Com moradia e apoio do Estado para produzir, comunidade negra Chácara Buriti ganha Selo Quilombos do Brasil
Estado - Ações Públicas - Conquista Quilombola
Foto: Rachid Waqued
Localizada a 25 quilômetros de Campo Grande, a comunidade quilombola Chácara Buriti comemora uma conquista junto ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) – o Selo Quilombos do Brasil. É a primeira comunidade negra do país que recebe um selo que tem como objetivo identificar seus produtos junto aos mercados privados e institucionais.
Esta permissão do uso Selo Quilombos do Brasil foi publicada no Diário Oficial da União da última quarta-feira (13). Conforme o Ministério do Desenvolvimento Agrário é uma ação articulada entre o próprio MDA, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir) e a Fundação Palmares. O Selo Quilombos do Brasil serve como certificado de origem e identidade cultural para os produtos de procedência quilombola.
“As pessoas consomem e às vezes uma ou outra sabe de onde vem este produto. Com o selo todas vão saber que saiu daqui de dentro da comunidade negra Chácara Buriti. Ajuda no desenvolvimento da comunidade e dos produtores”, comemora a presidente da comunidade Chácara Buriti, Lucinéia de Jesus Domingos Gabilão.
A comunidade atualmente formada por 27 famílias tem como carro chefe a produção de hortaliças (alface, salsinha, cebolinha, coentro, rúcula, repolho, almeirão), além do pimentão, tomate, berinjela, milho, mandioca e quiabo. São pelo menos oito grandes hortas que somam quase 16 hectares. A área total da comunidade é de 43 hectares.
Parceria para morar e produzir
A conquista deste selo, como explica Lucinéia de Jesus Domingos Gabilão, é resultado das diversas parcerias firmadas ao longo de oito anos. Um dos incentivos partiu do governo do Estado com trabalho voltado para a habitação rural.
A fixação do homem no campo, reduzindo o êxodo rural foi garantida naquela comunidade a partir do ano de 2008, quando a Agência de Habitação e das Cidades (Agehab), construiu 15 casas e já no ano de 2009 mais 11 unidades.
O governador André Puccinelli garantiu no mês de maio deste ano a construção de outras 36 casas quilombolas. O projeto está em fase de análise.
“Antes as casas eram de madeira e estavam caindo. O governo do Estado teve essa visão de olhar para as comunidades quilombolas e melhorar a qualidade de vida. Se você mora bem sua autoestima melhora. Com a construção das casas as pessoas que moravam na cidade voltaram para cá. No início eram 11 e hoje já estamos com 27 famílias”, comentou Lucinéia.
Esta política habitacional já garantiu desde o ano de 2008 até agora um total de 559 unidades habitacionais (entre obras entregues e com projetos garantidos) nas diversas comunidades quilombolas localizadas na Capital e no interior do Estado. Os investimentos são da ordem de R$ 2,4 milhões do Estado e R$ 9,3 milhões do governo federal.
Aliada à política habitacional do Estado, a Agência Estadual de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer) também contribuiu para o início da produção rural naquela comunidade.
De acordo com o engenheiro agrônomo da Agraer Altair Luiz da Silva, por meio de uma chamada pública do MDA, a Agraer elaborou uma proposta de trabalho e foi contemplada. Entre os anos de 2011 e 2012 realizou junto a três comunidades quilombolas um plano de desenvolvimento.
“Visitamos cada comunidade e fizemos cursos. Neste plano mostramos qual seria a produção ideal para cada uma delas e a melhor forma de manejo”, informou.
Com a produção veio também a necessidade de elaboração de projetos de crédito rural. “Não era meta do plano de desenvolvimento, mas surgiu com a demanda. Fizemos mais de 50 projetos só lá na comunidade”, diz Altair Luiz da Silva.
Produção social
Atualmente a produção da Chácara Buriti é comercializada por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do Ministério do Desenvolvimento Agrário, em mercados de Campo Grande e em fazendas da região. Há três anos, o alimento também chega à mesa de entidades filantrópicas, entre outras instituições mantidas pela prefeitura municipal, através do banco de alimentos do município. Esta parceria social deverá ser renovada em breve.
No ano de 2012, as vendas dos produtos totalizaram R$ 105 mil, superadas neste ano com a comercialização de R$ 408,1 mil. Cada produtor pode vender até R$ 4,8 mil ao ano.
Com um sistema de abastecimento de água e por estar localizada mais próxima ao asfalto e a 25 quilômetros da cidade, a produção e venda dos alimentos da Chácara Buriti ganha força. “Por semana a gente consegue tirar 650 caixas de alimentos no geral. Só para atender o programa Mesa Brasil, são 400 caixas”, salienta a presidente da comunidade. Em uma das hortas que cuida, Lucinéia explica que para dar conta da demanda da alface, por exemplo, as famílias plantam dois canteiros por semana.
Nesta semana da consciência negra, a presidente da comunidade diz que só por esse resultado há muito que comemorar. “Mesmo se não conseguisse este selo Quilombos do Brasil a gente tem o que comemorar. É só ver lá no início para saber o tanto que já progredimos. Já melhorou muito, mas precisamos mais”, conclui, destacando a importância dos parceiros como o Incra, a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e a Coordenação Nacional de Quilombos (Conaq).
Autoestima e valorização
Na horta do seu Jair Vicente, de 57 anos é possível encontrar alface, couve, rúcula, milho e abobrinha. Por semana, ele e a família recolhem 50 caixas de produtos para comercializar. A tranquilidade em produzir chegou com as capacitações que recebeu da Agraer. “Trabalhei lá fora há muitos anos e hoje tenho o privilégio de dizer que o que eu produzo ajuda a matar a fome de muitos brasileiros. Antes a gente não conseguia produzir e com as informações, como por exemplo, de saber a semente ideal, hoje nos ajuda muito”, afirma.
É na própria comunidade que Jair mora, produz e comercializa seus produtos. A família também está reunida porque os filhos dele receberam moradias construídas pelo Estado. “Para mim é uma satisfação. Daqui dá para sustentar a família”, salienta.
A notícia de que a comunidade é a primeira a receber um selo que identifica seus produtos alegrou Denilza da Silva Rosa, de 27 anos. “Elevou muito a nossa autoestima. Tenho orgulho de ser quilombola. Esse selo só vem valorizar os produtores”, comemora.
De segunda a sexta-feira, Denilza comparece pelo menos quatro vezes à horta. O ofício que começou há oito anos só melhorou com o passar do tempo e hoje é garantia de um salário no fim do mês. “A gente trabalha e sabe que no fim do mês vai comprar alguma coisa para você e seu filho. No começo foi tudo difícil e hoje sei tudo e mais um pouco”, brinca, fazendo questão de dizer que ela mesma planta e colhe a alface.
Bianca de Freitas Caruso/Notícias MS/JE
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