Três dias de testes marcam a escolha do elenco de musical sobre Beth Carvalho
Brasil - Entretenimento - "Andança"
Foto: O Globo
Cerca de 240 atores esperavam ansiosos no foyer do teatro da Maison de France, no Centro do Rio, duas semanas atrás. Uns faziam exercício de alongamento, outros cantavam para si mesmos, de fone de ouvido. Havia pequenos grupos em círculos que aproveitavam para ler tudo o que tinham pesquisado na internet sobre Beth Carvalho. Vinham de toda parte: Realengo, Leblon, Nova Iguaçu, São Pedro da Aldeia, Brasília, Recife, Juiz de Fora, São Paulo. Jovens, senhoras, crianças, a maioria mulheres, muitas com o cabelo recém-pintado de vermelho. Era o primeiro teste de elenco para o musical “Andança”, espetáculo sobre a vida e a obra da sambista de 68 anos, com previsão de estreia para junho.
— Não buscamos um tipo físico parecido, isso a caracterização resolve. O mais importante aqui é a semelhança no timbre da voz, o carisma, a potência no palco. E a cada hora que passa vemos que não é nada fácil achar uma Beth Carvalho por aí — brincava o diretor Ernesto Piccolo, em pânico cada vez que uma delas minava suas expectativas. — Muita gente brilha no vídeo que manda, mas chega aqui e não tem carisma. E há pessoas quem mandam vídeos quase tímidos, e no palco explodem, guardam uma caixa amplificadora dentro do peito.
Além de escolher as três atrizes que interpretariam a cantora nas fases criança, jovem e adulta, a audição também tinha a missão de pinçar os intérpretes para outros papéis do musical, personagens da MPB que tiveram participação decisiva na carreira de Beth: Dorival Caymmi, Milton Nascimento (dos que exigiram mais testes), Tom Jobim, Martinho da Vila, Cartola, Maria Bethânia, João Nogueira, Dona Ivone Lara, Zeca Pagodinho.
— Faço questão de que todos esses personagens que influenciaram e emocionaram a Beth ao longo da sua carreira sejam exímios cantores. É importantíssimo que eles emocionem o público também — dizia o diretor.
O dia não seria nada tranquilo para Piccolo, que já tinha assistido a 1.123 vídeos para a primeira “peneira” — e seriam outras três, até chegar ao número final de 18 atores para o elenco fechado. Além dele, também avaliava os candidatos o maestro Rildo Hora, que vai assinar a direção musical do espetáculo, sua primeira incursão no teatro. Animada com a empreitada, a própria Beth participa dos preparativos.
— Pelo que notei até agora, os candidatos têm uma relação afetiva muito forte com sua música, é impressionante. Beth é uma artista muito amada por seu público — observava Rildo, num intervalo das audições, achando graça ao ter de escolher, ele mesmo, o ator que o representará em cena.
Por três dias seguidos, cada um seria avaliado em canto e dança. Divididos em grupos de 15, eles subiam ao palco e cantavam os primeiros versos de “O mundo é um moinho”, de Cartola. Depois, tinham de cantar e dançar o samba “Saco de feijão” (aquele do “de que me serve um saco cheio de dinheiro/ pra comprar um quilo de feijão...”), de Chico Santana — duas músicas que tiveram belas versões na voz de Beth. Quando um candidato escorregava num sotaque americano, vício recente dos programas de calouros internacionais, os diretores reprovavam na hora, defendendo a brasilidade de Beth. Vez ou outra, dava para ouvir o que cochichavam entre si: “Esse aí pode repetir o teste para o Tom Jobim”; “Pode avisar para o que saiu que ele é o Zeca Pagodinho”; “Separa aquela para cantar uma música da Bethânia”. Num dado momento, havia uma dezena de homens de meia-idade no palco, emparelhados, para o teste ao papel de Dorival Caymmi, imitando seu jeitão de galã baiano.
— Esta é a única audição que abriu as portas para pessoas mais velhas. Os musicais cariocas só querem jovens no elenco — desabafava uma candidata.
Ao longo dos três dias em que o verso “preste atenção, querida...” era repetido à exaustão no teatro, o mais difícil, segundo os diretores, foi selecionar as três atrizes que farão a própria Beth Carvalho. Era preciso escolher uma Beth menina, uma jovem e uma adulta, e que tivessem pelo menos o timbre da cantora. O maestro Rildo Hora era incisivo em relação a isso. As confabulações duraram horas, até que chegaram a um consenso: escolheram uma criança negra, uma jovem adulta loura de olhos azuis e uma ruiva mais velha.
A pequena Jamilly Mariano, 8 anos, é paulistana, corintiana roxa, filha de um taxista e de uma dona de casa fã de pagode. Aluna de notas exemplares, ela sempre gostou de cantar e representar, para surpresa da mãe, que nunca pensou em direcionar as escolhas da filha. Foi uma vizinha quem a indicou, em 2012, para o teste do musical infantil “O Rei Leão”, no qual a menina passou tranquilamente por todas as audições, levando, de cara, dois papéis. Com a experiência do espetáculo paulistano, a menina tirou o teste carioca de letra. Cantou “Coisinha do pai” num vídeo feito às pressas e ganhou o voto dos diretores. Na audição, estava relaxada, fez brincadeiras. E não vê a hora de conhecer a dona da festa.
— Já estou ouvindo todos os discos dela — sorri Jamilly, cuja família procura agora uma casa no Rio.
A história é completamente diferente da de Stephanie Ferraz, a segunda Beth. Carioca, 26 anos, ela está em cartaz no espetáculo “Chacrinha, o musical”, vivendo a mãe do jovem Abelardo Barbosa, além de uma das chacretes. Stephanie não é novata em musicais, já participou de “Hair” e “Rock in Rio”. Natural do Leblon, filha de médicos, ela estudou teatro no grupo Nós do Morro e canta samba na noite carioca desde os 18 anos. No ano passado, tirou o terceiro lugar no concurso Talentos do Samba, projeto da Funarte com curadoria de Xande de Pilares.
— A primeira coisa em que pensei quando fiz o teste foi: não tenho a menor chance. Havia muitas cantoras talentosas e mais parecidas com ela, e geralmente quem me vê não imagina que eu canto samba — contava Stephanie, ainda incrédula com o resultado.
Aos 43 anos, atriz Eduarda Fadini, em cartaz no musical “Rádio Nacional, as ondas que conquistaram o Brasil”, foi a escolhida para representar Beth Carvalho já na fase madura, dos 40 aos 60 anos. Quando soube que havia sido escolhida, ela estava justamente numa festa com outros atores que também tinham feito o teste.
— O mais difícil foi guardar segredo. É a melhor notícia que eu podia ter a esta altura. São 18 anos de teatro, 28 de canto. Espero corresponder à altura.
O Globo/JE
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