Foto: Correio Braziliense

Terceira colocada na corrida presidencial, com 22,1 milhões de votos, Marina Silva (PSB) e a Rede Sustentabilidade elaboraram um conjunto de exigências programáticas para definir quem apoiará no segundo turno: manutenção dos avanços sócio-econômicos brasileiros; melhoria no debate político, com o fim da reeleição; e inclusão da tese da sustentabilidade na agenda de governo. Apesar do anúncio oficial acontecer apenas no fim desta semana, a aproximação com o PSDB de Aécio Neves é cada vez mais concreta.

Ontem, foi a vez dos socialistas de Pernambuco indicarem uma tendência de aliança com os tucanos a partir de agora. A opinião da ala pernambucana do PSB é importante por duas razões: além de ser o berço político de Eduardo, o governador eleito do estado, Paulo Câmara, teve a maior votação proporcional para um governo estadual em todo o Brasil.

Pesará também nessa decisão as posições da viúva de Campos, Renata, e do prefeito do Recife, Geraldo Júlio. Candidato a vice na chapa de Marina, Beto Albuquerque — que defende uma aliança com os tucanos — telefonou diversas vezes ontem para Renata para costurarem uma posição conjunta.

Embora ainda não tenha ocorrido uma reunião formal do grupo, os sinais são cristalinos. O governador de Pernambuco, João Lyra, divulgou nota afirmando que levará a proposta de apoio aos tucanos na reunião da Executiva Nacional do PSB, marcada para amanhã, em Brasília.

“A surpreendente ascensão de Aécio Neves nos últimos dias do processo eleitoral para a Presidência da República o credencia para representar as forças de oposição no segundo turno do pleito presidencial”, disse a nota. 

De acordo com o governador, que lembrou a batalha pela redemocratização travada por Tancredo Neves (avô de Aécio) e Fernando Lyra (irmão do governador de Pernambuco), “o Brasil enfrenta um momento muito delicado na economia e, também, um esgarçamento no seu tecido político. É fundamental lutarmos para o país voltar a crescer e indispensável uma reforma política. Creio que Aécio Neves conquistou a condição de liderar esse momento da política nacional.”

Chamou também atenção dos tucanos o fato de que o irmão do ex-governador Eduardo Campos, Antonio Campos, o Tonca, também ter demonstrado simpatia pelo senador mineiro.

“O meu voto no 2º turno é em Aécio Neves. Ressalto que tal declaração é em meu nome pessoal. Acho salutar uma mudança, nesse momento, para o Brasil”, diz ele.

Integrantes da cúpula do PSDB lembram que Tonca foi um dos primeiros a defender, entre os socialistas, que Marina deveria ser candidata a presidente após a morte de Eduardo Campos. E que, por um sinal de gratidão, a sonhática tenderia a ouvir as ponderações do irmão de seu ex-companheiro de chapa. 

Aproximação

Em São Paulo, o presidenciável Aécio Neves, embora tenha dito que respeitará o tempo de decisão de cada um, estendeu um tapete vermelho para Marina Silva. Ele se mostrou disposto a incluir em seu projeto temas como o fim da reeleição, sustentabilidade e manutenção das conquistas socioeconômicas, pontos defendidos por Marina para uma aliança.

“Vejo nestes temas e, até em outros, absoluta convergência com o que pensamos e queremos para o Brasil”, afirmou Aécio. “Vamos aguardar a posição de quem disputou as eleições. Obviamente estou aberto para conversar sobre um projeto de Brasil. Nossas propostas sempre poderão ser aprimoradas”, defendeu.

“Todos aqueles que têm como nós o sentimento de que o Brasil precisa mudar para avançar serão muito bem-vindos nesta caminhada”, defendeu Aécio. 

Para o tucano, os projetos de PSDB e PSB são semelhantes e facilitam uma aproximação. “Se avaliarem nossos programas vão encontrar mais pontos de convergência que pontos divergentes.” Além de “namorar” publicamente com Marina, Aécio enfatizou sua condição de oposição ao PT e contra-atacou as últimas críticas de Dilma Rousseff. “Me surpreende ver a candidata oficial falar dos ‘fantasmas do passado’.

Na verdade os brasileiros estão preocupados é com os ‘monstros do presente’: inflação alta, recessão, corrupção”, rebateu, em resposta às declarações de Dilma no último domingo. “Estaremos de braços abertos para receber o apoio de todos que, como nós, compreendem que este ciclo de governo do PT precisa ser encerrado, cuja marca na gestão é o aparelhamento da máquina pública.”

No comando de campanha petista, são cada vez menores as apostas de apoio de Marina no segundo turno das eleições. Pelos cálculos dilmistas, o PPS e a Rede — aí incluindo a própria ex-senadora — vão anunciar apoio à candidatura de Aécio Neves.

A torcida é para que o PSB opte pela neutralidade para não prejudicar o segundo turno dos candidatos a governador, como Rodrigo Rollemberg (DF), Ricardo Coutinho (PB) e Camilo Capiberibe (AP). “Eles vão precisar de apoio dos petistas para vencer as eleições. Valerá a pena estragar os planos anunciando agora um acordo com os tucanos?”, questionou um interlocutor da presidente. 

De maneira protocolar, Marina ligou ontem pela manhã tanto para Dilma quanto para Aécio para parabenizá-los pela passagem para o segundo turno. “Recebi um telefonema extremamente gentil e civilizado da candidata Marina. Ela me cumprimentou pela eleição. Agradeci o cumprimento e disse que tinha certeza de que nós lutávamos por melhorar o Brasil, em que pese nossas diferenças”, relatou Dilma, durante entrevista no Palácio da Alvorada.

Dilma acrescentou que “hoje seria uma temeridade” qualquer sinalização dos apoios para o futuro. Para a candidata, essa decisão não depende apenas de uma pessoa, mas sim de várias instâncias. Afirmou ter certeza de que parte dos votos da ex-senadora será dividida entre ela e Aécio.