Falta foco para o Brasil aproveitar as oportunidades da economia verde na crise
Brasil - Economia - Destino para Investimentos
A falta de foco das políticas públicas, problemas estruturais e escasso fomento à inovação, podem levar o Brasil a perder uma ampla oportunidade de se destacar na economia verde durante a crise financeira internacional. Segundo especialistas consultados, o Brasil está sendo observado de perto como um possível destino para investimentos, porém são poucos que arriscam aplicar seu dinheiro no país.
“O Brasil e a América Latina estão cada vez mais presentes nas conversas”, revelou Richard Youngman, gerente geral do Cleantech Group, um dos maiores sistemas de fomento e divulgação de informação sobre tecnologias limpas no mundo. “Por causa da crise financeira, as empresas estão abarrotadas de dinheiro, mas não estão investindo e procuram os portos seguros tradicionais como os bônus do governo americano e dos governos europeus”.
Os movimentos financeiros, apesar de atrapalhado por efeitos manada, são bastante lógicos: quando as taxas de juros básicas caem, os investidores buscam outras opções para aumentar ou manter seus rendimentos, entre estes inversores estão fundos mútuos, fundos de pensão e pessoas físicas.
Com a queda de taxa de juros internacionais para níveis historicamente baixos de menos de 2% ao ano, e com a redução gradual das taxas básicas brasileiras – hoje em 8% ao ano, o menor valor desde 1986 quando a taxa foi criada -, a lógica seria investir em ações ou em participação de empresas nascentes que prometem gerar rendimentos altos a médio e longo prazo.
“A decisão não é tomada de um dia para outro, é mais estudada, pois a lógica é que quando o retorno aumenta, há maior risco”, explicou Clóvis Meurer, presidente da Associação Brasileira de Venture Capital e Private Equity (ABVCAP). “Os primeiros a alocar recursos em fundos mais arriscados são os fundos de pensão que têm uma compreensão maior deste mercado”.
Os fundos de capital risco, segundo Meurer, projetam retornos pelo menos duas vezes a taxa básica de juros de cerca de 8% ao ano.
Do lado das empresas, quando os juros caem, os investimentos em inovação e no aumento da produção e produtividade tornam-se mais rentáveis. No entanto, mesmo com o Brasil se destacando, ainda que com crescimento moderado, na crise financeira, os investimentos estrangeiros diretos caíram para US$29 bilhões nos primeiros seis meses de 2012 de US$35 bilhões em igual período em 2011. Além disso, a taxa doméstica de investimento do setor privado caiu no primeiro trimestre de 2012 para 16,3% do PIB de 16,8% no final de 2011, segundo dados do IBGE.
A economia verde ou sustentável, não foge desta lógica. No entanto, apesar de algumas iniciativas pontuais, e de grande interesse, não há registro de uma tendência de porte de aumento de investimentos nesta área.
OPORTUNIDADES PERDIDAS
“Sustentabilidade é um negócio rentável, as pessoas têm que perceber isso”, disse Antônio Lombardi, sócio do Sustainable Hub, uma consultoria paulistana que foca em sustentabilidade. “Mas infelizmente ainda é visto como alternativo”.
O Sustainable Hub que, no final de 2011, fez acordo com empresas de tecnologia verde da cidade americana de Portland para virem ao Brasil, acabou botando o pé no freio.
“Eu tenho que explicar que investir no Brasil é complicado, o país ainda é muito fechado e estou preocupado pois estamos perdendo oportunidades”, lamentou. “Não é problema de burocracia, pois nos Estados Unidos existe tanta ou mais burocracia, mas lá é mais ágil”.
Para ele, a parceria com empresas privadas com acordos claros de transferência de conhecimento e tecnologia é o caminho, pois dentro da janela de oportunidade aberta pela crise mundial, acredita Lombardi, o Brasil não tem ‘tempo de criar seu próprio conhecimento do zero’.
As principais barreiras são abrir uma filial, importar serviços, transferir tecnologia e não há instrumentos claros para investimentos de e menor porte. Entre as empresas no portifólio da Sustainable Hub, há uma especializada em telhados verdes com sistemas de captação de água da chuva de tempestades, mas, segundo o consultor, está difícil achar o caminho para eles venderem os serviço no país.
“É complicado explicar para eles que para abrir uma filial no Brasil é necessário de autorização expressa do Presidente da República, sem contar que há uma carga tributária de 42% para importar serviços”, lamentou.
Estes entraves, portanto, é que fazem o investidor ficar fora do pais, principalmente na economia verde.
