na família, as respostas mostravam que a renda não tinha efeitos sobre o seu bem estar. As pessoas que tinham mais relações com amigos e famiilares tendiam a ser mais felizes em todas as circunstâncias apresentadas no estudo – se estivessem pensando em dinheiro ou não.

Segundo a professora, algumas pesquisas anteriores já indicavam que o dinheiro não traz felicidade ou que, até pode trazer, mas quando o indivíduo doa para alguém. No entanto, destaca que esta é a primeira vez que se comparam as relações sociais e a situação da renda com o bem estar em duas pesquisas distintas dentro de um mesmo estudo, com variáveis contextuais diferentes.

Para a professora, as conclusões do estudo são fundamentais para a sociedade dos dias de hoje.

— Mostra que não se deve dar tanta ênfase em dinheiro e economia, mas o foco deve estar em algo mais estável, que são as relações sociais e com a família. Muita gente acha que basta ter um emprego e ganhar bem para ser feliz, mas não é bem assim.

A pesquisa “Unpacking the hedonic paradox: a dynamic analysis of the relationships between financial capital, social capital and life satisfaction” foi publicada recentemente no British Journal of Social Psycology.