FED não azeda festa russa
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Foto: esamadison.org
A expectativa de que o Federal Reserve (Fed) iria, no fim do dia, mudar sua orientação de política monetária, aproximando mais o período em que estaria disposto a elevar a taxa básica de juros, não impediu ontem uma recuperação generalizada nos mercados de risco mundo afora após os martírios da “Black Tuesday”.
A confiança em dias melhores foi fincada nas mentes e calculadoras dos investidores por garantias fornecidas por autoridades russas:
1) As reservas internacionais do país, embora num nível (US$ 360 bilhões) já distante do auge de quase US$ 600 bilhões de 2008, serão utilizadas para fornecer liquidez a quem quiser sair;
2) O BC flexibilizou as regras bancárias, facilitando o pagamento das dívidas privadas de US$ 130 bilhões que vencem no curtíssimo prazo;
3) Não haverá controle de capital. O mercado gostou e o rublo valorizou-se cerca de 13% em relação ao dólar, retornando ao patamar anterior ao choque de juros aplicado na noite de segunda-feira. As demais moedas emergentes também se fortaleceram.
O mundo estava salvo, pelo menos até o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Fed divulgar as suas decisões. Vieram às 17 horas e, para alívio geral, não estragaram a festa. A decisão principal do Fed já havia sido amplamente vazada e precificada.
O Comitê mudou o “forward guidance” ao atenuar no comunicado a garantia de que o juro permanecerá muito baixo por um “período de tempo considerável”, acrescentando outra expressão velha conhecida dos analistas, “ser paciente” no ajustamento monetário.
A alteração de “guidance” foi considerada como “consistente” com o teor do comunicado precedente. Consistência, no caso, quer dizer que, essencialmente, nada muda. O Fed tem três orientações favoritas: “tempo considerável” indica um período longo de estabilidade da taxa; “paciência” é usada para sinalizar uma alta futura; e “passo medido” é empregado quando, num ciclo de alta, as decisões serão suaves e sopesadas ao extremo. A linguagem do Fed costuma ser tipicamente orwelliana: ser paciente denota impaciência já que o tempo não é mais considerável.
Agora, pode significar que a paciência será exercida num tempo mais ou menos considerável. O statement tem o dedo "dovish" de Janet Yellen.
Lido o comunicado, os analistas ficaram com a impressão de que a taxa de referência subirá do atual patamar entre zero e 0,25% para 0,40% em junho de 2015.
Se a economia interna e o mundo deixarem. A reação dos mercados americanos foi tranquila. Antes do Fomc, a taxa do título de 10 anos do Tesouro dos EUA já estava em leve alta de 2,07% para 2,09%, Depois da reunião chegou a subir até 2,14%, mas voltou a 2,11%. Como a mediana dos membros do Fomc projeta uma taxa básica de 1,125% no final de 2015, o passo poderá de apenas 0,15 ponto.
Se o Fomc subir a taxa para 0,40% na sua reunião de 17 de junho e fizer 0,15 ponto nas quatro que restarão para encerrar o ano, o juro chegará a 1%. Então, são prováveis quatro altas de 0,15 a partir de junho e uma última em dezembro de 0,25 ponto.
O passinho será de tartaruga até porque, segundo o consenso do Fomc, o máximo que a inflação poderá acumular no ano que vem, 1,6%, ainda estará abaixo da meta de 2%. Um pouco antes da reunião do Fomc, saíram os indicadores mais atualizados sobre o comportamento da inflação nos EUA e na Europa.
Não aconselhavam mesmo um endurecimento monetário. Em ambas as regiões, os preços já vêm sentindo o mergulho do petróleo. Nos EUA, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) acusou deflação de 0,3% em novembro, quando os especialistas previam inflação de 0,1%. A taxa anual está em 1,3%. E, na Europa, o CPI marcou deflação de 0,2%.
O Fed emitiu seu comunicado depois de encerrados os pregões de câmbio e juros futuros do Brasil. O dólar seguiu a tendência de baixa que prevaleceu globalmente. Fechou em queda de 1,23%, cotado a R$ 2,7018. Para um mês em que o dólar disparou 5%, o fluxo cambial acumulado em dezembro até que mostra um déficit bem inexpressivo.
Do início do mês até sexta-feira, segundo dados divulgados ontem pelo BC, a balança cambial foi negativa em US$ 2,412 bilhões. O saldo comercial de US$ 1,14 bilhão suavizou o impacto da saída financeira líquida de US$ 3,55 bilhões.
A distensão cambial não serviu para desarmar os espíritos no pregão de juros futuros da BM&F. Quando não ficaram estáveis, as taxas subiram.
O contrato para a virada de 2015 para 2016 – o que embute diretamente as expectativas para a política monetária que será praticada no ano que vem – subiu de 12,93% para 12,94%. A taxa para janeiro de 2017 também avançou, de 12,96% para 13,01%. O pregão continua achando que o dólar caro obrigará o Copom a acelerar de novo o ritmo de alta da Selic.
Depois a apressar o passo este mês de 0,25 para 0,50 ponto, na próxima reunião, a de 21 de janeiro, daria 0,75, com a taxa indo de uma vez para o patamar de 12,50% previsto pelo Focus como de encerramento do ciclo de alta. Para o DI futuro, ele não acabaria aí. Viria outra dose de 0,75 ponto em março. Há muito espaço para a devolução de prêmios se esse caos previsto não se materializar.
Os tesoureiros e gestores que fecham negócios no DI levam em consideração a pressuposição de que o que aconteceu ontem na Rússia foi apenas uma trégua. O seu orçamento só é exequível com o petróleo na faixa de US$ 100. Em junho, o barril estava perto de US$ 115. Hoje gravita em torno de US$ 60.
Ontem, o governo russo cortou os pulsos ao reiterar que não vai reduzir a produção de óleo, reforçando a decisão de novembro da Opep de não baixar a produção. A Opep quer matar a indústria do óleo de xisto dos EUA. Se o barril cair a US$ 40, mata o pré-sal brasileiro. Há uma guerra de múltiplos danos colaterais entre Putin e os EUA. Quer destruir o xisto mesmo que isso implica em recessão russa de 4,5% em 2015.
Se a luta continuar, morrerão primeiro a Rússia, o Irã e a Venezuela, depois o Brasil. As maiores petroleiras globais serão feridas gravemente. O rombo aberto pelas corrupções na Petrobrás é passado, precisa ser contabilizado logo e enterrado junto com os malfeitos e os malfeitores, irreiteráveis doravante, já que a estatal estará submetida a escrutínios impiedosos. Já o pré-sal é o futuro.
Resumo: no começo de 2015, se a economia global não der provas de retomada (não deve dar) a Opep terá de rever sua decisão e cortar a produção diária. Ou a corrida de 100 metros rasos contra o rublo de terça-feira irá se transformar numa maratona. Não se faz isso com uma potência nuclear, ainda saudosa dos tempos da hegemonia soviética.
Luiz Sérgio Guimarães/Brasil Econômico/JE
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