Segunda-Feira 23/06/2025 19:31

Reportagem mostra condições de trabalho degradantes nos principais frigoríficos do país

Brasil - Trabalho - Realidade do Trabalho nos Frigoríficos

Quem trabalha em um frigorífico se depara diariamente com uma série de riscos que a maior parte das pessoas sequer imagina.

Exposição constante a facas, serras e outros instrumentos cortantes; realização de movimentos repetitivos que podem gerar graves lesões e doenças; pressão psicológica para dar conta do alucinado ritmo de produção; jornadas exaustivas até mesmo aos sábados; ambiente asfixiante e, obviamente, frio – muito frio.

No Brasil, os danos à saúde gerados no abate e no processamento de carnes destoam da média dos demais segmentos econômicos.

São elevados os índices de traumatismos, tendinites, queimaduras e até mesmo de transtornos mentais.

Para enfrentar tais problemas, é urgente reprojetar tarefas, introduzir pausas e, em alguns casos, diminuir o ritmo das linhas de produção.

Medidas que, no entanto, esbarram em resistências de indústrias do setor.

Em 2012, a ONG Repórter Brasil investigou a fundo as condições impostas aos funcionários dos três maiores frigoríficos brasileiros: Brasil Foods (BRF), JBS e Marfrig.

O resultado, apresentado nessa reportagem digital, mostra exemplos típicos da realidade descrita acima.

São dezenas de unidades industriais condenadas na Justiça, interditadas, multadas ou processadas por graves problemas na organização do trabalho (mais detalhes no mapa da home page).

Essas três empresas comandam o vertiginoso crescimento de uma indústria nacional que, nos últimos anos, invadiu restaurantes e supermercados em todos os continentes.

Contaminando, dessa forma, milhões de refeições mundo afora com o indigesto cotidiano de trabalho na indústria brasileira da carne.

Por isso mesmo, também foram investigados os elos que ligam BRF, JBS e Marfrig às maiores redes mundiais de fast-food e aos dez maiores varejistas globais com atuação no setor alimentício - “Os Poderosos do Varejo Global”, 15ª Edição (Deloitte, 2012).

As informações aqui apresentadas, baseadas em relacionamentos comerciais identificados nos anos de 2011 e 2012, mostram como tais empresas distribuem a carne brasileira em dezenas de países.

Em alguns casos, importando peças bovinas, suínas e de aves diretamente do Brasil.

Em outros, vendendo produtos de subsidiárias internacionais dos três frigoríficos – que, por sua vez, processam matéria-prima oriunda de abatedouros brasileiros.

Além disso, foram mapeados outros fabricantes de alimentos, importadores de proteína animal da BRF, JBS e Marfrig, e que têm seus itens vendidos por grandes redes de supermercados.

A reportagem também mostra clientes de empresas europeias, asiáticas e norte-americanas adquiridas em anos recentes pelos três gigantes brasileiros da carne, mas que não necessariamente utilizam carne do Brasil em suas linhas de produção.

Um alerta importante, em tempos de crescente globalização dessa indústria, para mostrar como os parceiros comerciais dos grupos BRF, JBS e Marfrig, independentemente da origem do produto, podem estar financiando uma rede de negócios associada ao adoecimento e à incapacidade de milhares de trabalhadores.

Os frigoríficos, varejistas e redes de fast food citados foram convidados a se pronunciar sobre os problemas encontrados.

A reportagem traz o posicionamento daqueles que quiseram se manifestar.

Moendo Gente dá continuidade à pesquisa da Repórter Brasil iniciada para a realização do premiado documentário “Carne Osso – O Trabalho em Frigoríficos“, vencedor de festivais dentro e fora do país.

Os Problemas

Estatísticas oficiais, avaliações de especialistas e de autoridades competentes mostram que trabalhar em frigorífico é, comprovadamente, uma atividade de risco.

Nesta seção, você irá encontrar matérias que ajudam a compreender o mosaico de problemas de saúde e de organização do trabalho encontrados neste que é um dos principais setores do agronegócio nacional – responsável por mais de 750 mil empregos diretos e que, em 2011, exportou US$ 15,64 bilhões.

Veja o vídeo aqui.

Conheça as empresas:

Brasil Foods, JBS e Marfrig são os três principais vencedores de uma indústria que, nos últimos dez anos, literalmente ganhou o mundo.

O Brasil tornou-se, nesse período, o maior exportador global de frango e carne bovina.

E ainda almeja voos mais altos.

Até 2020, segundo a expectativa do governo federal, mais de 45% desses dois mercados devem ser abocanhados pelos produtos “made in Brazil”.

Para alcançar tais resultados, o país viu praticamente dobrar, desde 2001, a quantidade de animais abatidos pela sua indústria frigorífica.

