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O último Censo Agropecuário lista que, dos 5,2 milhões de estabelecimento rurais no Brasil, 1,5 milhão, ou quase um terço, foram obtidos por herança, fatia que representa a importância da sucessão na atividade agropecuária. No entanto, as estimativas ainda apontam que é pequeno o número de proprietários que já têm conhecimento o suficiente para obter êxito na sucessão não somente do patrimônio, mas também do negócio que gira dentro da porteira.

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Eduardo Corrêa Riedel, indica que apenas o topo da pirâmide entre os proprietários rurais que mais participam da geração do Valor Bruto da Produção está pronto para a sucessão. “Analisando o setor, eu enxergo umas faixas que estão mais preparadas. Dos 5,2 milhões de produtores no Brasil, cerca de 300 mil (aproximadamente 5,7% do total), que estão nas faixas A e B, respondem por 86% do nosso VBP, ou seja, da geração de riqueza da agropecuária. Esses eu sinto que estão mais preparados. Esses estão mais preocupados com essa discussão. O restante ainda não. Na verdade, você ainda tem cerca de 3,5 milhões que estão em uma fase operacional de conseguir absorver tecnologia”, detalha Riedel.

O maior obstáculo a ser superado é a profissionalização da atividade, seja ela agricultura ou pecuária, um desafio que já foi encarado pelo próprio Eduardo Riedel enquanto produtor rural. Riedel ocupa hoje o cargo de diretor presidente da Sapé Agropastoril, grupo de três fazendas herdadas de seus avós em um processo de sucessão do qual ele começou a fazer parte em 1994. “Foi quando eu vim para o Mato Grosso do Sul e dei o primeiro passo da fase de investimentos na produção. Não tinha muito o que discutir, era arregaçar as mangas e trabalhar – muito!”, ressalta.

Àquela época, a Sapé Agropastoril era basicamente uma propriedade que sobrevivia da pecuária extensiva e já apresentava pastagens degradadas. A ferramenta escolhida para reformar a fazenda foi a agricultura. Juntamente ao novo modelo operacional, iniciou-se na Sapé a gestão através de métodos de controle e análise dos sócios – Riedel e seus dois irmãos. “Se não tiver um negócio profissionalizado, você vai fazer meramente uma sucessão de patrimônio, não de negócio. Quando eu falo em sucessão, falo em transferência e perpetuação de um negócio. Nesse caso não há como não se profissionalizar”, recomenda Riedel.

A experiência de Eduardo Riedel, que é biólogo, mestre em melhoramento genético animal e  possui MBA em gestão empresarial, será o tema da primeira palestra do CONFINAR 2014, que acontece em Campo Grande, capital sul-mato-grossense, nos dias 6 e 7 de maio. A palestra “Os desafios da sucessão familiar na atividade rural” abrirá a grade de programação do primeiro dia de evento às 08h30. “A ideia central é trabalhar a linha do tempo da Sapé Agropastoril e, para cada fase, dizer quais foram os conceitos que nortearam nossas ações e suas consequências no processo de sucessão tanto de patrimônio como do negócio”, sintetiza Riedel. “Acredito que o público vai se identificar com várias situações que eu vou mostrar”, aposta.

Formação
A linha do tempo da propriedade começa em 1872, com os fundadores da fazenda chegando ao MS e iniciando o processo de divisão das áreas, que estariam em posse dos avós de Riedel com sua formação atual apenas na década de 1940. Na palestra, o produtor contará, então, como a propriedade passou por diferentes momentos da produção rural pertinentes à região em que se localiza. “Na década de 60 aconteceu a introdução de pastagens exóticas no estado. Nos anos 70, ganhou força a agricultura e a intensificação da produção. Já em 80 se discutia muito sobre abertura de áreas e também a quebra da agricultura e dos arrendatários”, lembra o biólogo.

Na década de 90, com a aposentadoria dos avós, a mãe de Eduardo herdou as ações da fazenda e, mais tarde, distribuiu igualmente entre os três filhos o controle. Atualmente, há um acordo entre os acionistas registrado em cartório através do contrato social da Sapé Agropastoril e que regulamenta a relação entre os sócios, dispositivo essencial para a evolução da fazenda como empresa, avalia Riedel. “Tenho dois irmãos que não trabalham na fazenda, mas são donos. Os acionistas esperam o máximo de retorno do gestor, então que este gestor seja o mais preparado o possível. Eu mesmo sou acionista e funcionário do negócio”, explica.

Até pelo compromisso firmado pelos três sócios, os futuros acionistas da Sapé Agropastoril (os herdeiros) não podem, automaticamente, fazer parte do quadro de funcionários da empresa. “Nenhum deles pode trabalhar na Sapé, apenas sob determinadas condições. Tem que passar por uma universidade, trabalhar e ganhar dinheiro fora da fazenda. Se, por ventura, alguém for trabalhar lá, terá que ser por preparo, capacidade e demanda da empresa. De outra forma, eu estaria decretando o fim do negócio”, alerta Riedel.

Na avaliação do proprietário rural e presidente da Famasul, é um dos equívocos mais comuns o produtor rural preparar seu filho para que ele seja, necessariamente, seu sucessor. “Tem que preparar seu filho para ser acionista e para conhecer tecnicamente o negócio apenas se for a vontade dele. Na Sapé, não contratamos profissionais desqualificados. Estará lá quem for bom e tiver vontade, que se habilite para tal. Mas a sobrevivência do negócio depende de você preparar os futuros acionistas”, separa Eduardo.

A palestra de Eduardo Riedel poderá ser presenciada pelos congressistas do CONFINAR 2014. As inscrições para o simpósio estão abertas e até o dia 06 de abril há descontos para profissionais e estudantes.

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