Foto: EGO

A quarta-feira, 26, foi uma espécie de novo aniversário para o ator Vinicius Romão – que foi preso injustamente acusado de roubo. Foi neste dia que ele comemorou um mês de liberdade depois de passar 16 dias na cadeia. Foi nesta semana também que ele saiu à rua pela primeira vez sozinho. Ele ainda não tinha feito isso desde sua soltura. O motivo? Trauma.

“Ainda não tinha saído sozinho. Mas ainda assim, não vou para muito longe. Fiquei traumatizado com o que aconteceu. Estou fazendo terapia. Tive que fazer porque estava muito mal”, conta o rapaz de 27 anos, que agora luta contra o tempo para recuperar na academia os quilos e o físico perdido na prisão – foram 8kg no total -, está dando palestras sobre sua história e sonha engrenar na carreira de ator.

“Queria que as pessoas me conhecessem pelo meu trabalho, não só pelo que aconteceu comigo. Como se eu tivesse conseguido algo só por causa dessa história”, ressalta ele, sem revoltas e com o olhar esperançoso para o futuro. Confira mais abaixo.

O que mudou na sua vida um mês depois de ser solto?

Minha vida mudou bastante. Mas aos poucos estou voltando à minha rotina. Esta semana voltei para a academia, tive que sair do meu trabalho na loja porque não estava conseguindo conciliar com algumas coisas. Muitas pessoas vêm falar comigo nas ruas, me dão apoio, isso me deu confiança para voltar a sair sozinho na rua.

Você ainda não tinha saído sozinho? Ficou Traumatizado?

Sozinho, sozinho, não. A primeira vez foi esta semana. Fui à OAB sozinho, de ônibus. Mas o trocador e o motorista me reconheceram e ficaram conversando comigo. Mas ainda assim, não vou para longe. Fiquei traumatizado com o que aconteceu.

Você procurou apoio psicológico?

Estou fazendo terapia. Tive que fazer porque estava muito mal. Meu episódio foi muito delicado. Tenho um afilhado pequeno e, na prisão, ficava pensando nele crescendo, perguntando por mim e as pessoas dizendo que eu estava preso. Mas não queria que as pessoas tivessem pena de mim. Também estou tendo ajuda dos meus amigos para voltar a ter uma vida normal.

Em algum momento você ficou revoltado?

Bateu revolta, mas não de querer me vingar, mas pelo modo como as coisas aconteceram. Acho que as pessoas estudam, têm o cargo, mas chega na hora e perdem a sensibilidade Acham que têm um poder e podem tudo.

Chegou a perder a esperança em algum momento?

Perdi quando os dias foram passando e meu pai não foi me visitar. Pensei que ele tinha esquecido de mim. Quando saí, ele contou que tentou me verr, mas não teve sucesso. Mas lá dentro, sem informação, achei que ele tivesse me esquecido. Bateu desespero.

Quando você saiu, qual a coisa que você mais queria fazer?

Queria muito ver os meus amigos e vestir uma roupa limpa. É muito duro você passar 16 dias vestindo a mesma roupa. Tomar banho, mas vestir a mesma roupa. Abrir a geladeira em casa e beber água. Sentir o cheiro de casa, o cheiro da roupa limpa.

Você emagreceu muito na prisão. Você não comia? Já conseguiu recuperar o peso perdido?

Comia, tinha três refeições. Acho que foi tristeza, abatimento. Sem notícias do meu pai, sem malhar. Sou um cara que sempre gostou de atividade física. Também acho que o cabelo raspado ajudou a dar uma sensação maior de abatimento. Perdi oito quilos, mas acho que já recuperei uns três, quatro quilos.

Você aprendeu alguma coisa na prisão?

Aprendi a importância da coletividade. Por exemplo, o banho leva só quatro minutos. A gente tinha que se organizar, se respeitar, senão não tinha como funcionar.

E como está a sua vida profissional agora? Pintou alguma oportunidade para voltar a trabalhar?

Agora estou parado. Recebi alguns convites, mas nada concreto. Me falaram de algumas seleções de elenco, mas ainda estou esperando.

Você tem dado algumas palestras. É remunerado para isso?

Não, não ganho nada. Mas acho importante contar minha história, que é comum à maioria dos brasileiros. O que eu passei, poderia ser com qualquer pessoa. Acho importante contar, ajudar o próximo.

E sua carreira de ator, pretende investir nisso?

Comecei agora. Fiz só figuração na Novela “Lado a lado”, e fui gostando daquilo, me encontrei ali. Mas depois não pintou mais trabalho e topei ser vendedor de fim de ano na loja. Deu certo e fui efetivado.  Mas quero mesmo atuar.

Vai mesmo processar o Estado?

Fiquei traumatizado com o que aconteceu. Mas o erro já está sendo reparado. Já entreguei a documentação para o meu advogado dar entrada no processo contra o Estado, e isso deve acontecer em 15 dias.

Quais seus planos para o futuro?

Aprendi que o futuro a Deus pertence. Um dia estava voltando do trabalho, no outro fui preso e no outro todo mundo estava querendo falar comigo. Queria que as pessoas me conhecessem pelo meu trabalho, não só pelo que aconteceu comigo. Como se eu tivesse conseguido algo só por causa dessa história.