O sincericídio de Levy
Brasil - Economia - Má Interpretação?
Foto: IstoÉ Dinheiro
A frase do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, dizendo que Dilma tem “um desejo genuíno da presidente de acertar as coisas, às vezes não da maneira mais fácil, não da maneira mais efetiva”, foi considerada, por muitos políticos e até pela própria presidente Dilma Rousseff, uma crítica à atuação presidencial.
Há, porém, outra maneira de ver a declaração de Levy. Falando a uma plateia de Chicagos boys, ex-alunos da Universidade de Chicago, ícone do pensamento liberal, o que parece uma crítica é na verdade uma defesa do governo.
Levy explicava que as mudanças que vinham sendo feitas no segundo mandato faziam parte de uma “curva de aprendizado” do governo, depois do esgotamento das políticas do primeiro mandato, e tentava convencer a audiência de que o governo vai levar a sério a correção de rota.
Plateia que, por sua origem, é naturalmente hostil ao governo de Dilma, mas fundamental para resgatar a confiança por incluir economistas bem empregados em bancos brasileiros e estrangeiros, com recursos para investir no País ou aconselhar seus clientes. Levy queria, na verdade, defender as boas intenções da presidente – em contraponto ao fato, sabido por todos, de que nem sempre ela é bem-sucedida em suas tentativas. Lida isoladamente, porém, sua frase foi vista como uma crítica.
Reza a cartilha de Brasília que políticos ou outras autoridades devem pensar antes de pronunciar cada frase, lembrando que ela sempre pode estampar as manchetes dos jornais no dia seguinte. Dizer em público o que se pensa não é um esporte praticado por ministros que pretendem se manter no posto.
Não foi o primeiro acesso de sincericídio de Levy. Depois de uma estreia exemplar, quando anunciou o desmonte da política setorial do ex-ministro Guido Mantega com um discurso contra o patrimonialismo, preparado previamente e lido, Levy já caiu outras vezes na armadilha da sinceridade.
Ainda em janeiro, usou a palavra tabu “recessão” sobre a economia brasileira neste ano. Ao anunciar mudanças na desoneração da folha de pagamento, no fim de fevereiro, classificou o programa, grande orgulho do primeiro mandato de Dilma, como “grosseira” e “rudimentar” e disse que “brincadeira” havia custado ao País R$ 25 bilhões por ano. Dilma não gostou nada. Assim como não gostou da palestra aos Chicago boys. Ela sabe, no entanto, que precisa de Levy forte, capaz de negociar com o Congresso o ajuste fiscal.
Ironicamente, ao falar aos ex-colegas de Chicago sobre os desafios de seu novo posto deu o diagnóstico certeiro. “Não podemos cometer erros”, afirmou. “Tenho dito isso aos meus novos amigos no Congresso”, disse ele, para risos da plateia. Trata-se de uma referência ao fato de Levy ter se tornado, por falta de eficiência dos ministros da área política, o principal articulador dos projetos econômicos com o Congresso.
Nesta terça-feira 31, o ministro da Fazenda tem um novo desafio pela frente: convencer seus “novos amigos” no Senado a não aprovar, imediatamente, o novo indexador corrigindo a dívida dos Estados e municípios com a União. Ao mesmo tempo, terá que convencê-los a aprovar, o quanto antes, as medidas de ajuste fiscal que reduzem direitos trabalhistas e previdenciários e aumentam os impostos pagos pelas empresas. Tarefa árdua. Que será ainda mais dificultada se o ministro tiver uma nova crise de sincericídio e não perceber que não apenas os inimigos, mas principalmente os “amigos” estão de olho, torcendo por um passo em falso.
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