Terça-Feira 02/09/2025 21:47

Brasil corre para abrir novas fronteiras na África

Mundo - Relações Internacionais - Fronteiras no Mercado

O governo e algumas grandes empresas brasileiras estão apostando alto na abertura de novas fronteiras no mercado africano.

Nos últimos anos, o Brasil ampliou sua presença econômica tanto na África lusófona — principalmente Angola e Moçambique — quanto na África do Sul (considerada um dos “mercados maduros” da região, junto com países do norte africano).

Agora, segundo explicou à BBC Brasil o embaixador Paulo Cordeiro, subsecretário-geral do Ministério de Relações Exteriores para África e Oriente Médio, um dos grandes desafios da diplomacia brasileira é criar condições para que um número cada vez maior de empresas explore novas fronteiras de investimento em mercados africanos emergentes, como Etiópia, Nigéria, Sudão, Quênia, Guiné, Tanzânia, Senegal e Gana.

— Isso constitui boa parte de meu trabalho. Estamos empenhados em criar condições para essa expansão e em convencer a sociedade brasileira de que o continente africano tem muitas oportunidades interessantes — e não só nos países lusófonos.

As iniciativas oficiais nesse sentido vão desde programas de cooperação militar e técnica até projetos para ampliar o financiamento a investimentos no continente e ações de aproximação política.

Elas acompanham um movimento de algumas grandes empresas brasileiras, que há algum tempo estão prospectando novos negócios em países que até pouco eram sinônimo de conflitos e extrema pobreza, atraídas principalmente por oportunidades nos setores de infraestrutura e exploração de recursos naturais.

Segundo Cordeiro, é nesses planos de expansão que se inseriria a decisão anunciada recentemente pela presidente Dilma Rousseff de cancelar ou renegociar de US$ 900 milhões (R$ 1,9 bilhão) em dívidas de países africanos com o Brasil.

Financiamentos

Um total de 12 países serão beneficiados pela decisão: Congo, Tanzânia, Zâmbia, Senegal, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Gabão, Guiné, Mauritânia, Sudão, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau — sendo apenas os dois últimos parte da comunidade lusófona.

Até agora, os bancos estatais brasileiros não podiam financiar investimentos e fluxos de comércio para esses países pelo fato de eles terem dívidas não quitadas com o Brasil.

A medida permitirá que o BNDES e o Banco do Brasil financiem exportações brasileiras, bem como investimentos e obras de infraestrutura tocadas por empresas do país (hoje quase todos os empréstimos do BNDES para projetos na África vão para Moçambique e Angola).

— A demanda por investimentos e cooperação que temos recebido dos países africanos é imensa. A Tanzânia quer empresas brasileiras construindo hidrelétricas, por exemplo, e o Gabão pede investimentos na área de petróleo. Também já temos companhias do país interessadas em apostar nesses mercados — o que falta é justamente meios para financiar tais empreendimentos.

Segundo o embaixador, para resolver esse problema, também teria sido proposto ao BNDES que o banco crie uma diretoria responsável exclusivamente por empréstimos para a África e América Latina.

— Precisamos pensar em instrumentos financeiros adequados para esses projetos na África e entender quais poderiam ser suas garantias.

Cooperação

Cordeiro lembra que no campo da cooperação técnica, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) já tem projetos em diversos países africanos — entre eles Senegal, Mali e Gana. E na área militar, pode ser mencionado a cooperação brasileira na formação da marinha da Namíbia.

Nos últimos três meses, Dilma fez três viagens à África. Além da passagem pela Etiópia, onde participou da comemoração do Jubileu de Ouro da União Africana no mês passado, em fevereiro a presidente foi à Guiné Bissau para a 3ª Cúpula América do Sul-África e à Nigéria para encontrar o presidente Goodluck Jonathan.

Em março, ela participou, na África do Sul, da 5ª Cúpula dos Brics — e na ocasião também se encontrou com líderes de outros países africanos.

Além disso, segundo o Itamaraty, nos últimos anos foram feitos esforços para ampliar a infraestrutura das embaixadas na África — que mais que dobraram na última década, fazendo o Brasil ocupar, juntamente com a Rússia, a quarta posição no ranking das nações com mais representações no continente (atrás dos Estados Unidos, China e França).

Para o governo brasileiro, o interesse na aproximação com os países da “nova fronteira” africana é tanto econômico como político.

De um lado, os 54 países do continente poderiam supostamente representar uma fonte de apoio importante para o Brasil em votações para postos-chave do sistema de governança internacional (como no recente caso da eleição do diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, a OMC).

