Polícia Federal faz buscas em endereços de Roberto Jefferson, Luciano Hang e blogueiros
Brasil - Ações Policiais - Fakenews
Operação faz parte do inquérito que investiga produção de notícias falsas. Alvos são aliados do presidente Jair Bolsonaro; ministro do STF determinou ainda depoimentos de deputados.
(Foto: Marcelo Camargo)
A Polícia Federal realizou buscas e apreensões nesta quinta-feira (27) no âmbito do inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que apura produção de informações falsas e ameaças à Corte -- conhecido como "inquérito das fake news".
Entre os alvos estão o ex-deputado federal Roberto Jefferson; o empresário Luciano Hang, dono da Havan; os blogueiros Allan dos Santos e Winston Lima. Eles são aliados do presidente Jair Bolsonaro.
As medidas foram autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.
As buscas com relação a Jefferson foram realizadas em dois endereços dele: um na cidade de Comendador Levy Gasparian e outro em Petrópolis (ambas no Rio de Janeiro).
Hang teve buscas em dois endereços em Brusque e um em Balneário Camboriú, em Santa Catarina.
Além desses dois estados, mandados foram cumpridos em São Paulo, no Mato Grosso, no Paraná e no Distrito Federal.
Ao todo, a operação tem 29 mandados de busca e apreensão.
Os alvos dos mandados são:
- Luciano Hang, empresário (SC)
- Roberto Jefferson, ex-deputado federal (RJ)
- Allan dos Santos, blogueiro (DF)
- Sara Winter, blogueira (DF)
- Winston Lima, blogueiro (DF)
- Edgard Corona, empresário (SP)
- Edson Pires Salomão (SP)
- Enzo Leonardo Suzi (SP)
- Marcos Bellizia (SP)
- Otavio Fakhoury (SP)
- Rafael Moreno (SP)
- Rodrigo Barbosa Ribeiro (SP)
- Paulo Gonçalves Bezerra (RJ)
- Reynaldo Bianchi Júnior (RJ)
- Bernardo Kuster (PR)
- Eduardo Fabris Portella (PR)
- Marcelo Stachin (MT)
Ao longo das investigações, laudos técnicos demonstraram que um grupo produz e dissemina as informações falsas, sempre com o mesmo padrão. Foram identificados pelo menos quatro financiadores desse grupo.
Ao todo, as investigações já identificaram ao menos 12 perfis em redes sociais que atuam na disseminação de informações, de forma padronizada, contra ministros do tribunal.
Isso significa, por exemplo, que esses perfis encaminham o mesmo tipo de mensagem, da mesma forma, na mesma periodicidade. Técnicos cruzam informações para tentar localizar financiadores desses perfis.
Deputados que serão ouvidos
O ministro Moraes determinou ainda que deputados deverão ser ouvidos no inquérito em até 10 dias. Eles não foram alvos de mandados nesta quarta. São eles:
Deputados federais
- Bia Kicis (PSL-DF)
- Carla Zambelli (PSL-SP)
- Daniel Silveira (PSL-RJ)
- Filipe Barros (PSL-PR)
- Junio Amaral (PSL-MG)
- Luiz Phillipe de Orleans e Bragança (PSL-SP)
Deputados estaduais
- Douglas Garcia (PSL-SP)
- Gil Diniz (PSL-SP)
Delegados mantidos
Em 24 de abril, dois dias depois de Bolsonaro trocar o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Moraes determinou que os delegados responsáveis pelo inquérito fossem mantidos, mesmo com as mudanças na chefia da corporação.
Na prática, a decisão de Moraes tinha o objetivo de blindar as investigações contra interferências.
O inquérito foi aberto em março de 2019 e terminaria em junho deste ano, mas pode ser prorrogado.
Manifestações dos investigados
Allan Santos
Ao G1, Allan Santos disse: "É incrível, não tem nenhum trabalho sendo feito com membros do PCC, com membros do MST, com jornalistas que criticam ministros do STF, sobretudo nesse inquérito inconstitucional. Inquérito esse que meus advogados até agora não têm acesso aos autos. [...] Hoje sou eu, amanhã são vocês, jornalistas. [...] Vai ser patético para a Suprema Corte inteira. Vão revirar todos os documentos do Imprensa Livre. Vão ver que a gente vive de todos os produtos que a gente vende".
Luciano Hang
Em nota, Luciano Hang disse que tem a consciência tranquila de que jamais atentou contra os ministros do STF ou contra a instituição. "Nada tenho a esconder, uma vez que tudo o que falo está nas minhas redes sociais e é de conhecimento público."
Roberto Jefferson
Pelas redes sociais, o ex-deputado federal se manifestou chamando de "atitude soez, covarde, canalha e intimidatória" os mandados de busca e apreensão expedidos por Moraes.
"TRIBUNAL DO REICH. Instituído por Hitler,após o incêndio do Parlamento, aquele tribunal escreveu as páginas mais negras da justiça alemã, perseguindo os adversários do nazismo. Hoje o STF, no Brasil, repete aquela horripilante história. Acordei às 6 horas com a PF em meu lar", escreveu Roberto Jefferson.
Reynaldo Bianchi Júnior
Em uma rede social, Biannchi divulgou um vídeo mostrando a presença dos agentes da PF na sua residência. "Querem me calar? Não sou o Lula e não tenho medo de policiais, sou homem honesto e Íntegro", escreveu.
"Sem vitimação, acabei de operar a próstata e ainda estou com sonda urinária, mas caguei pra isso! Se estão usando a PF pra me calar, quer dizer que eles estão com medo! Eu estou com DEUS! Obrigado pela força de TODOS!", adicionou.
Rodrigo Barbosa Ribeiro
Em transmissão ao vivo em uma rede social, Ribeiro disse: "Quem me conhece e sabe como atuo, sabe do meu ativismo político e da liberdade que prego. Foi constrangedor receber a PF enquanto ainda estava deitado, minha irmã ficou constrangida. Ninguém espera, ainda mais quando é de alguém que não deve nada. Fico triste ao saber que minhas opiniões foram motivo de intervenção. É triste saber que você não pode ter uma opinião que desagrade o ministro do STF. [...] Eu peço que as pessoas entendam o que está acontecendo no Brasil. Não se trata de disseminação de fake news, de disseminação do ódio, da violência. Se trata de luta pela liberdade. Essas pessoas que foram vítimas de mandados de busca e apreensão, que eu conheço, a maioria delas estão lutando por uma coisa, pela sua liberdade, pelo seu direito como cidadão".
Winston Lima
Em uma rede social, Winston Lima afirmou que recebeu "visita da Polícia Federal, que procedeu uma busca e apreensão de computadores e celulares" em sua casa, mas que não foi informado do motivo.
O G1 busca contato com os demais alvos da operação.
G1
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