Foto: Game Hall

“‘Assassin’s Creed: Unity’ roda a 900p e 30fps”; “‘Metal Gear Solid: Ground Zeroes’ só roda a 1080p no PS4”; “900p é perfeito para nós, diz desenvolvedor de ‘Sunset Overdrive’”; “ .

Estas e outras notícias e declarações têm sido cada vez mais recorrentes nos últimos meses, quando mais e mais games são lançados para o Xbox One ou o PlayStation 4 sem resolução nativa de 1080p ou taxa de quadros de 60 fps, o que alimenta argumentos sobre a suposta superioridade de um ou outro console ou mesmo do PC como plataforma ideal para jogos.

Para quem não tem familiaridade com estes termos, porém, é difícil saber se (ou porque) estes elementos são tão importantes para a experiência de jogo. Por isso, UOL Jogos tentará esclarecer um pouco mais sobre como a resolução ou a taxa de quadro de um game podem (ou não) influenciar o produto final

Qualidade de imagem

A resolução de uma imagem refere-se a seu tamanho e qualidade em geral, sendo definido por sua quantidade de pixels, multiplicando o número de linhas verticais e horizontais - 1024x720 ou 1920x1080, por exemplo.

Uma imagem considerada de alta definição tem, no mínimo, resolução de 1024x720 (conhecida como HD). Para base de comparação, a resolução 1080p - conhecida como Full HD - possui mais do que o dobro de pixels do que uma imagem 720p.

O “p” de 1080p refere-se ao termo “progressive scan”, que indica que a imagem é completamente transmitida, ao contrário do “interlaced”, que mostrava apenas determinadas linhas de cada imagem a cada ciclo. Por isso, é considerado mais vantajoso ter uma TV 720p do que 1080i.

“Uma resolução de 1080p permite um tamanho de ponto menor, efetivamente aumentando a quantidade de detalhes e reduzindo a quantidade de artefatos que podem ser percebidos”, diz o coordenador de desenvolvimento do estúdio Hoplon, Paulo Zaffari. “Em displays maiores esse efeito pode ser mais perceptível, podendo causar impressão de pixelização das imagens em resoluções menores”.

Caso um jogo não alcance a resolução de 1080p, o console redimensiona sua imagem por meio de uma ferramenta de upscaling. A qualidade desta imagem é variável, mas nunca chegará ao nível da resolução 1080p nativa.

E que gêneros mais se beneficiam com uma melhor qualidade visual? “Para as pessoas que querem ter a melhor experiência visual em jogos com proposta artística fotorrealista e em displays grandes, é melhor optar por 1080p. Para jogos com gráficos naturalmente pixelados, existe pouca vantagem na resolução maior”, diz Zaffari.

Ou seja, títulos como “Battlefield 4” e “The Last of Us Remasterizado” acabam recebendo mais atenção por sua qualidade visual, ao contrário de jogos como “Shovel Knight”.

Imagem em movimento

Ou outro grande fator visual fonte de controvérsia nesta nova geração é a taxa de quadro por segundos, também conhecida como framerate ou fps.

Uma transmissão de vídeo - seja na TV, cinema ou videogames - é composta por uma série de imagens transmitidas em rápida sucessão, criando a sensação de movimento. Quanto maior o número de quadros por segundo, menor é o intervalo entre eles, o que torna a sensação de movimento mais fluida.

“Uma taxa de atualização de 60 quadros por segundo produz consistentemente resultados visualmente mais agradáveis, especialmente para animações”, diz Zaffari. “Existe, entretanto, um revés. Enquanto 60 fps é agradável aos olhos, isso pode limitar a quantidade e complexidade do conteúdo que é apresentado em um jogo”.