“Estão todos procurando um jeito claro de obter retorno de seus investimentos, e o crescimento do mercado não é o único fator”, lembrou Youngman do Cleantech Group.
Para Youngman, há três tipos de situações possíveis que atraem interesse de tipos de diferentes a investidores no setor de tecnologias limpas que são mais comuns: países ricos em recursos; países que estão em fase rápida de crescimento e precisam expandir mercados e investimentos em tecnologia local de qualidade.
No setor de tecnologias limpas, talvez o exemplo mais claro do potencial do Brasil é a energia eólica que, a partir de 2009, atraiu sete fabricantes e deve fechar o ano com 2GW de capacidade instalada. E o mesmo pode se repetir em outros setores como a energia solar e até no saneamento básico, que têm desenvolvido rapidamente no mundo com investimentos constantemente crescentes na última década.
MODELO NACIONAL
No entanto, o modelo internacional para o fomento e a comercialização destas tecnologias tem sido o setor de capital de risco, repetindo o surgimento da Internet nos anos 90 do século XX. Fundos de capital risco investem em empresas de tecnologia nascentes – muitas com origem em centro de pesquisas universitários – ajudando a desenvolver e colocar a tecnologia no mercado por meio de novos produtos.
Em média, após cinco anos, os fundos vendem suas participações para grandes empresas que necessitam destas tecnologias para expandir mercados ou em ofertas públicas de ações nas bolsas.
No Brasil, entretanto, este caminho não está claro já que o mercado de capitais ainda é pequeno e tanto a tradição empreendedora e inovadora e quanto a de investimento de capital de risco ainda são incipientes.
“O setor de capital de risco tem 10 anos e está amadurecendo”, explicou Meurer da ABVCAP. “Se olharmos o número de fundos de capital semente hoje é bem maior que alguns anos atrás”.
Para ele, há interesse em todos os setores, apesar de não haver a criação de muitos fundos nacionais específicos para investir na economia verde. No entanto, segundo Meurer, o investimento estrangeiro ainda é feito indiretamente pelos grandes fundos de capital de risco como o Carlyle que estão no Brasil principalmente por meio de representações do outros fundos locais. Os investimentos são bem diversificados incluindo telecomunicações, TI, construção civil, biotecnologia médica, agricultura, varejo, transportes e infraestrutura.
Para Bruno Moreira, sócio da consultoria de inovação Inventta, a cultura de inovação e o empreendedorismo no Brasil têm melhorado e deve continuar devido às políticas governamentais de subvenção econômica e aproximação entre pesquisadores e empresas. Para ele, o interesse em tecnologias limpas acompanha esta tendência.
No entanto, ele concorda que investimento em inovação ainda é visto como arriscado e muitas empresas investem em tecnologias limpas apenas para se adequar à legislação ambiental cada vez mais rigorosa e evitar multas e punições.
Esta falta de cultura também atrapalha os investimentos em starp-ups nacionais – de tecnologia limpa ou não.
“Recentemente um fundo de capital de risco estrangeiro veio prospectar investimentos aqui, mas concluiu que não havia boas oportunidades”, exemplificou. “É que eles esperavam ter planos de negócios claros e bem estruturados como os feitos lá fora. O que temos aqui são boas oportunidades que valem a pena desenvolver, eles não entenderam isso”.
Moreira fala de conhecimento de causa pois como gestor do Fundo de Captial Semente do BNDES, Criatec, a Inseed teve que trabalhar duro para estruturar em planos de negócios ideias apresentadas e que no fim foram investidas pelo fundo. Foram feitos 36 investimentos em quatro anos, segundo dados da Antera, co-gestor do Criatec.
Para Moreira, a queda juros abre espaço para a diversificação de investimentos sim, mas as barreiras ainda são grandes.
Para Youngman, os principais fatores que incentivam investimentos produtivos na economia verde estão intocados no médio prazo, mas faltam modelos claros e, principalmente, manutenção das regras que incentivam investimentos em energias limpas, novos materiais, gestão de resíduos, recursos hídricos e os outros sete setores que tradicionalmente compõe a economia verde. Estas regras dependem de governo e agencias reguladoras, lembrou Youngman referindo-se ás recentes mudanças nos subsídios a estes setores pelos países desenvolvidos.
“Os motivadores para a economia verde continuam aí e devem até se fortalecer,” concluiu. “O que acontece é que nos últimos cinco anos ninguém conseguiu comprovar uma fórmula perfeita para ganhar dinheiro”.
seumundosustentavel.com/KF
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