Foto: Mauro Horita

O último abraço na filha foi no dia 2 de janeiro. Com a torcida de seu Antonio e cheia de esperança, Lais Souza partiu para os Estados Unidos. Tinha pela frente três etapas da Copa do Mundo que poderiam dar a tão sonhada vaga nos Jogos de Inverno de Sochi. 

E ela veio, para orgulho de toda a família. Lais estaria pela terceira vez em solo olímpico. Não mais como ginasta, mas como esquiadora. 

A preparação continuava em Utah. Até que no dia 27, em uma de suas últimas descidas na pista de esqui de Salt Lake City, um choque com uma árvore provocou uma lesão na terceira vértebra de sua coluna cervical. Situação grave, com necessidade de cirurgia e risco de morte. 

Quando o telefone tocou em Ribeirão Preto, o pai não imaginava que o quadro fosse esse. A situação só ficou clara depois que dona Odete pegou o avião para acompanhar de perto o tratamento da filha. Desde então, dia sim, dia não, telefona para dar notícias. As últimas deixaram os familiares otimistas. Lais já consegue respirar sem a ajuda de aparelhos, não precisa mais do tubo de alimentação no estômago e deixou a UTI.

- Nossa, Senhora! Fiquei muito feliz! É um momento de agradecer as orações de todo mundo. Foi uma felicidade ver que ela já consegue respirar sem aparelhos e também começa a comer e pode falar. Ela está mais animada. Fizeram alguns testes no pulmão e os médicos ficaram bem otimistas. Tem um exercício de respiração que tem que cantar frases de músicas. Os movimentos dos braços e pernas ainda não voltaram, mas ela sente sensibilidade em algumas partes e há progressos todos os dias. No dia do acidente foi um susto danado. A gente só não entrou em desespero porque não tinha noção da real situação. Depois veio a fase mais crítica, de lutar pela própria vida e agora as recuperações. A gente fica mais tranquilo quando a notícia que chega é melhor do que a anterior. Deixa a gente otimista - disse seu Antonio.

De longe, ele tenta manter a rotina. O trabalho ajuda a distrair um pouco a cabeça e a fé a passar pelo momento difícil. A mesma mostrada pela filha, que surpreende os médicos com a força mental, o bom humor e a paciência para vencer a fase aguda da lesão. 

- Ela tem a cabeça muito tranquila e no lugar. Não se desespera por qualquer coisa. E isso ela foi adquirindo ao longo da vida porque saiu de casa com 12 anos. A família é toda apegada na fé em Jesus e em todos os santos que a ajudam. Também acreditamos no organismo dela e que vai conseguir se recuperar. 

Por enquanto, seu Antonio ainda não teve a oportunidade de ouvir a voz da filha. As notícias são passadas pela mãe de Lais. Na semana passada, ao ver Josi Santos completar seus dois saltos em Sochi, ir às lágrimas e fazer o "L" com a mão para homenagear a amiga, o pai da ex-ginasta se emocionou. 

- Lais ficou sabendo na mesma hora e eu senti a força de uma com a outra. Elas têm cumplicidade. Treinavam juntas, moravam juntas, saíam juntas. Josi é como um membro da nossa família.  

Depois do debut olímpico, a esquiadora pretende renovar o visto americano para poder acompanhar de perto o tratamento da amiga. Tem a esperança de vê-la de pé novamente. 

O médico do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Antonio Marttos Jr, comemora a evolução do quadro e a primeira vitória de Lais: não depender mais da ventilação mecânica para respirar. Com relação à parte motora, ele considera muito cedo para fazer qualquer prognóstico. A previsão é que Lais permaneça no Jackson Memorial Hospital, em Miami, pelo tempo necessário até que se encontre em condições de retornar sem riscos ao Brasil.