A tela também é fundamental para que este efeito seja sentido, graças ao chamado “refresh rate”, que indica o número máximo de quadros transmitidos a cada segundo, representado pela unidade hertz (hz). Em geral, televisores e monitores tem um refresh rate de 60 Hz, o que quer dizer que o framerate ideal para a tela é de 60fps. Do contrário, quadros acabam se sobrepondo, efeito conhecido como “screen tear”

A diferença e importância fundamental da taxa de quadros nos games em relação a mídias passivas como cinema e televisão é justamente o tempo de reação do jogador, que melhora conforme o intervalo de tempo entre os quadros é menor.

Assim, gêneros que dependem de precisão e bom tempo de reação - corrida, plataforma, multiplayer em geral - são mais efetivos com uma taxa de 60 fps.

Limites e comprometimento

Uma combinação de alta resolução e taxa de quadros é resultado da equipe de desenvolvimento utilizar tanto o potencial do hardware quanto a otimização do software.

Como provado em diversos títulos, os hardwares dos três consoles - PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Wii U - são perfeitamente capazes de rodar jogos a 1080p e 60fps, mas quanto mais complexo o projeto, mais difícil é chegar a este patamar, especialmente no início do ciclo desta nova geração.

Como explica Francisco Zaffari: ”Para atingir uma taxa de atualização de 60 quadros por segundo, um jogo precisa gerar os seus gráficos, processar os sons, processar a física, aplicar as suas regras, atualizar a inteligência artificial, atualizar a rede, preparar as animações, processar os dados dos dispositivos de entrada e, em alguns raros casos, ler e escrever dados de disco em menos de 16 milisegundos para cada quadro”.

Um bom exemplo disto é “InFamous: Second Son”, exclusivo do PS4 lançado em março. Com 1080p nativo, o game é incapaz de manter um framerate estável em determinados pontos - mesmo sem alcançar 60fps -, o que levou a produtora Sucker Punch a incluir uma trava de 30fps em uma atualização.

No fim das contas, a decisão de qual será a resolução e framerate do produto final fica a critério dos desenvolvedores, que estudam qual o melhor custo benefício para os jogos. Um título novo como “InFamous: Second Son” ou “Sunset Overdrive” pode ser extremamente complexo de receber este tipo de otimização, enquanto remasterizações - como “The Last of Us” para o PS4, “Halo: The Master Chief Collection” para o Xbox One, ou mesmo “The Legend of Zelda: Wind Waker HD” para o Wii U -, por serem jogos criados para consoles antigos, acabam sendo trabalhos mais simples.

Há também a questão de percepção destes elementos, no sentido literal da palavra: boa parte dos desenvolvedores (e publishers) acredita que o público não saiba diferenciar entre HD e Full HD, quanto mais notar a diferença entre taxas de quadros.

Nos olhos de quem vê

Será que você consegue ver a diferença entre uma imagem com resolução de 720p, 900p ou 1080p? Há diversos sites de games e tecnologia que fizeram comparações entre diferentes games, como neste link, por exemplo (em inglês).

A perspectiva de taxa de quadros também já foi explorada e comparada por diversas vezes. Caso queira fazer uma comparação visual por si mesmo, um bom exemplo pode ser visto por aqui (em inglês).

E, mesmo que você, em particular não tenha percebido grandes diferenças, um estudo conduzido por membros da Worcester Polytechnic Institute e University of Massachusetts indica que, ao menos em títulos multiplayer, a taxa de quadros é vital para uma experiência melhor para os jogadores, com a qualidade visual ficando em segundo plano.

De qualquer forma, parece que levará alguns anos até que jogos com resolução Full HD e taxa de quadros ao menos superior a 30fps comecem a surgir com mais regularidade, independente do console, já que estas decisões dependem tanto da vontade dos criadores quanto das próprias limitações de hardware e software.

Por enquanto, para quem prefere ou quer ter uma experiência de alta fidelidade visual em games, a melhor aposta continuará sendo o PC, que com o hardware certo - e otimização por parte das produtoras ou fãs dedicados, claro - pode chegar a estes patamares por diversas vezes.