Temos hoje o quinto maior contingente planetário de pessoas (194 milhões), mas, ainda assim, os homens são menos abundantes no território nacional do que os bois e as vacas (209 milhões de cabeças), e apenas uma fração da população total de frangos (superior a um bilhão).

Para estar hoje em mais de 150 países, a carne brasileira beneficia-se da recente formação de multinacionais verde-amarelas encabeçadas pelos três grupos frigoríficos citados (todos eles entre os 20 maiores exportadores do Brasil).

Apesar de graves problemas trabalhistas em suas fábricas, essas empresas se valem de parcerias internacionais com gigantes do varejo e da indústria alimentícia.

Além, é claro, de crucial apoio financeiro do Estado.

JBS

As atividades da JBS tiveram início em 1953, com uma pequena planta de abate em Anápolis (GO).

Nas décadas seguintes, o grupo expandiu suas operações através da aquisição de dezenas de unidades produtivas no Brasil – atualmente, são 35 frigoríficos e abatedouros.

Paralelamente, em 2005, iniciou também uma agressiva política de aquisições internacionais. Como resultado, tornou-se hoje o maior processador de proteína animal do mundo.

Possui quase 130 mil empregados, 49 mil deles no Brasil.

Na última década, a expansão das atividades da JBS contou com decisivo apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), estatal vinculada ao governo federal.

O banco aportou mais de 10 bilhões de dólares no grupo através da compra de ações, de debêntures e da concessão de financiamentos.

O grupo está presente hoje nos segmentos de carne bovina, suína, ovina e de aves – em maio de 2012, assumiu a operação das plantas da Frangosul (grupo Doux) no Brasil. Possui também indústrias de lácteos, couro, biodiesel e colágeno.

Operações internacionais:

O grupo JBS possui plataformas de produção e escritórios na Argentina, Itália, Austrália, Egito, Estados Unidos, Uruguai, Paraguai, México, China e Rússia, entre outros países.

Nos Estados Unidos, adquiriu, em 2007, a Swift Foods Company, e, em 2009, a Pilgrim’s Pride, tornando-se um dos líderes locais no processamento de carne bovina, suína e de frango.

Formou também uma joint venture com a Jack Link’s, líder norte-americana na produção de snacks de carne.

Na Austrália, a JBS controla mais de dez plantas de abate, sendo o líder na produção de carne bovina e o segundo maior no mercado de ovinos.

No continente sul-americano, além das operações brasileiras, a JBS também é dono de frigoríficos na Argentina, Paraguai e Uruguai.

Na China, o grupo possui uma fábrica de couros.

Acionistas:

A Fb participações (controlada pela família Batista, fundadora da JBS), é a acionista majoritária do grupo frigorífico.

O segundo maior sócio (29,92% do capital) é o BNDES.

Outro acionista de destaque é o fundo de investimentos PROT (3,49% do capital), formado pelo próprio BNDES e pelos fundos de pensão dos funcionários da Petrobras (Petros) e da Caixa Econômica Federal (Funcef).

A JBS negocia suas ações na bolsa de valores desde 2007.

BRASIL FOODS

A empresa foi criada em 2009, a partir da fusão das duas maiores processadoras de carne de frango e de suínos do Brasil: a Perdigão, fundada por descendentes de italianos na década de 1930, e a Sadia, criada em 1944 pelo empresário Attílio Fontana.

O resultado foi uma das maiores indústrias globais de alimentos, com quase 120 mil empregados somente em seu país sede.

A receita líquida da Brasil Foods, em 2011, foi de R$ 25,7 bilhões. Segundo informações da própria companhia, ela responde por 9% das exportações mundiais de proteína animal.

O grupo frigorífico exporta para mais de 140 países e opera 61 fábricas no Brasil, distribuídas por 11 estados. Além disso, também controla sete indústrias no exterior.

As marcas internacionais Sadia e Perdix têm forte penetração em diversos países.

As exportações da empresa valem-se de linhas de crédito firmadas com as três maiores instituições bancárias do país: Banco do Brasil, Itaú e Bradesco.

Em 2011, o Banco do Brasil também assinou com a Brasil Foods um convênio no valor de R$ 1,4 bilhão, destinado a financiar projetos integrados – nos quais o produtor rural cria o frango, com subsídio das indústrias avícolas, sob o compromisso de vender a sua produção à empresa.

Em 2012, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) acena com a concessão de 2,5 bilhões para amparar projetos de expansão da Brasil Foods.

Em 2009, a instituição financeira estatal já havia injetado 750 milhões na companhia.

