Em entrevista ao programa “Bom Dia, Ministro” da última quinta-feira (4), o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR), Moreira Franco, falou, entre outros assuntos, sobre o perfil da classe média brasileira. Leia abaixo trechos da entrevista, editada pelo Em Questão.

Classe Média

A classe média brasileira é consequência de ganhos da renda do trabalho. Nós tivemos, durante os últimos dez anos, alguns fatores que incidiram na renda do trabalho, que permitiram que 38 milhões de brasileiros ascendessem à classe média. Hoje, 53% da população é composta por pessoas que estão na classe média, e esse segmento coloca R$ 1 trilhão no mercado de consumo. A renda do trabalho ascendeu porque tivemos uma inflação controlada e uma política de salário mínimo que, durante dez anos, de maneira consecutiva, garantiu ganhos reais ao trabalhador brasileiro. Dos 38 milhões de brasileiros que ascenderam à classe média, 80% são negros, 35%, 36% nordestinos, e uma ampla maioria das mulheres. As mulheres ingressaram com muito mais radicalidade no mercado de trabalho.

Educação financeira

Em uma sociedade democrática, as pessoas estruturam a sua bolsa de compras de acordo com suas necessidades. Passaram a entender que, para garantir o emprego, para ter um emprego de qualidade, tem que cuidar da sua aparência. Por isso, a indústria de cosméticos e higiene, no Brasil, no setor industrial, foi a que mais cresceu. Não é uma coisa condenável. A vaidade é um dado positivo. O governo não vai interferir. O governo vai cuidar, sim, no sentido de garantir que o endividamento não seja excessivo. Estamos nos organizando, várias iniciativas foram tomadas pelo Banco Central, e a SAE trabalha junto ao Banco Central para aprofundar o processo de inclusão e de educação financeira, para que o cidadão da classe média saiba quanto está pagando de juro, saiba organizar sua vida, fazer com que não se endivide além da sua possibilidade.

Escolaridade

Os filhos da classe média estudam. Têm mais estudo que os pais, em torno de 49% acima. Os da classe alta, somente 20%. O estudo é uma ferramenta importante na classe média. São ganhos fundamentais para a consolidação da sua posição, para o seu futuro. A renda do trabalho da classe alta é três vezes maior que da classe média. A questão da educação: a classe média tem oito anos, em média, e a classe alta tem 12 anos, em média, de presença no processo educacional. E isso a classe média começa a tomar consciência.

Idosos e Crianças

Os idosos, pela rede de proteção que conquistaram, ao longo desses anos todos, tiveram seus direitos avançados e consolidados. Hoje, os idosos são muito mais ricos do que as crianças. Uma das razões da diferença de renda entre a classe alta e a classe média, por exemplo, é que a classe alta tem mais adultos do que a classe média. A criança onera no orçamento familiar. Ela não contribui para o orçamento familiar ainda, mas precisa de gastos que a família tem que fazer. Estamos muito preocupados em garantir para essas crianças uma qualidade pessoal, individual, muito mais alta do que teve a nossa geração, a dos nossos filhos. Precisamos dar aos nossos netos condições de educação motora, de sociabilidade, capacidade de desenvolver sua inteligência. E esses condicionantes se dão até os quatro anos.

Políticas Sociais

O que o 13º salário coloca na economia é dez vezes maior do que a verba para o programa Bolsa Família. Do ponto de vista econômico, a renda do trabalho tem muito mais peso, mais importância. O objetivo do governo é exatamente acabar com a miséria absoluta, e só se faz isso com programas sociais. Mas temos que ter consciência que, cada vez mais, a sustentabilidade da classe média brasileira será muito mais decorrente de políticas econômicas que tenham compromissos com a garantia social de direitos de acesso à riqueza, de melhoria na distribuição de renda, do que propriamente de políticas sociais. Ou seja, temos que ter políticas econômicas que garantam a sustentabilidade, que permitam que haja um aumento continuado da renda do trabalho e a possibilidade de ter acesso ao emprego e à educação.