De outro, a África concentra hoje 6 dos 10 países que mais crescem no mundo, de acordo com o FMI, o que abriria uma série de oportunidades comerciais e de investimentos — que de fato já estão atraindo interesse das grandes empresas brasileiras.

Interesses comerciais

As trocas comerciais entre Brasil e África passaram de US$ 5 bilhões em 2002 para US$ 26,5 bilhões em 2012.

E de acordo com a consultoria Ernst & Young, embora o Brasil represente apenas 0,6% dos investimentos estrangeiros nos 54 países africanos, desde 2007 os aportes brasileiros cresceram 10,7% ao ano.

Soraya Rosar, diretora de Negociações Internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), disse à BBC Brasil que o empresariado brasileiro está começando a descobrir a África

— As construtoras foram pioneiras nesse mercado e agora estão ajudando a “puxar” outras empresas. Mas ainda há relativamente poucos investimentos em manufatura. Nisso estamos ficando para trás de chineses e indianos.

A Petrobras tem ativos na Nigéria, Tanzânia e Namíbia.

A Vale entrou na África em 2004 e hoje está presente no Gabão, Libéria, Guiné, República Democrática do Congo, Zâmbia, Malauí e África do Sul (além de Angola e Moçambique) — tendo planos para investir US$ 7 bilhões (R$15 bilhões) no continente nos próximos anos.

Fora da comunidade lusófona, a construtora baiana OAS já tem sucursais em Guiné, Gana e Guiné Equatorial. A Odebrecht está presente nesses mesmos países e na Libéria e na Líbia (onde a Camargo Correa também já toca uma série de projetos).

Paulo Cordeiro chama a atenção para negócios menores.

— Temos algumas experiências de empresas de menor porte: desde uma empresa do Pará que está participando de obras em Benin, até um agricultor do Ceará que em parte do ano planta melão no Senegal para manter sua linha de exportação para a Europa.

Onda africana

Evidentemente, não é só o Brasil que está de olho nesses mercados de fronteira africanos. Com a América Latina desacelerando, a África — segunda região do mundo que mais cresce, depois da Ásia — passou atrair a atenção de investidores e consultorias de negócios internacionais.

Anthony Thunstrom, especialista em África da consultoria KPMG, acredita que os brasileiros estão chegando tarde aos países africanos se comparados a China.

Países como a Etiópia e a Nigéria há dez anos tem crescido mais de 7% ao ano e atraem empresas estrangeiras com taxas de retorno ao investimento que variam de 20% a 30% (embora continuem entre os mais pobres do mundo).

Muitas companhias estão de olho em oportunidades nos setores agrícolas africanos e na exploração de petróleo e minérios. Outras, são atraídas pelas inúmeras obras e projetos levados adiante para suprir o imenso deficit de infraestrutura do continente.

E também há as empresas interessadas no crescente mercado consumidor africano — como o Wal-Mart e a produtora de bebidas Diageo, que recentemente entraram na Etiópia.

Riscos

É claro que os riscos e custos de se fazer negócios em muitos desses países ainda são importantes.

Problemas como corrupção, instabilidade política, precariedade logística e pobreza extrema não desapareceram do continente africano de uma hora para outra — ao contrário do que relatórios entusiasmados de algumas consultorias de negócios — ou os discursos de algumas autoridades brasileiras — podem fazer parecer.

Por causa de mudanças políticas na Guiné, por exemplo, a própria Vale foi obrigada a renegociar seus contratos para a exploração do complexo de Simandou, considerada a maior reserva inexplorada de minério de ferro do planeta. O projeto ficou paralisado por meses.

Também há quem ainda não esteja totalmente convencido de que o crescimento africano será sustentável.

Para Elsie Kanza, chefe da seção africana do World Economic Forum, por exemplo, se os africanos não investirem em educação, se empenharem em reduzir rapidamente seu problema de falta de infraestrutura e implementarem uma mudança estrutural em sua economia, desenvolvendo manufaturas e setores mais complexos, o continente pode acabar desacelerando.

O professor José Flávio Sombra Saraiva, Professor de Relações internacionais da Universidade de Brasília (UNB) especialista em relações com a África, concorda.

— As perspectivas para a região são boas, mas para garantir a sustentabilidade desse crescimento são necessárias muitas reformas e esforços para que toda a população se beneficie dessa nova onda de investimentos.

No caso de um arrefecimento da expansão africana, não há como negar que muitas empresas e investidores teriam de rever seus planos — inclusive brasileiros.

O risco sempre existe, mas podemos mitigá-lo e trabalhar com ele.

R7/RMC

Fronteiras no Mercado, Setores Agrícolas, Negócios, Crescimento Africano, UNB

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