Operações internacionais

Desde 2007, a Brasil Foods é dona da Plusfood, indústria processadora de frango com instalações industriais na Holanda e Reino Unido, além de escritórios de venda em países como Itália, Holanda e Reino Unido.

A empresa, que recebe matéria-prima abatida nos frigoríficos brasileiros do grupo, atua em parceria comercial com importantes nomes do varejo.

Em 2011, a Brasil Foods anunciou investimento de US$ 120 milhões na construção de uma unidade no Oriente Médio, focada em alimentos processados (carnes, pizzas, empanados etc).

Firmou, nesse mesmo ano, uma joint venture com a chinesa Dah Chong Hong, visando a distribuição e o processamento de produtos para o mercado daquele país.

Na Argentina, o grupo brasileiro adquiriu, em 2012, o controle societário da empresa Avex, com operações de avicultura, e do Grupo Dánica, que mantém duas fábricas de alimentos em território platino.

A partir de uma troca de ativos com a Marfrig, firmada em 2012, a Brasil Foods também passou a controlar a Quickfood, líder no mercado argentino de hambúrgueres.

Acionistas

A Brasil Foods é uma empresa de capital pulverizado, tendo entre os seus maiores acionistas os principais fundos de pensão brasileiros, ligados a empresas estatais.

A maior participação cabe à Caixa de Providência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ), com 12,8%. Na sequencia está a Petros, dos funcionários da Petrobras (10,3%), e o fundo de gestão Tarpon Investimentos (8%).

Em junho de 2012, a gestora de fundos de origem norte-americana BlackRock atingiu participação de 5,1% no capital da empresa brasileira.

Outros fundos com ações da Brasil Foods são ligados à Valia (empregados da mineradora Vale), Sistel (funcionários do setor de telefonia) e Fapes (previdência complementar do BNDES).

MARFRIG

Fundado em 1986, o grupo Marfrig é o terceiro maior produtor de carnes da América Latina, e o terceiro maior do mundo no segmento de bovinos. Fabrica também itens de carne suína, aves e peixes. Suas mercadorias estão presentes em mais de 140 países, sendo produzidos por aproximadamente 90 mil funcionários – mais da metade deles no Brasil.

Em terras brasileiras, o grupo é dono de 47 plantas frigoríficas em dez estados. Em 2009, adquiriu a Seara Alimentos, até então segunda maior empresa do setor de aves e embutidos no país.

A frenética aquisição de empresas estrangeiras pela Marfrig nos últimos anos teve como parceiro o governo federal, através de aportes bilionários do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Foram R$ 2,5 bilhões apenas para a compra da Keystone Foods. Desde 2008, o banco também adquiriu R$ 1,1 bilhões em ações da companhia, e concedeu outros financiamentos para o grupo, de ao menos R$ 700 milhões.

Além dos negócios na indústria da carne, o grupo também controla a Zenda, fabricante multinacional de couros para as indústrias automobilística e aeronáutica.

Operações internacionais:

O grupo Marfrig é o maior produtor de aves no Reino Unido.

Alcançou esse posto por meio da aquisição, em 2008, da Moy Park, indústria de alimentos que é também a maior companhia privada da Irlanda do Norte.

Em 2010, adquiriu outra importante processadora de aves naquele país, a O’kane.

Também em 2010, a companhia brasileira comprou a Keystone Foods, multinacional norte-americana líder no fornecimento de produtos de carne para diversas redes de fast food em todo o mundo.

Outra empresa da Marfrig nos Estados Unidos é a Marfood, que fabrica produtos de “marca própria” para gigantes locais do varejo.

Em 2011, a empresa anunciou novos negócios no mercado chinês, através da formação de joint ventures com a Cofco, líder local na fabricação de alimentos, e com a Chinwhiz, fabricante de rações.

A internacionalização do grupo também se espalhou pelo mercado sul-americano.

No Uruguai, o Marfrig adquiriu, em 2006, o frigorífico Tacuarembó, uma das maiores empresas daquele país.

Em alguns casos, as operações internacionais da Marfrig se dão a partir do processamento de matéria-prima abatida no Brasil, onde está a maior capacidade de abate do grupo.

Acionistas:

Marcos Molina, presidente e fundador da companhia, é o acionista majoritário da Marfrig (através da MMS Participações). O BNDES, por sua vez, possui aproximadamente 14% do capital da companhia.

Com 5,8% de participação, o grupo multinacional OSI é outro acionista relevante.

Trata-se também de uma indústria do setor de alimentos, com forte atuação no fornecimento de produtos a grandes redes de restaurantes.

Através de suas operações brasileiras, também integra a composição acionária do grupo (5%) a tradicional gestora norte-americana de recursos Franklin Templeton.

A Marfrig é uma empresa de capital aberto desde 2006.

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